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Lava Jato e Mariana incentivaram investimento em gestão de crise no Brasil

Acontecimentos como as operações Lava Jato e Carne Fraca e o rompimento da barragem de Fundão colocaram em xeque a reputação de grandes empresas perante o público. O impacto é ainda maior naquelas que se tornam conhecidas nacionalmente de repente e devido a um escândalo. Mas, segundo especialistas, esses episódios têm acendido o alerta para que as companhias se preocupem em preparar planos eficazes de gestão de crise. O resultado, segundo os analistas ouvidos pelo Estado, é uma melhora na postura das companhias envolvidas em polêmicas.

O aumento da preocupação das companhias em desenvolver um plano sólido de gerenciamento de crise ficou evidenciado na pesquisa “A gestão de riscos na América Latina”, realizada pela consultoria Marsh. Ao avaliar o comportamento de 330 empresas de dez países latinos com faturamento entre US$ 5 milhões e US$ 500 milhões, o estudo mostrou que em 2015 apenas 36% delas tinha um manual de crise a ser seguido. Em 2016, esse número saltou para 52%.

Mesmo que a pesquisa não tenha um recorte exclusivo do Brasil, especialistas acreditam que as empresas nacionais estão cada vez mais preparadas. Mas, até chegar a esse patamar, algumas companhias tiveram suas reputações arrasadas e ainda estão lutando para recuperar sua imagem, principalmente aquelas que não eram conhecidas fora dos ramos em que atuam. Foram os casos da Samarco e da Odebrecht, por exemplo.

Resultado de imagem para samarco em marianaA ferramenta Google Insights, que mede a popularidade de termos buscados no Google, mostra que, até o rompimento da barragem, as buscas pelo nome da mineradora eram de no máximo 9 pontos numa escala de 0 a 100. Após a crise, a procura atingiu o pico de 100 pontos e a média cresceu. O mesmo aconteceu com a empreiteira, que entre abril de 2012 e junho de 2015 tinha buscas de no máximo 20 pontos e, a partir daí, viu as pesquisas aumentarem até atingirem o pico de 100 pontos em março de 2016, com a condenação de Marcelo Odebrecht.
A reação negativa do público nesses casos é muito mais notório do que a observada nas investigações envolvendo BRF, JBS e Petrobrás – marcas que já eram conhecidos e respeitados antes das operações Carne Fraca e Lava Jato. Uma evidência disso é que, comparando as principais buscas relacionadas à Petrobrás e à Odebrecht no Google Insights, as da estatal registravam palavras como “concurso”, “ações” e “estagiário”, enquanto na empreiteira apareciam termos como “lista”, “delação” e “Marcelo”.

Outro fato que pode indicar que a Petrobrás não sofreu tantos danos à sua imagem com a operação é sua presença constante da estatal no ranking de “Empresa dos Sonhos” realizado pelo Grupo DMRH e pela Nextview. Entre 2009 e 2015, a petrolífera sempre esteve na primeira ou segunda posição da lista. Na pesquisa de 2016, ela aparece entre as 10 primeiras colocadas do ranking tanto dos jovens – na segunda colocação -, quanto na dos profissionais de média gestão e alta liderança – em sétimo e nono lugar, respectivamente. Em 2016, a Odebrecht só apareceu na lista dos mais jovens, na sexta posição.

“A Petrobrás tem uma conexão com as pessoas. Elas já tinham uma visão positiva dela antes da crise”, explica Marcos Figueira, professor da Fundação Getúlio Vargas. “E isso mostra que o gerenciamento começa muito antes do episódio acontecer. Uma companhia precisa cuidar da sua imagem desde sempre, porque quando acontecer algo, ela já estará numa posição melhor, mais blindada”.

A construção dessa imagem, segundo os analistas, acontece a cada contato que a marca tem com o público, seja através de ações ou do próprio lançamento de produtos ou serviços novos.

“Nomes como Sadia e Seara estão sempre falando com o consumidor. A cada novidade, lançamento e propaganda que elas estabelecem com o seu mercado, ela soma pontos com o público. Então, quando uma empresa assim comete um erro e se posiciona corretamente, ela é mais facilmente desculpada”, explica Jaime Troiano,  presidente da TroianoBranding, consultoria especializada em gestão de marcas.

Resposta. Mesmo que as pessoas estejam familiarizadas com a empresa, a resposta certa em uma situação de crise é fundamental. Daniella Bianchi, diretora geral da consultoria Interbrand, explica que devem ser levados em consideração cinco pontos fundamentais: agilidade, transparência, consistência, foco e atitude. E, segundo os analistas, a postura dos frigoríficos durante a Operação Carne Fraca aconteceu da maneira correta e mostra que companhias brasileiras estão amadurecendo nesse quesito.

No mesmo dia em que a operação foi deflagrada, as companhias emitiram propagandas e comunicados em que afirmaram que iriam colaborar com as investigações para detectar irregularidades e reforçaram sua preocupação com a qualidade dos alimentos que produzem. A rapidez no posicionamento, segundo os especialistas, é um dos principais pontos que as empresas devem considerar ao lidar com uma crise.

“Quando acontece uma crise, as empresas se lembram de casos em que houve demora e ocultação das respostas e agem rapidamente. Assumindo logo o que aconteceu, a empresa ganha em respeitabilidade e demonstra transparência”, afirma Troiano. O especialista lembra que, no caso do rompimento da barragem de Fundão, a Samarco não foi tão rápida e eficiente na resposta, o que atrapalhou o gerenciamento da crise.

Na ocasião, além de a empresa ter divulgado que duas barragens se romperam ao invés de uma, um dos diretores teria dito que “não era o caso de pedir desculpas à população” e o então presidente da companhia, Ricardo Vescovi, teria se esquivado das perguntas a respeito da responsabilidade da empresa e das ações que ela deveria pôr em prática.

A justificativa da mineradora é que a prioridade naquele momento era socorrer a população atingida. “Minha percepção é que no início, mais do que explicar ao público o que estava acontecendo e o que ia ser feito, os esforços da empresa estavam voltados em atender aquela comunidade que tinha sido impactada”, explica Rosangela Coelho, gerente geral de comunicação e relações institucionais da Samarco.

Ela conta que, após 40 dias desde o rompimento da barragem,  ela chegou para compor a comitiva montada para gerir aquela crise. “Antes, a comunicação era eficiente, mas só com os interessados. Quando a companhia passou a ser conhecida por todos, por causa do que aconteceu, estruturamos uma área de gestão de crise, com comunicação mais ativa e estratégias digitais, coisa que não tínhamos antes”, conta.

A gestão de crise da Odebrecht, que assim como a Samarco ganhou visibilidade nacional após um escândalo, dividiu a opinião dos analistas. Enquanto a veiculação do anúncio com o título “Desculpe, a Odebrecht errou” em referência às acusações de pagamento de propina foi avaliada como “transparente” e “a única resposta que poderia ser dada naquele momento”, a demora e a falta de detalhamento do que seria colocado em prática dali pra frente foram reprovadas.

“Eles precisariam ter dito mais coisas do que disseram. Teria que ser detalhado quais as medidas, qual o modelo de governança e como a empresa vai garantir que aconteça”, afirma Fernando Luzio, da Luzio Strategy Group, consultoria especializada em gestão de crise e governança corporativa.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empreiteira afirmou ao Estado que seus esforços neste momento são para mudar a atitude empresarial e fazer com que seus integrantes “incorporem melhores práticas de conformidade por convicção”. Para isso, os funcionários estão recebendo treinamento sobre a atuação ética, íntegra e transparente e o grupo criou um Conselho de Administração próprio para cada negócio, além de ter ampliado o número de conselheiros independentes.

Como responder a uma crise reputacional

Reposta rápida
  • Mesmo que a empresa ainda esteja apurando os acontecimentos, ela deve preparar uma reposta rápida para o público dizendo o que está sendo feito naquele momento
Comitê multidisciplinar
  • A companhia deve formar um comitê multidisciplinar para apurar os fatos e ajudar o CEO a tomar decisões
Plano de ação 
  • Assim que tiver mais informações, a empresa deve vir a público explicar com o maior número de detalhes possível o que será colocado em prática a partir dali
Porta-voz
  • A companhia deve ter um porta-voz bem treinado que consiga responder à imprensa com precisão e transparência
Periodicidade de informações
  • Mesmo após o primeiro impacto inicial, a empresa deve continuar em contato com o público, informando em qual estágio estão as ações anunciadas inicialmente

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.