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Produtos ‘exóticos’ ensaiam retorno

No mês passado, o Citigroup publicou um anúncio de emprego pouco comum. O banco procurava um analista capaz de destrinchar números sobre um obscuro título financeiro: a obrigação sintética de dívida garantida.

Quatro semanas mais tarde, os interessados no emprego encontraram a vaga já preenchida. Tal tem sido o clamor dos investidores pelos rendimentos maiores dos produtos de maior risco que os grandes bancos, incluindo Citigroup, J.P. Morgan e Morgan Stanley, estão mais uma vez se voltando para os recantos mais esotéricos dos mercados financeiros. Daí a necessidade de contratação.

O “CDO sintético” é um produto de crédito estruturado que, segundo seus críticos, foi responsável pelo agravamento da crise financeira global. Wall Street produziu bilhões de dólares nesse tipo de produto financeiro no pico da bolha de crédito. De lá para cá, ele praticamente desapareceu.

Mas o caminho da retomada tem sido acidentado para os produtos sintéticos. O estigma da compra de ativos da era da bolha continua forte entre os investidores, especialmente quando se usa a alavancagem – ou a tomada de empréstimos – para melhorar os retornos.

“Os investidores aprenderam que o uso da alavancagem pode criar perdas quando elas não são esperadas”, diz Ashish Shah, da AllianceBernstein. “Eles precisam ser conservadores quando aplicam a alavancagem a ativos de menor liquidez.” Isso tem levado alguns bancos a adaptar a estrutura dos novos negócios com os produtos sintéticos. O Citigroup começou a comercializar uma parcela sênior de US$ 100 milhões em CDOs sintéticos de quatro anos de prazo.

Desde sua criação no começo dos anos 2000, os CDOs sintéticos permitem aos investidores ampliar ou alavancar apostas em carteiras de crédito que vão de bônus hipotecários subprime a empréstimos corporativos. Os produtos compram derivativos conhecidos como swaps de default de crédito e os dividem em tranches com graus variados de risco e privilégio.

Encontrar investidores para comprar os títulos mais seniores (privilegiados) tende a ser difícil, uma vez que eles geram os menores rendimentos. Portanto, os bancos inventaram uma chamada tranche “leveraged super senior”, que permite aos investidores pagar apenas uma fração do valor total da tranche privilegiada e, ao fazerem isso, eles melhoram seus retornos. Mas os “leveraged super senior” provocaram perdas maciças durante a crise, pois a queda do valor de mercado dos produtos acionou cláusulas contratuais que exigiam que os investidores apresentassem bilhões de dólares em garantias ou desistissem do negócio.

Para tranquilizar os investidores, o Citigroup mudou a estrutura de seus novos CDOs sintéticos privilegiados, que está atrelada a uma série de créditos corporativos de grau de investimento. Em vez de pedir aos investidores que apresentem mais garantias quando o valor de mercado da carteira em questão cai, os investidores terão apenas de pagar se as perdas excederem 15%. “É muito fácil chamar isso de ‘leveraged super senior’, mas na verdade trata-se de um ‘super senior’ simples, mais financiamento”, diz um executivo de um banco concorrente.

Os CDOs sintéticos com uma “estrutura de capital plena” – incluindo tranches junior, mezzanine e sênior – ainda não voltaram ao mercado, mas os bancos estão vendendo CDOs de tranche única ou específica nos últimos anos. O Citigroup em particular vem oferecendo negócios personalizados de tranche única notáveis pelos rendimentos atraentes.

Esses negócios não classificados normalmente estão atrelados a crédito corporativo, em vez de hipotecas. Eles têm em média prazos de dois anos, em vez dos dez que eram comuns antes da crise. Acredita-se que o Citi já vendeu US$ 1 bilhão desses CDOs específicos neste ano.

“Eles [o Citigroup] estão razoavelmente ativos nas partes menos preferenciais da estrutura de capital”, afirma um executivo de banco. Vender o risco de crédito sênior do banco para novos investidores é “a melhor maneira de eles administrarem o risco” de sua exposição geral de crédito.

Não se sabe se o Citigroup conseguirá encontrar compradores para esta proposta de negócio, que vem sendo vendida há um mês para investidores da Europa e Estados Unidos, segundo pessoas familiarizadas com a transação.

Alguns investidores institucionais criticaram o produto por seu rendimento de 3,5% – ou cerca de um ponto percentual a mais que o dos bônus com grau de investimento. Eles avaliam que o rendimento deveria ser de cerca de 5%. Isso poderá ser um obstáculo.

Uma tentativa anterior de ressuscitar uma aplicação nos moldes pré-crise, o CDO de “estrutura de capital plena”, pelo J.P. Morgan e Morgan Chase, fracassou depois que os dois bancos não conseguiram investidores dispostos a ficar com a parte mais sênior do negócio. Mesmo assim, pessoas a par da operação afirmam que o Citigroup poderá preparar o terreno para uma retomada maior da demanda no ano que vem, assim que os investidores tiverem uma visão mais clara das taxas de juros e quando o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) reduzir suas compras de bônus.

Os banqueiros têm esperança de que assim que a poeira baixar, após o fim do plano de estímulo econômico do Fed, os investidores se sentirão mais confortáveis para comprar crédito com classificação de investimento a juros maiores e, além disso, alavancar os retornos contra o risco pequeno de companhias de alta qualidade quebrarem. De sua parte, o Citigroup acredita que a retomada do “super sênior” será a história de 2014.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.