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Uma fraude que tapeou fundos de hedge

Scott Rothstein era um tipo especial de fraudador financeiro.

Ao contrário de Bernie Madoff ou de Allen Stanford, que atingiram principalmente investidores individuais, Rothstein, de 49 anos, sugou US$ 1 bilhão de investidores sofisticados — incluindo fundos de hedge de Nova York que empregavam a conhecida empresa de investigação Kroll e um inspetor dentro do escritório de advocacia de Rothstein, em Fort Lauderdale, no Estado da Flórida, de onde ele vendia acordos legais, ou “settlements”, com desconto, obtendo retornos anuais de até 437%. Infelizmente, os settlements não existiam.

Dois anos após o golpe de Rothstein ter entrado em colapso, a ação civil pública contra ele está apenas começando. O primeiro júri depois da bagunça indenizou em US$ 67 milhões um grupo de investidores que processou o banco TD Bank, alegando que os funcionários teriam colaborado na fraude de Rothstein. A unidade americana do Banco Toronto-Dominion vai recorrer, mas continua a ser um alvo endinheirado para as vítimas de Rothstein. A matriz canadense criou recentemente uma provisão de contingência de US$ 255 milhões. Há duas semanas, ela ofereceu US$ 170 milhões para fazer um acordo com outro grupo de vítimas de Rothstein. O banco se recusou a comentar sobre qualquer aspecto desta história.

Os outros alvos endinheirados nos processos de Rothstein são os fundos de hedge de Nova York. Compartilhando escritórios no 54o andar do prédio em cima da casa de concertos Carnegie Hall, os fundos — Platinum Partners Value Arbitrage Fund, Centurion Structured Growth e Level 3 Capital Fund — adiantaram cerca de US$ 440 milhões para Rothstein, a partir do início de 2008, e resgataram tudo, menos US$ 19 milhões, antes do advogado fugir em um jato particular para Marrocos em outubro de 2009. Depois de voltar, Rothstein se declarou culpado de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro.

Condenado a 50 anos de prisão e com US$ 1,2 bilhão apreendidos, Rothstein começou a cooperar com os promotores e com o administrador da massa falida da sua firma de advocacia. Em um depoimento em dezembro de 2011, Rothstein disse ter comprometido alguns funcionários de fundos de hedge com dinheiro, idas a clubes de striptease e serviços de acompanhantes. Ele também alegou que, para tirar o dinheiro deles do esquema, os fundos de hedge o ajudaram a atrair novos investidores, depois de suspeitarem que havia uma fraude e perceberem que Rothstein precisaria de dinheiro novo. O administrador da massa falida busca resgatar US$ 423 milhões dos três fundos de hedge e outros US$ 20 milhões diretamente de seus diretores.

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Os fundos de hedge afirmam terem sido vítimas inocentes de Rothstein e que não o recomendaram a outros depois que ele parou de pagar no prazo. Em documentos judiciais e em declarações feitas para este artigo, eles dizem que investiram em boa-fé, confiando nas visitas de auditorias que fizeram a Rothstein e aos banqueiros e advogados do TD Bank — que, dizem eles, falsamente afirmaram aos fundos que Rothstein teria o dinheiro dos “settlements”. “O que era inusitado sobre Rothstein”, disse o chefe do Platinum, Mark Nordlicht, em um e-mail, “era sua capacidade de mobilizar tantos outros para ajudá-lo em suas fraudes.”

As fraudes de Rothstein consistiam em oferecer investimentos que eram bons demais para serem verdade. Ele dizia a investidores que poderiam conseguir uma parte de um “settlement” confidencial em que os autores da ação estavam dispostos a aceitar montantes fixos drasticamente descontados. Os fundos do “settlement” estariam seguros em contas fiduciárias. Rothstein, ao contrário do que dizia, usava o dinheiro para desfrutar de uma vida digna de um astro do rock.

O esquema de Rothstein rendeu US$ 25 milhões até abril de 2008, quando ele começou a explorar os fundos de hedge de Nova York. O primeiro foi o Centurion, um fundo de crédito lançado em 2005 pelo investidor Murray Huberfeld. Com o sócio de longa data, David Bodner, Huberfeld foi chutado da indústria de corretagem após a prisão dos dois em 1990 pelo envio de impostores para fazerem a prova de licença para corretores. Eles desembolsaram US$ 4,6 milhões, em 1998, para fazer um acordo e encerrar um caso de fraude apresentado pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, sem admitir culpa.

Ainda assim, Huberfeld conquistou alguns fãs. Em 2008, o Centurion tinha algumas centenas de milhões de dólares sob gestão e uma alta classificação entre os fundos de hedge de renda fixa no relatório Barclay Managed Funds. Já o Platinum Partners Value Arbitrage ficou em 56o na pesquisa anual de desempenho de fundos de hedge do “Barron’s” em 2010 e em 16o em 2009. Ele registrou uma taxa de retorno composta de três anos de 14,58% até 2010.

O Centurion não emprestava diretamente para Rothstein, mas para um fundo alimentador chamado Banyon estabelecido por um empresário da Flórida chamado George Levin. O Banyon usou o dinheiro do Centurion para comprar o que ele achava serem “settlements” de Rothstein. Huberfeld insistiu que o dinheiro dos acordos fossem depositados em contas fiduciárias em um banco de sua escolha, o Commerce Bank, que mais tarde tornou-se parte do TD Bank. O Platinum e um fundo relacionado, o Level 3, entraram pouco depois.

Os fundos de hedge fizeram sua auditoria em conjunto. Embora os investigadores da Kroll não tenham percebido que o gerente do Banyon, Frank Preve, tinha uma condenação criminal por fraude bancária, eles avisaram que Rothstein parecia não ter acesso a centenas de milhões de dólares em “settlements” (uma denúncia de negligência subsequente do Platinum contra a Kroll foi arquivada por um juiz.) Os fundos de hedge contrataram Michael Szafranski, um contador de Miami que conhecia um executivo da Platinum, para verificar a papelada de Rothstein e as contas bancárias. O gerente de carteira do Centurion, Jack Simony, foi à Flórida para inspecionar as contas do TD Bank, enquanto o advogado do Centurion, Brian Jedwab, reuniu-se com quatro advogados que disseram que suas empresas estavam financiando “settlements” através de Rothstein. Os funcionários dos fundos de hedge disseram que foram convencidos.

Mas no depoimento de Rothstein em dezembro, ele disse que tinha subornado os quatro advogados para dizerem que haviam lhe repassado os “settlements”. Ele também alegou ter pagado uma propina de US$ 50.000 ao vice-presidente regional do TD Bank na época, Frank Spinosa, para falsificar registros bancários e convencer Szafranski, Simony e outros que Rothstein tinha centenas de milhões bloqueados em contas para o benefício dos investidores. Spinosa não foi acusado pelo Ministério Público, e seu advogado, Samuel J. Rabin, diz que o ex-banqueiro nunca mentiu, nem foi subornado.

O verificador dos fundos de hedge, Szafranski, “não era muito curioso”, disse Rothstein no depoimento. Szafranski conheceu um suposto banqueiro do TD Bank chamado “Ricardo Mejia” que na verdade era Steve Caputi, o gerente da boate de Rothstein, Café Iguana. Rothstein disse que, estranhamente, Szafranski depois se divertiu com Caputi — como Caputi — no café e em um clube de striptease chamado Solid Gold. O advogado de Szafranski não respondeu a perguntas. Rothstein alegou em seu depoimento que ele também pagou prostitutas para Simony, do Centurion, e para um funcionário do Platinum chamado Ari Vidro — alegações que Vidro e Simony negam.

No tribunal, os fundos de hedge afirmaram que foram enganados por Rothstein, até ele perder o prazo de um pagamento em abril de 2009. Uma análise contábil apresentada pelo administrador da massa falida de Rothstein em seu caso contra os fundos mostra que o investimento agregado dos fundos de hedge com Rothstein atingiu um pico de US$ 183 milhões, um pouco antes disso, em 2 de janeiro de 2009. O investimento líquido foi caindo à medida que o dinheiro ia sendo pago. No momento em que o esquema entrou em colapso, os fundos tinham um investimento líquido de apenas US$ 19 milhões. Enquanto o dinheiro dos fundos saía, um valor líquido de US$ 179 milhões entrou no esquema de Rothstein vindo de outros investidores.

*Este reportagem foi originalmente produzida pelo semanário ‘Barron’s’

Fonte: Bill Alpert, WSJ, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.