UBS obtém licença para retomar negócios no país
Mais de três anos após deixar o mercado brasileiro, o UBS volta a atuar como banco de investimentos no país. O decreto presidencial que autoriza a compra da corretora Link e a atuação do grupo suíço como instituição financeira foi publicado ontem.
A licença permitirá que o UBS estruture operações no mercado de capitais e, por meio da corretora, tenha um canal para distribuir produtos originados pelo banco.
“A gestão de fortunas, a corretora, as ofertas de ações e a área de fusões e aquisições serão nossos pilares”, afirmou o presidente do UBS no Brasil, Lywall Salles, em entrevista ao Valor. A estratégia foi antecipada ontem pelo serviço de notícias em tempo real Valor PRO.
O UBS espera terminar em cinco meses a integração da Link e, no mesmo período, tornar operacional seu banco de investimentos. A aquisição da corretora foi anunciada em abril de 2010, mas dependia da aprovação do Banco Central (BC) e do decreto da presidente Dilma Rousseff para ter efeito, o que só aconteceu ontem.
Conforme o acordo firmado na época, o banco pagará R$ 195 milhões pela Link, em três parcelas anuais. A primeira delas será desembolsada daqui a um mês.
A Link será rebatizada de UBS Brasil e três dos sócios fundadores da corretora – Daniel e Marcelo Mendonça de Barros e Norberto Giangrande – serão nomeados diretores do banco. Frederico Meinberg, que também era sócio da Link, não acompanha o grupo porque foi para a Octo Investimentos em 2011.
Daniel será o chefe da área de renda variável no país. O restante da equipe do UBS continua o mesmo, com Carolina Lacerda à frente do banco de investimentos.
Juntos, UBS e Link terão cerca de 330 funcionários, pouco mais que o dobro da equipe atual do banco. Estão previstas outras contratações, entre 20 e 30, ao longo do ano. Salles diz que nada vai mudar no foco de operação da Link. A corretora é a maior da BM&F em volume de negócios, e uma das maiores da Bovespa.
“A Link tem muita experiência no Brasil e, agora, poderá agregar valor à clientela mundial do UBS”, diz. “Comprá-la foi a melhor coisa que o UBS fez nesse processo de volta ao Brasil.”
O sinal verde para o UBS veio, ironicamente, num momento em que o grupo suíço reduz o tamanho de suas atividades bancárias. Em novembro, a instituição anunciou uma drástica redução da área de renda fixa e praticamente saiu das operações que envolvem risco de crédito e, portanto, requerem mais capital. O banco de investimentos se concentrará em renda variável e outros produtos que atendam a área de gestão de patrimônio, definida como prioridade. As mudanças atingem o Brasil. Salles afirma que a área de renda fixa dará ênfase a emissões no mercado de capitais, operações estruturadas e CDBs. “A área será voltada a negócios de clientes”, diz.
Com o encolhimento da divisão de renda fixa, está sob revisão o tamanho do balanço que o UBS terá no país. A previsão inicial era que o capital seria de US$ 100 milhões. Agora, o valor poderá ser menor. Se houver alguma redução, diz Salles, não será significativa.
Apesar da nova diretriz global, o executivo considera a licença de instituição financeira fundamental para a estratégia do grupo. Segundo ele, o banco de investimentos continua importante para gerar produtos que possam ser distribuídos aos clientes do UBS em todo o mundo.
O banco suíço teve grande destaque na retomada do mercado de capitais no Brasil. Em 2006, adquiriu o Pactual e tornou-se uma das instituições mais atuantes nas ofertas iniciais de ações – que, naquele momento, pipocavam na bolsa. Veio a crise e, em 2009, o UBS vendeu o Pactual às pressas a um grupo de ex-sócios do banco carioca liderados por André Esteves. Era o início do BTG Pactual.
Poucos meses mais tarde, o UBS resolveu voltar ao país. Sem a licença de banco, vinha atuando na gestão de fortunas e em alguns processos de fusões e aquisições.
O UBS não terá vida fácil em seu retorno. Enquanto esteve fora do mercado, a concorrência ficou mais acirrada e os bancos brasileiros conquistaram um espaço que, antes, era dominado pelas grandes casas internacionais.
Para Salles, a demora na liberação da licença não foi prejudicial ao UBS. “O ano passado foi tão fraco que não foi tão ruim estar fora do mercado”, minimiza. “O Brasil vai voltar a crescer e vamos aproveitar novas oportunidades.”
© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A.
Leia mais em: