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Gestão: Bancos minimizam o risco de seus ativos

Está se intensificando a preocupação de que os bancos da União Europeia e de outros países estejam promovendo pequenos ajustes improvisados em seus modelos internos, a fim de cumprir as novas exigências de capitalização, para fazer suas carteiras parecerem menos arriscadas.

Segundo as normas mundiais de Basileia 3, que serão introduzidas gradativamente a partir de agora até 2019, os bancos terão de deter capitalização de qualidade superior, equivalente a 7% de seus ativos, corrigidos por grau de risco. Os maiores bancos também serão atingidos por uma sobretaxa adicional de até 2,5% dos ativos. Os bancos da União Europeia, além disso, terão de alcançar um índice de capitalização de 9% no ano que vem, depois de descontadas suas carteiras de dívida soberana de alto risco.

Todos esses requisitos pretendem tornar os bancos mais resistentes a problemas ao obrigá-los a ter maior volume de capital para absorver prejuízos imprevistos. Mas os bancos, que se defrontam com mercados voláteis e baixos preços das ações, relutam em emitir papéis neste momento.

Nessas circunstâncias, muitos deles tentam, em vez disso, alcançar os índices exigidos com a redução do denominador da relação, por meio do que eles chamam de “otimização dos ativos ponderados por grau de risco”. Em alguns casos, isso significa vender ou reduzir o volume de ativos de risco, mas, em outros, significa modificar a maneira pela qual as ponderações de risco são calculadas para diminuir o volume de capital requerido.

Uma recente análise do Lloyds Banking Group pelo Morgan Stanley detectou que o banco reduziu significativamente a ponderação de risco de sua carteira de crédito imobiliário de varejo no exterior em 2010, o que levou a uma queda de 16 bilhões de libras em ativos ponderados por risco.

O Lloyds disse que seu programa de otimização inclui a venda e o esgotamento dos ativos, além de “obter a concordância da agência reguladora nacional para alterar os pesos de grau de risco de vários empréstimos, de maneira a reduzir o capital que terá de ser empenhado contra eles.”

O banco britânico acrescentou que a Autoridade de Serviços Financeiros do país é mais rígida para alterações de modelo do que as autoridades reguladoras do continente. “Este é um processo longo, rigoroso, particularmente demorado”, disse o órgão.

O Santander informou que implementa atualmente o processo de “otimização” de seus ativos ponderados por grau de risco, apesar das críticas de Alfredo Sáenz, seu principal executivo, aos “absurdos [cometidos] fora da Espanha”.

O maior banco da Espanha disse que está se concentrando na ponderação por grau de risco de determinados tipos de empréstimo, como linhas não utilizadas de crédito e de compromissos de concessão de empréstimos, bem como encolhendo sua demonstração de resultados por meio da baixa contábil sobre financiamentos não quitados.

O Commerzbank da Alemanha informou em seus resultados do terceiro trimestre que estaria obtendo a aprovação de novos modelos na esteira de sua fusão com o Dresdner, e que deverá ver benefícios em seus totais de ativos ponderados por grau de risco.

Parte dessas medidas de otimização é estimulada pelas autoridades reguladoras. Os bancos obtêm, na prática, uma suspensão temporária da ponderação de ativos por grau de risco quando mudam das velhas normas de Basileia 1 – que aplicam ponderações de risco padronizadas sobre o crédito, por categoria – para o sistema “baseado em classificações internas” que é o fundamento das regras de Basileia 2 e 3.

Segundo o sistema de classificação interna, os bancos criam modelos que preveem a probabilidade de um determinado empréstimo deixar de ser honrado e o provável prejuízo. Os números são então jogados em uma fórmula que atribui um peso por grau de risco. Em geral, o uso de classificações internas produz ponderações de risco mais baixas – e, portanto, exige menos capital – que o método padronizado, porque as autoridades reguladoras querem que os bancos montem bons modelos e melhorem a administração de risco.

O BBVA, segundo maior banco espanhol em ativos, vem migrando lentamente para o sistema de classificações internas desde 2008, e no ano passado obteve aprovação para a implementação de novos modelos. Por enquanto, o órgão regulador fixou um piso de ativos ponderados por grau de risco equivalente ao do método padronizado, mas o banco disse esperar que esse piso possa ser eliminado nos próximos meses, o que levará a uma queda em seu total de ativos ponderados por grau de risco. “O que o BBVA está fazendo é diminuindo a distância que o separa das práticas comuns em outros países da Europa”, disse o banco.

Mas há um segundo tipo de otimização que causa mais preocupações entre os reguladores. Quando os bancos criam modelos, as autoridades reguladoras os testam e aprovam apenas aqueles que geram probabilidades de inadimplência e prejuízos previstos maiores que a experiência da vida real.

Mas a atual recessão criou taxas menores de inadimplência sobre operações de crédito do que os desaquecimentos do passado – em parte porque as taxas de juros estão baixas -, por isso muitos modelos bancários estão produzindo atualmente resultados significativamente mais conservadores do que os da vida real.

Isso abre espaço para que os bancos façam pequenos ajustes em seus modelos, e alguns estão fazendo isso num esforço deliberado de reduzir suas exigências de capitalização, dizem participantes do setor.

Para coibir esses pequenos ajustes, a Autoridade Bancária Europeia recorreu a uma norma às vezes desprezada de que os ativos bancários ponderados por grau de risco não podem cair para um nível inferior a 80% do patamar em que estariam se regidos pelo método de Basileia 2.

Fonte: Brooke Masters, Patrick Jenkins e Miles Johnson, Financial Times, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

6 thoughts on “Gestão: Bancos minimizam o risco de seus ativos

  • Pablo

    Quando falamos de ponderaçao de risco de basileia quais os percentuais necessitam de mais atençao??

  • Como a basileia atinge as instituições financeiras, e como o principal produto é credito, tudo que for relacionado a credito e garantias, por isso é tão importante o critério de avaliação de garantias que pode reduzir o risco e consequentemente as ponderações de 100% para 50% ou 35% dependendo dos critério de garantias.

  • Celso

    Com relação a ponderação de riscos da Basileia, quais são os percentuais que necessitam de maior atenção no momento da liberação do crédito? Cite-os e comente o porque da necessidade desta avaliação.

  • Se não me engano, esta é uma pergunta de prova minha

  • Cibele

    Sr. Marcos,

    Como você entende que seja os principais desafios das instituicoes brasileiras na implementação da norma da Basileia? os funcionários destas isntituicoes tem alguma parcela significativa nesta implementação?
    Att.
    Cibele

  • Total, a alta administração pode querer, mas se os profissionais de suporte a gestão não se engajarem no processo, nada disso será possivel, pois cada um de nós temos a responsabilidade na gestão dos controles internos, compliance e riscos.

    Quanto maior a profissionalização dos colaboradores, maiores serão os resultados.

    Abraços,
    Marcos Assi

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