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Crise dos bancos abre espaço para novos ‘emprestadores’

Imaginar um mundo sem bancos pode ser o sonho dos populistas. Mas para alguns isso é uma grande oportunidade.

Os bancos da Europa, arruinados pelos ativos problemáticos e lutando contra regras que pretendem fazê-los reforçar suas reservas de capital, vêm encolhendo os balanços e desacelerando os novos empréstimos. À medida que esses bancos se afastam de seu papel tradicional de criadores de crédito, novos participantes afirmam estar ocupando esse espaço.

“Após 2008, os balanços enfraquecidos, os problemas de risco soberano e o maior aperto regulador tiveram um impacto significativo sobre a capacidade dos bancos de emprestar dinheiro”, afirma Anthony Fobel, o novo diretor de empréstimos privados da BlueBay Asset Management.

Esta semana, a BlueBay anunciou uma incursão no mundo dos empréstimos corporativos para pequenas e médias empresas na Europa. O objetivo, segundo Fobel, é repor em parte a carência de empréstimos deixada pelos bancos que enfrentam problemas, gerando, ao mesmo tempo, um retorno maior para os investidores institucionais da BlueBay.

A BlueBay não está sozinha. A M&G Investments, uma das maiores gestoras de fundos de bônus da Europa, lançou um fundo há dois anos que já concedeu cerca de 650 milhões de libras em crédito para empresas de médio porte do Reino Unido. A Babson Capital pretende listar um fundo de 125 milhões de libras para acelerar empréstimos a grupos privados da Europa e Estados Unidos.

Num esforço para ajudar a estimular as economias da Europa, os governos deram início a iniciativas próprias para aumentar o crédito a empresas, especialmente as pequenas e médias, alijadas do mercado de títulos de dívida. Os grupos maiores estão conseguindo recorrer aos investidores por meio de bônus, tendo captado mais de US$ 298 bilhões no ano – e alguns deles estão até mesmo conseguindo recorrer ao mercado de colocações privadas dos Estados Unidos.

Kian Abouhossein, analista do J.P. Morgan, sugere que os bancos europeus poderão encolher suas carteiras de empréstimos corporativos em um total de €519 bilhões, como uma resposta extrema à regulamentação vindoura, que exigirá deles a manutenção de um volume maior de ativos de liquidez. Os empréstimos corporativos comuns geram um retorno sobre o patrimônio de apenas 7%, diz ele, o que significa que eles podem ser mais facilmente descartados que outras atividades. Mas ele observa que os bancos podem continuar emprestando para seus maiores clientes.

“Os bancos vão prestar mais atenção aos tipos de relações que eles têm com os clientes”, observa Abouhossein. “As companhias menores, que não geram tanta receita com outras atividades, como banco de investimento e hedge cambial, poderão ser descartadas.”

Os bancos respondem por 70% dos empréstimos corporativos na Europa, segundo o J.P. Morgan. Nos Estados Unidos, onde os mercados de capitais e emprestadores não tradicionais já têm um papel maior, esse índice é de 40%.

“Esperamos ver um aumento substancial do crédito não bancário”, diz Simon Gleeson, sócio da firma de advocacia Clifford Chance de Londres. “Grande parte disso virá dos conglomerados mais fortes. Muitas pequenas e médias empresas são parte da cadeia de fornecimento de alguma outra.”

Analistas observam que as taxas de empréstimos eram muito baixas no passado, com os bancos capazes de oferecer empréstimos baratos porque os custos de suas próprias dívidas se beneficiavam de uma garantia implícita do governo – isto é, de que os detentores de bônus de bancos seriam socorridos. Isso está mudando, elevando os custos dos financiamentos para os bancos e corroendo suas margens.

Mas a mudança em direção aos empréstimos securitizados alude a uma crise mais existencial para os bancos. Os grandes investidores podem escolher bancar as instituições financeiras ou desintermediá-las completamente, ampliando suas próprias linhas de crédito ou escolhendo bem os melhores ativos dos bancos. “Preferimos comprar ativos desligados dos bancos ou substituí-los totalmente”, diz Richard Ryan, diretor de renda fixa da M&G. “É melhor que financiá-los diretamente.”

Outros afirmam que os bancos são uma parte indispensável do sistema financeiro. “Há uma tendência clara em direção a uma maior diversificação dos financiamentos”, afirma Christian Savvides, do Rothschild. “Isso irá, sem dúvida, mudar a natureza de algumas relações bancárias, mas eles ainda continuarão sendo importantes. Além de coordenar emissões de dívida, há muitos outros produtos e serviços que o mercado de capital não pode substituir.”

Alguns profissionais apostam que os mercados de capitais e os novos emprestadores privados não conseguirão compensar os trilhões de dólares em crédito concedidos pelos bancos antes da crise financeira. A relação média de alavancagem dos bancos britânicos caiu para 20 vezes o capital, ante 50 vezes antes da crise.

“Tudo é cíclico”, observa Fobel da BLueBay. “Os bancos em algum momento retornarão, mas a questão é quanto tempo isso vai demorar.”

Fonte: Tracy Alloway e Robin Wigglesworth, Financial Times, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.