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Da novela à vida real, com história de falso fundo de investimento

Nos últimos dias, o Valor vem recebendo uma série de e-mails de investidores ansiosos por justiça. Eles foram vítimas de golpes financeiros e se identificaram com a situação vivida pelos personagens da novela das nove, “Insensato Coração”, em que o vilão Léo (Gabriel Braga Nunes) se une a Cortez (Herson Capri), um banqueiro corrupto, para criar um fundo pretensamente destinado a investir em energia eólica, captar R$ 200 milhões dos clientes e sumir com o dinheiro. “Acho que a novela mexeu com a parte emocional de muita gente, porque tem um caso bem parecido”, afirma o administrador de empresas Leopoldo Pereira.

Pereira foi uma das vítimas da Dinero Consultoria, que arrecadou cerca de R$ 20 milhões de centenas de investidores para aplicar em projetos e fechou em outubro do ano passado. Os problemas com a Dinero se somam a outros casos de empresas que prometiam ganhos astronômicos aos investidores e quebraram, como Boi Gordo, Gallus, Avestruz Master, Agente BR e Firv.

Somados, esses esquemas provocaram prejuízo em torno de R$ 4 bilhões – R$ 2,5 bilhões só da Boi Gordo, R$ 1 bilhão da Avestruz Master e R$ 200 milhões da Gallus. Nos casos mais recentes – Agente BR e Dinero, em São Paulo, e Firv, em Minas, além de outros menores -, o valor supera R$ 200 milhões. Recentemente, um fundo de recebíveis que prometia ganhos extraordinários causou prejuízos a um grupo de executivos do mercado financeiro paulistano, mostrando que não são só pessoas comuns que estão sujeitas a perdas.

Pereira arca até hoje com as parcelas do empréstimo que precisou fazer para pagar uma cirurgia estética para a irmã, que havia também aplicado recursos na Dinero por recomendação dele. Gradativamente, o administrador chegou a investir R$ 170 mil na consultoria, conseguiu resgatar uma parte, mas, entre resgates e aplicações, está sem ver a cor de R$ 86 mil, sem contar juros. “Só agora estou começando a reorganizar a minha vida”, diz.

Um ano após a publicação da primeira reportagem do Valor sobre a Dinero, que oferecia aplicações financeiras de maneira irregular, o que se vê é um rastro de sonhos desfeitos. Frustrados ficaram o desejo da compra de um apartamento, o de uma viagem internacional ou o de um tratamento de saúde para o filho no exterior. Muitos aplicaram todas as suas economias ou mesmo fizeram dívidas para investir e há até casos de pessoas que estariam passando por dificuldades financeiras.

Com um escritório situado na Avenida Paulista, a Dinero Consultoria dizia atuar em diversas áreas como agronegócio, imóveis, commodities, energia renovável, importação e distribuição de produtos. A empresa fechava um contrato de mútuo com os aplicadores – um empréstimo -, para aplicar os recursos em projetos. O dinheiro dos clientes, a exemplo de outros esquemas, era remunerado a uma taxa bastante elevada, equivalente a 100% da variação do CDI mais “bonificação”, de acordo com os resultados dos projetos. A aplicação, segundo investidores, nunca dava prejuízo e a rentabilidade sempre ficava acima de 4% ao mês. Em alguns momentos, o investimento teria chegado a render até a 7% quando os juros básicos da economia mal chegavam a 1% ao mês.

O problema é que, conforme mostrou o Valor em julho do ano passado, para realizar esse tipo de operação, a empresa precisaria de autorização como instituição financeira, o que não existia. Meses depois, em setembro, a empresa parou de pagar os resgates e, desde novembro, o sócio majoritário da Dinero, Wagner de Aguiar Moraes, simplesmente desapareceu. O telefone foi desligado e o site da instituição saiu do ar por falta de pagamento ao provedor.

No caso da Dinero, assim como ocorreu com a Agente BR, a Polícia Federal instaurou inquérito, que corre em sigilo, a pedido do Ministério Público de São Paulo. E embora seja recorrente a reclamação dos investidores da Dinero de que nada está sendo feito, Rodrigo Sanfurgo, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, garante que todas as medidas estão sendo tomadas com o objetivo de terminar a investigação o mais rápido possível, até para que a Justiça possa responsabilizar os possíveis culpados. “É interesse da Polícia Federal terminar esse caso”, afirma Sanfurgo. “Todos os esforços estão sendo feitos para que o caso seja solucionado; as informações estão chegando e os dados estão sendo cruzados.”

Para Sanfurgo, o fato de o inquérito seguir em sigilo pode dar a sensação aos investidores de que nada está sendo feito. “Mas muitas vítimas já foram ouvidas, prestaram esclarecimentos”, diz ele, lembrando que certa vez dois delegados foram designados a ouvir as pessoas. “O mercado financeiro é por demais complexo, mas o caso não está numa gaveta ou numa pilha”, afirma. Segundo ele, pelo menos 450 pessoas foram lesadas pela Dinero, num prejuízo que ultrapassa os R$ 23 milhões.

Por isso, buscar informações junto aos órgãos reguladores – como a Comissão de Valores Mobliários (CVM) e Banco Central (BC) – sobre a instituição na qual o investidor pretende aplicar é importante. O fundador da Dinero, Wagner de Aguiar Moraes, era executivo de uma empresa de telefonia quando começou a fazer alguns investimentos em bolsa e, segundo contam os colegas, gabava-se de obter grandes retornos.

O sucesso levou-o a operar para alguns colegas de trabalho e, mais tarde, ele montou dois clubes de investimento, batizados de Axt BV e Axt MF, com direito a site na internet para informar os investidores sobre o desempenho das aplicações. E chamou o irmão, Alexandre de Aguiar Moraes, e dois colegas de trabalho, Wanderley Dias Bertolucci e Marcelo Costa Rocha, para ajudar.

Os pretensos clubes, no entanto, não possuíam registro na Bovespa e ninguém era autorizado pela CVM a fazer gestão de recursos. Tanto que, em 14 de abril de 2009, a autarquia encaminhou aviso ao mercado alertando que Moraes e seus colegas estavam oferecendo cotas de clubes de maneira irregular. Os clubes, então, foram fechados, mas, em outubro daquele ano, ele criou a Dinero. Os recursos, então, foram transferidos para a nova empresa.

O sonho de Laudejor Coutinho de levar o filho para um tratamento de saúde nos Estados Unidos teve de ser adiado. Após pouco mais de 11 anos trabalhando numa empresa de telefonia, ele foi demitido e colocou os R$ 182,5 mil que recebeu na Dinero. “Não consegui levar o meu filho para fora para fazer o tratamento e estou até agora tentando ajeitar a minha vida financeira”, lamenta ele.

Valor tentou por diversas vezes contato com Wagner Moraes ou com algum representante do empresário, mas não teve sucesso.

De todos os casos citados, apenas os responsáveis pela Gallus e pela Firv acabaram presos. O dono da Avestruz Master morreu. E a falência da Boi Gordo se arrasta na Justiça.

Fonte: Luciana Monteiro, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.