Temor de calotes derruba bancos na bolsa
Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – os quatro maiores bancos do país listados na bolsa de valores – perderam R$ 13,4 bilhões em valor de mercado ontem. Diante do temor dos investidores da proporção que os calotes podem tomar no Brasil, o setor bancário protagonizou uma das maiores quedas do Ibovespa, que encerrou o dia em baixa de 0,36%.
Logo no início do dia ontem, o alerta de Alfredo Egydio Setubal, vice-presidente do Itaú Unibanco, deixou os acionistas temerosos. Por causa da escalada da inadimplência, o banco deve registrar até o terceiro trimestre uma despesa com devedores duvidosos de pelo menos R$ 18,5 bilhões, com R$ 6 bilhões no segundo trimestre e outros R$ 6,5 bilhões de julho a setembro. Ao longo de 2011 inteiro, o banco registrou R$ 19,9 bilhões. Os papéis do Itaú Unibanco tiveram a maior baixa, caindo 5,88%, cotados a R$ 29,6. O banco perdeu R$ 6,8 bilhões em valor de mercado.
Um dia antes o Bradesco já tinha enfrentado, em menor proporção, problema semelhante. O Santander só mostra hoje seus números ao mercado, e o Banco do Brasil divulgará o balanço só depois do feriado, mas a reação dos acionistas já veio.
Em relatório, analistas do Deutsche Bank, afirmaram que o Itaú fez bem em controlar seus custos no trimestre, mas ainda há o problema da qualidade dos ativos. Na teleconferência, Alfredo Setubal admitiu que o pico do índice de inadimplência – que alcançou 5,1% entre janeiro e março, com aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao trimestre anterior – deve vir só em outubro. O número refere-se a atrasos superiores a 90 dias.
O tema da inadimplência foi a preocupação central dos analistas em repetidas – e insistentes – perguntas durante a teleconferência. Quando a inadimplência vai se estabilizar? Por que, ao contrário do Bradesco, o banco prevê que a inadimplência ainda vai subir? Esses eram os pontos que os analistas mais procuravam entender. Em algumas ocasiões, saíram sem resposta.
A escalada dos calotes, segundo Setubal, vem sendo mais percebida na instituição pelo fato de o Itaú ter a liderança da carteira de veículos no país, com R$ 59 bilhões. “Essa foi a modalidade que mais sentiu a inadimplência”, disse Setubal. “De fato, a deterioração foi maior do que a prevista. Mas já adotamos ações corretivas. Estamos mudando o nosso mix de empréstimos”, informou Setubal.
Outros bancos também caíram no pregão. Os papéis preferenciais do Bradesco perderam 2,58%, a R$ 29,85, e as ações ordinárias do Banco do Brasil recuaram 2,37%, negociadas a R$ 23,04. Mais contidas, as units do Santander registraram baixa de 0,82%, para R$ 15,7.
Carlos Daltozo, do BB Investimentos, vê o cenário mais brando para o setor do que para o Itaú. “Enquanto a provisão para devedores duvidosos do Itaú deve subir até o terceiro trimestre, as outras instituições devem ter essas despesas mais elevadas só até o fim de junho”, avalia. Isso ocorre, segundo o analista, porque o Itaú tomou riscos mais elevados em 2011, deteriorando a qualidade dos ativos, principalmente com a carteira de veículos, segmento do qual é líder no país.
A partir de agora, porém, a ordem no Itaú é outra. Segundo Setubal, a expansão do crédito neste ano no banco virá de operações de menor risco. O executivo citou os empréstimos às empresas de grande porte (por meio do Itaú BBA), o financiamento imobiliário e o crédito consignado como alguns exemplos de operações que vão levar o banco a encerrar o ano com crescimento entre 14% e 15% nos empréstimos. “A carteira de veículos não vai crescer, talvez até perca participação de mercado”, afirmou Setubal.
Com o pé no freio nos empréstimos e com mais custos para cobrir possíveis calotes, o resultado do Itaú neste ano deve ser inferior ao anteriormente esperado pelos analistas. O Barclays prevê que o mercado venha a reduzir entre 10% e 15% a projeção para o lucro líquido do Itaú para este ano.
Fonte: Carolina Mandl e Renato Rostás, Valor Economico