Governo quer instituições com mais transparência
O desempenho dos dois maiores bancos privados do país no primeiro trimestre do ano, e a consequente queda dos preços de suas ações, não aflige o governo, para quem o debate sobre juros e spreads tem que envolver também os custos e os lucros do sistema, considerados ambos muito elevados.
O Bradesco divulgou na semana passada um lucro líquido contábil de R$ 2,793 bilhões no primeiro trimestre, com alta de 3,4% sobre igual período de 2011. Mas as provisões para devedores duvidosos aumentaram de R$ 16,7 bilhões para R$ 20,11 bilhões no mesmo período de comparação. A proporção entre provisão e carteira de crédito passou de 7% para 7,5%.
O Itaú Unibanco teve queda em seu lucro líquido de 2,9% e também está encorpando as provisões. Fontes do governo acham que ainda é cedo para avaliar o aumento do provisionamento e salientam que a discussão não deve ficar só na taxa de inadimplência.
O Ministério da Fazenda vai começar a analisar a lista de demandas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entregue recentemente com mais de vinte sugestões de medidas, para ver o que pode ser feito. Mas as intenções do governo vão além. Ele quer maior transparência nas informações dos bancos sobre a estrutura de custos, ganhos de eficiência, produtividade, sistemas de avaliação, modelos de risco, enfim, sobre tudo o que leva à precificação dos créditos ofertados.
A Caixa Econômica Federal, que fez mais uma rodada de redução dos juros, foi citada por técnicos da área econômica como um exemplo do que deve ser feito daqui por diante. O banco estatal está revendo todo o modelo de precificação até agora usado para ver o que está inadequado ao cenário de estabilidade econômica do país e o que ainda considera incertezas típicas dos tempos da superinflação. Os custos de administração dos bancos são muito altos, apontam fontes envolvidas nesse debate.
A reação dos bancos privados à ofensiva dos bancos públicos para reduzir spreads e juros, na avaliação do governo, foi muito “tímida” e sequer está claro se eles, de fato, baixaram os juros ou apenas cortaram os custos de duas ou três linhas de crédito, de forma pontual.
Fonte: Claudia Safatle, Valor Economico