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Fraude de Madoff era óbvia, diz ex-diretor financeiro

O diretor financeiro de Bernard Madoff que se declarou culpado por participar de uma fraude estimada em US$ 17 bilhões disse que operações fictícias vinham sendo feitas com uso de contas de clientes já em 1975, quando entrou para a companhia após concluir o ensino médio. “Era praticamente impossível não perceber o que acontecia”, disse Frank DiPascali, 57, na semana passada a um júri na corte federal de Manhattan, no julgamento de cinco ex-colegas.

DiPascali, que começou a trabalhar para Madoff como pesquisador quando tinha 19 anos, é o ex-executivo de Madoff mais graduado a testemunhar no primeiro julgamento criminal decorrente do esquema de pirâmide montado pelo investidor, que, segundo autoridades americanas, começou na década de 70 e entrou em colapso na crise financeira. Ele, que poderá pegar 125 anos de prisão, busca reduzir sua pena testemunhando contra pessoas que alegaram ter sido enganadas por Madoff.

Os réus que se declararam inocentes são Annette Bongiorno, que comandava a unidade de consultoria de investimentos em que a fraude ocorreu e é amiga de infância de DiPascali; Joann Crupi, que administrava grandes contas; Daniel Bonventre, que comandava a corretora de valores de Madoff em que negócios legítimos eram feitos; e os programadores de computador George Perez e Jerome O’Hara, que supostamente automatizaram a produção de extratos falsos.

DiPascali está entre a meia dúzia de ex-funcionários de Madoff que se declararam culpados e testemunham no caso. Ele disse em seu testemunho que não havia como os funcionários de Madoff da área de consultoria de investimentos confundir negócios fictícios com operações reais, já que essas que eram feitas na corretora de Madoff envolviam contrapartes, negócios a preços correntes e a coordenação de várias pessoas que faziam telefonemas simultâneos “em um ambiente muito barulhento”.

Já os negócios fraudulentos orquestrados na unidade de consultoria de investimentos eram baseados em preços históricos tirados de jornais e repassados uma vez por mês a Bongiorno em fichas colocadas dentro de uma pequena caixa de metal, disse ele. “O senhor viu a senhorita Bongiorno consultando preços reais de ações?, perguntou o procurador-geral adjunto dos Estados Unidos, John Zach, a DiPascali. “Não”, respondeu ele. “É possível comprar ações olhando os preços de ontem no ‘The Wall Street Journal’?”, perguntou Zach. “Não”, disse DiPascali.

Annette Bongiorno recebia regularmente informações sobre os negócios com ações de David Kugel, especialista da casa, de modo que ela podia fazer os extratos das contas dos clientes parecerem verdadeiros, disse DiPascali. Ele afirmou ainda que em algum momento forneceu informações parecidas para Bongiorno após ter tomado conhecimento sobre como fazer hedge das contas referenciadas em índices com opções. Os hedges falsos permitiam a Madoff fazer os clientes acreditarem que o colapso da bolsa em 1987 não havia afetado suas contas.

Perguntado por Zach se sabia na época que estava agindo de forma ilícita, DiPascali respondeu: “Claro”. Perguntado se sabia que se tratava de fraude, ele respondeu: “Sim”. DiPascali disse ainda que sua participação foi “bem grande” e que mentia pessoalmente para os clientes. Annette Bongiorno tinha conversas parecidas em que também mentia para investidores, disse ele. DiPascali afirmou que Crupi, O’Hara e Perez estavam todos muito envolvidos na fraude.

Os clientes com os quais conversava “iam de idiotas completos a PhDs em matemática”, disse DiPascali. Os advogados de defesa já afirmaram que testemunhas que cooperam com a justiça, como DiPascali, mentem e implicam outras pessoas, numa tentativa de passar menos tempo atrás das grades. DiPascali disse que espera uma redução “substancial” de sua sentença.

Madoff telefonou para DiPascali na manhã de 11 de dezembro de 2008, dia em que foi preso, para dizer a ele que seu irmão Peter Madoff estava no escritório com agentes do Federal Bureau of Investigation (FBI). DiPascali disse que gritou para Madoff: “Por que você está ligando para mim?”. Na semana que antecedeu a prisão de Madoff, DiPascali descobriu que “a firma estava totalmente quebrada”, disse ele ao júri. Perguntado por promotores o que aquilo significou para ele pessoalmente, DiPascali respondeu: “Que iria para a cadeia”.

DiPascali declarou-se culpado de dez acusações em agosto de 2009, incluindo conspiração, fraude e lavagem de dinheiro. Em fevereiro de 2010, um juiz concedeu um habeas corpus para ele mediante fiança de US$ 10 milhões, depois que agentes federais disseram que o ex-executivo estava prestando uma ajuda valiosa no caso contra seus ex-colegas. Ele está sob prisão domiciliar, em um apartamento de 550 metros quadrados em Nova Jersey. A justiça americana confiscou uma casa de cinco suítes de DiPascali, além de seu barco de 17 pés e um jet-ski. Ele e sua esposa, com quem tem quatro filhos, também tiveram confiscado todo o patrimônio, com exceção de US$ 300 mil. Madoff, 75, está cumprindo 150 anos em uma prisão federal da Carolina do Norte. (Tradução de Mario Zamarian)

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.