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Bancos de varejo e de montadoras travam queda de braço

Em meio à pressão do governo pela redução dos spreads bancários, uma nova queda de braço começou nos últimos dias, agora envolvendo os bancos de varejo, de um lado, e os bancos de montadoras, de outro.

As montadoras adotaram como argumento para justificar a queda nas vendas de veículos a redução das concessões por parte das instituições financeiras. De fato, números divulgados ontem pelo Banco Central mostram que a média diária de concessão de CDC recuou 18% nos primeiros três meses do ano – com o estoque praticamente estagnado em R$ 201,3 bilhões (incluindo CDC e leasing). Mas a crítica não caiu bem no meio financeiro, como mostra a reação de banqueiros ouvidos pelo Valor.

O executivo de um grande banco queixa-se que tanto sua instituição quanto outras de porte semelhante têm injetado expressivo volume de recursos nos bancos das montadoras desde que o BC baixou, no fim do ano passado, uma regra para estimular a compra de papéis de bancos menores com os recursos do recolhimento compulsório sobre depósitos. “As montadoras reclamam da falta de crédito, mas os bancos de montadora estão muito líquidos com esse dinheiro que temos injetado neles e não emprestam esse dinheiro porque não querem.”

Após a decisão do BC de liberar parte dos compulsórios, os bancos voltaram a comprar carteiras de instituições menores, com maior apetite justamente pelos bancos de montadora. O Bradesco, por exemplo, anunciou uma linha de R$ 6 bilhões para compra de carteiras, ampliada para R$ 12 bilhões, volume expressivo se comparado ao seu estoque de crédito de veículos, de R$ 28 bilhões.

De acordo com outro executivo de uma grande instituição, as montadoras que possuem braços financeiros ganham duas vezes: com a venda dos veículos, na margem comercial, e também com os empréstimos. Logo, se existe um problema de estoque elevado, diz ele, há ainda mais um incentivo para conceder linhas de crédito para financiar a desova da produção. “Não se pode transferir a responsabilidade para os bancos”.

O problema, no entanto, tem sido a alta da inadimplência. Dados do BC mostram que os atrasos acima de 90 dias no crédito de veículos pularam de 2,5%, em dezembro de 2010, para 5,7%, em março deste ano. Assim, o primeiro trimestre do ano, historicamente mais fraco em vendas, tem servido para os bancos depurarem suas carteiras.

Em recente entrevista à “Reuters”, o diretor do Banco Volkswagen, Rafael Teixeira, reconheceu que o banco tirou o pé do acelerador. No primeiro trimestre, a instituição aprovou, em média, menos da metade das propostas recebidas. “É preocupante ser agressivo num momento como esse”, disse. O banco optou por não cortar os juros agora e Teixeira disse acreditar que a estratégia será seguida por outras instituições do setor, já que a percepção é de um cenário mais complicado à frente.

A inadimplência é reflexo direto das concessões do ano passado. Com uma produção recorde de veículos em 2011 (3,4 milhões de unidades), os bancos de montadoras se viram obrigados a afrouxar os requisitos de crédito, para fomentar as vendas. O resultado foi uma participação de mercado acima das médias históricas. Instituições como Banco Volkswagen e GMAC, por exemplo, chegaram a quase 20% do total financiado.

O maior apetite de empréstimos fez com que a “safra” do ano passado – jargão de mercado para designar determinado conjunto de empréstimos – foi pior que o normal, elevando a inadimplência, diz um executivo da área financeira de um banco de montadora. “O movimento de alta começou na segunda metade do ano passado. Agora a situação está se normalizando e taxa está convergindo de volta para a média de 2011”, diz.

Ao mesmo tempo em que tentam controlar os atrasos, os braços financeiros das montadoras precisam lidar com a pressão por vendas, o que, na visão dele, pode contribuir para a piora da carteira. “Os bancos de varejo têm uma flexibilidade maior para entrar e sair do crédito de veículos, quando o mercado fica ruim. Já os bancos de montadora não têm essa opção”.

Por conta dessa função reguladora das instituições de montadoras, a queda de braço com os bancos privados sempre retorna em momentos mais críticos. Essa relação se tornou menos tensa nos últimos anos, com os acordos entre companhias e bancos – como é o caso de Fiat e Itaú e Bradesco com a Ford. Ao mesmo tempo, o poder de fomentar o mercado hoje é reduzido, já que respondem por menos de um terço do mercado.

Banco vê calote em veículos estável

A alta da inadimplência no mercado de financiamento de veículos ainda não deu trégua. Os atrasos acima de 90 dias chegaram a 5,7%, maior valor da série histórica, saindo de 2,5% no fim do ano passado. Os atrasos entre 15 e 90 dias atingiram 8,5% e continuam subindo, sinal de que a guerra contra a inadimplência ainda está longe de chegar ao fim. Para os bancos ouvidos pelo Valor, contudo, agora é o momento em que a briga contra o calote deve voltar a pender a favor das instituições financeiras.

Os bancos acreditam que a venda de automóveis deve se acelerar, ampliando o crédito e diluindo parte da carteira podre que carregam desde o ano passado. Além disso, os executivos acreditam em uma estabilização dos índices de inadimplência (mas não uma redução) até o fim do ano.

A crença é que o nível de inadimplência é fruto apenas de uma “safra” ruim, que foi produzida por um afrouxamento das condições de aprovação dos financiamentos. Uma prova disso é que no mercado de compra de carteiras, o nível de aceitação tem sido elevado, ou seja, os grandes bancos estão satisfeitos com as carteiras que avaliam dos bancos de montadoras.

A alta da inadimplência também vai esquentar o mercado de carros de luxo, que deve experimentar cortes nas taxas de empréstimos graças ao aumento da competitividade. Com atrasos inferiores à média (mal chegando a 1% em alguns casos), os clientes de luxo viraram objetos de desejo de quem atua no crédito de veículos. Na mão contrária, para clientes de baixa renda, a expectativa são critérios cada vez mais rígidos e taxas mais salgadas no financiamento.

Fonte:  Fernando Travaglini e Felipe Marques, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.