Suporte dado por FGC e Caixa garante liquidez do PanAmericano
O inédito “microbalanço” do mês de dezembro apresentado pelo PanAmericano deixa claro que o banco tem se mantido de pé graças ao suporte que a Caixa Econômica Federal e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) vêm dando à instituição desde que eclodiu, em novembro do ano passado, o rombo bilionário. As cessões de carteira de crédito que o PanAmericano tem feito sistematicamente à Caixa Econômica, ao FGC e a seus próprios fundos de investimento em direitos creditórios (Fidcs) não servem apenas para dar liquidez e fazer a máquina de concessão de empréstimos do PanAmericano girar, mas também para ajudar a engordar seus resultados.
Boa parte das receitas de intermediação financeira – isto é, a renda obtida com a principal atividade de um banco, que é emprestar – tem origem também nessas cessões de carteira de crédito. Dos R$ 142,2 milhões de renda de operações de crédito apurada em dezembro, R$ 51,3 milhões se referem a lucros obtidos nas cessões, sendo que R$ 43,8 milhões são de créditos ao consumidor que foram parar nos Fidcs da instituição.
Adicionalmente, por conta da manutenção de cotas subordinadas no Autopan Fidc, no Master Pan Fidc, no FBP Financeiro e no Fidc FF, o PanAmericano reconheceu uma receita de R$ 15,2 milhões, registrada contabilmente na rubrica de resultado de operações com títulos e valores mobiliários.
Portanto, do total de R$ 178,7 milhões de receitas de intermediação financeira apuradas em dezembro pelo PanAmericano, 37,2% (ou R$ 66,5 milhões, resultado da soma de R$ 51,3 milhões com cessões e de R$ 15,2 milhões com a rentabilidade dos fundos) têm ligação direta com o suporte que tem sido oferecido tanto pelo FGC como pela sua sócia, a Caixa Econômica Federal.
Vale lembrar que, logo depois do primeiro socorro ao PanAmericano, de R$ 2,5 bilhões, o FGC criou, em 23 de dezembro de 2010, o fundo de recebíveis FBP, de R$ 400 milhões, para a compra de créditos cedidos pelo banco em operações de consignado, financiamento de veículos e crédito pessoal. O FBP é gerido pela Bradesco Asset Management e administrado pela BEM DTVM, do mesmo grupo. Segundo Celso Antunes da Costa, atual diretor-superintendente do PanAmericano, a administração dos outros três Fidcs da instituição no está sendo repassada à Caixa.
Ao longo de 2011, o FGC poderá destinar até R$ 3,5 bilhões para a compra de carteiras de crédito do PanAmericano e a Caixa Econômica, R$ 8 bilhões – além de R$ 2 bilhões no mercado interbancário. O novo sócio BTG Pactual também se comprometeu a direcionar outros R$ 4 bilhões. “Como os créditos cedidos vão sendo, aos poucos, quitados, esse limite vai se renovando sempre”, diz Costa. Ou seja, na prática, o PanAmericano poderá contar com um volume até maior do que esse que está sendo oferecido por FGC, Caixa e BTG. “O futuro do banco está preservado”, afirma.
Embora os números do mês de janeiro ainda não estejam fechados, o novo diretor de controladoria do PanAmericano, Raphael Rezende, oriundo da Caixa Econômica, adiantou que foram cedidos outros R$ 700 milhões no mês passado.
Parte desses recursos obtidos via cessão de carteiras – mais o depósito de R$ 1,3 bilhão feito pelo empresário Silvio Santos com dinheiro do FGC – deverá ser usada imediatamente para recompor o patrimônio de referência do PanAmericano, que está negativo em R$ 888 milhões, deixando o banco desenquadrado das regras do Banco Central (BC). O PanAmericano encerrou dezembro com um índice de Basileia negativo de 5,74%. O mínimo exigido pelo BC é de 11%. Para chegar a esse patamar, serão necessários R$ 2,67 bilhões. O PanAmericano poderá fazer um depósito em conta vinculada no Banco Central antes de ajustar o capital.
Em dezembro, o banco conseguiu produzir R$ 1 bilhão em créditos, desempenho recorde, segundo Costa. As provisões para devedores fecharam 2010 em R$ 1,21 bilhão (aí incluída a correção de R$ 500 milhões feita por conta das irregularidades encontradas). O número é inferior em R$ 56 milhões ao saldo do fim de novembro. Foram constituídas, em dezembro, R$ 25 milhões em provisões, mas elas são referentes à performance da carteira no mês, não aos empréstimos novos de R$ 1 bilhão. O saldo das provisões caiu porque foram baixados como prejuízo R$ 81,2 milhões.
Como a produção recorde de R$ 1 bilhão de empréstimos observada em dezembro é recente, não é possível saber, por ora, qual a qualidade desse crédito. Para começar a constituir provisão, é preciso que haja atraso no pagamento das parcelas de pelo menos 14 dias. Mas uma análise da composição da carteira de crédito consolidada, de R$ 9,39 bilhões, revela um índice de inadimplência julgado altíssimo por especialistas: 8,5%, considerando-se os créditos já vencidos.
O PanAmericano encerrou 2010 com um prejuízo de R$ 142 milhões, apurado em dezembro.
Fonte: Aline Lima, Valor Economico