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Da prisão, Madoff tenta justificar sua fraude

“Terei prazer em receber sua visita”, dizia o email que chegou à minha caixa postal no início do ano. Na assinatura, o nome “Bernard Madoff”.

A comunicação levou a um encontro de duas horas, em maio, com o mais notório fraudador de Wall Street, durante o qual Madoff acusou outros e disse que seu esquema Ponzi, que durou quase 20 anos, não foi na verdade culpa dele. Ele desdenhou os reguladores e aqueles que o denunciaram e chamou Harry Markopolos – um investigador de fraudes que alertou a Securities and Exchange Comission, ou SEC, a CVM americana – de “idiota”.

Vestindo calças e camisa de poliéster bege e um cinto da mesma cor, Madoff, de 75 anos, não mostrou sinais de estresse. Ele fez algumas brincadeiras e disse que se considera sortudo por estar numa prisão com a reputação de ser “calma”.

Como repórter para o web site “MarketWatch” (publicação irmã do The Wall Street Journal) inicialmente entrei em contato com Madoff para um artigo sobre transparência em Wall Street e clareza para os investidores, já que se aproximava o aniversário de cinco anos da descoberta do seu esquema Ponzi.

Mas já no começo da entrevista ficou claro que ele queria justificar os atos que resultaram em sua pena de prisão de 150 anos. Ele disse que se sentiu como se outras pessoas o tivessem colocado “numa cilada” e que ele sempre achou que seria capaz de sair dela. Seus investidores, disse, eram “pessoas sofisticadas” e deveriam saber o que era certo ou errado.

“As pessoas me perguntavam o tempo todo como eu fazia. E eu me recusava a dizer, e eles ainda assim investiam”, disse. “As coisas precisam fazer sentido. Você precisa fazer perguntas certas”.

Ele insiste que bancos sabiam da fraude e que foram cúmplices dela por anos. Uma vez em que não entendi sua lógica sobre os bancos, ele arrancou meu bloco de anotações da minha mão e escreveu o que queria dizer.

Um fator que permitiu que o esquema Ponzi continuasse por muitos anos, disse, foi a credibilidade que ele tinha no mercado. Ele citou nomes de gente importante e falou sobre os bons tempos, quando ainda fazia parte da elite de Wall Street.

Ele minimizou a possibilidade de que os reguladores poderiam tê-lo flagrado antes se tivessem prestado atenção aos alertas de Markopolos, dizendo que ele era “um idiota, que deu pistas ruins para a SEC. Ele disse que a fraude durou tanto tempo porque auditores não verificaram ativos da firma em fundos de depósito. “Se eles tivessem checado, eu teria sido descoberto”, disse.

Madoff me disse que depois de ter sido pego, ele escreveu cartas pedindo desculpas para o ex-presidente da SEC Arthur Levitt e a atual, Mary Schapiro.

Mas ele insistiu que nenhum de seus funcionários, com exceção de Frank DiPascali Jr., sabia que ele estava envolvido em um esquema de pirâmide. Eles falsificaram registros, mas não sabiam da fraude, disse Madoff. DiPascali se declarou culpado e seu depoimento continuará nos próximos dias no julgamento de outros cinco empregados de Madoff. Todos se declararam inocentes.

Madoff lembrou a primeira vez em que sentiu que as condições econômicas poderiam se tornar frágeis, em 2008. Ele estava num clube de golfe na Flórida e seu caddie, “um jovem negro”, segundo ele, disse que estava comprando e vendendo casas. “Ele me disse que não precisava de crédito. Ele comprava casas, as reformava, e as vendia com lucro”, Madoff recorda. “Eu disse para a minha mulher: ‘Isso é o fim’.”

O estouro da bolha imobiliária nos EUA foi um fator importante no colapso da fraude de Madoff, já que muitos investidores começaram a sair do mercado quando a economia se estagnou e o valor de ativos financeiros despencou.

Em outros momentos, ele quis falar mais amplamente sobre os mercados. Ele disse que se tivesse dinheiro, não o colocaria nos mercados porque eles já não servem mais para levantar capital. Ao invés disso, ele disse, que [os mercados] simplesmente embaralham o dinheiro entre os investidores. Ele também criticou o programa de estímulo econômico do Federal Reserve, o banco central americano, como a “maior manipulação” que ele já viu.

Madoff contou que outros prisioneiros e guardas constantemente pedem a ele conselhos de investimentos. Os prisioneiros queriam que ele desse um curso sobre como investir, mas ele disse que a prisão não permitiu.

Durante a maior parte da nossa conversa ele estava animado. Brincou que a prisão onde o irmão dele, Peter, está é um “acampamento” e muito melhor que a dele. Peter Madoff, que está cumprindo pena de dez anos por sua participação na fraude, se recusa a falar com o irmão.

Ninguém em sua família imediata fala com ele, nem mesmo sua esposa, ele diz, acrescentando que essa foi a pior consequência de sua condenação.

O filho, Andrew Madoff, recusa-se a falar com ele, disse. Madoff mencionou brevemente o outro filho, Mark, que cometeu suicídio após as revelações sobre o esquema Ponzi do pai. Madoff disse que sente muito que isso tenha acontecido, mas demonstrou pouca emoção. Os únicos familiares que o visitam são as filhas de uma sobrinha da mulher dele, que frequentam uma faculdade próxima à prisão, disse.

Os prisioneiros podem usar o telefone por 15 minutos por vez, até 300 minutos por mês, mas Madoff diz que não usa seu tempo porque “não tem ninguém com quem falar”.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.