Sistemas do PanAmericano eram corrompidos, diz diretor
Os sistemas contábeis e de controle do banco PanAmericano eram corrompidos, segundo Celso Antunes da Costa, diretor superintendente da instituição. Costa afirmou que a maior parte dos processos fraudulentos eram automatizados pelos sistemas do banco.
Para recuperar a credibilidade da instituição, a nova equipe investiu na governança do banco e reorganizou os controles e os antigos comitês internos de auditoria, prevenção à lavagem de dinheiro, ouvidoria e de gestão operacional.
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Os órgãos internos responsáveis pelo controle deixaram de se reportar à diretoria financeira e passam para a esfera administrativa. “Existia um acúmulo de funções em cima de algumas poucas pessoas. Mudamos isso.”
Na nova governança do banco, os comitês passaram a ser colegiados, evitando que decisões importantes, estratégicas, ficassem a cargo de apenas uma pessoa. Antunes conta que, apesar de indícios fraudulentes em alguns contratos, como de CDBs, nenhum deles foi revisado. O banco passou a adotar práticas e preços de mercado nos novos acordos.
“Não acredito hoje que exista um banco melhor e mais transparente no mercado. Pode ter igual”, afirmou.
Antunes evitou fazer considerações sobre a gestão anterior do banco e a negociação do empresário Silvio Santos com o Fundo Garantidor de Créditos. Disse que os gestores se limitaram a reorganizar a administração do banco.
Apesar disso, elogiou a equipe da instituição. “A força de trabalho da equipe do PanAmericano merece destaque. Muitas pessoas colaboraram e apontaram falhas para aperfeiçoamento da gestão. Isso mostra que a maioria foi vítima de uma minoria.”
Em dezembro, o banco conseguiu originar R$ 1 bilhão em financiamentos. Para este ano, a expectativa é que consiga manter esse ritmo de concessão de empréstimos. A Caixa Econômica Federal se comprometeu a comprar até R$ 8 bilhões desses financiamentos, se tornando a principal fonte de captação de recursos no banco, e mais R$ 2 bilhões de empréstimos interbancários, em caso de necessidade
O BTG Pactual também se comprometeu a garantir captação de R$ 4 bilhões.
BALANÇO
Protagonista do mais recente escândalo financeiro do país, o banco PanAmericano anunciou hoje um prejuízo líquido de R$ 133,6 milhões para dezembro, o primeiro mês sob nova administração. A instituição financeira também confirmou que o rombo total das contas atingiu R$ 4,3 bilhões.
O balanço divulgado hoje não apresenta uma estimativa total para todo o ano de 2010. E em outra anomalia do banco, os resultados do terceiro trimestre também foram apresentados hoje, apontando para um prejuízo de R$ 81,76 milhões neste período.
A administração do banco justifica esses procedimentos ao afirmar, explicitamente, que “a complexidade dos mecanismos contábeis [adotados pela antiga administração] impediu a definição do momento exato em que começaram a ocorrer as irregularidades contábeis”.
Em outros termos, a nova administração, que tomou posse em novembro do passado, também reconhece ser “impraticável” e “inviável” verificar precisamente quando começaram as irregularidades praticadas que levaram ao rombo bilionário.
Em 2009, o banco já havia apresentado um prejuízo de R$ 7,88 milhões. O balanço de 2008 foi o último em que os resultados do banco ficaram no “azul”, com um ganho de R$ 73,5 milhões.
NEGÓCIO
O BTG Pactual e o Grupo Silvio Santos acertaram no último dia 31 de janeiro a venda do banco por R$ 450 milhões. O acordo também incluiu um empréstimo adicional pelo Fundo Garantidor de Créditos, entidade dirigida pelos bancos, de R$ 1,3 bilhão ao PanAmericano. Em novembro do ano passado, o fundo já havia emprestado R$ 2,5 bilhões. Os outros R$ 500 milhões foram tirados do próprio banco PanAmericano, de uma forma que o fundo ainda não explicou.
Em dezembro de 2009, a Caixa Econômica Federal havia adquirido 36,56% do capital total do banco por R$ 739,27 milhões. O restante das ações segue na Bolsa, com acionistas minoritários.
Reportagem da Folha publicada no último dia 3 aponta que a Caixa e o BTG Pactual ainda devem comprar R$ 14 bilhões em títulos e carteiras de crédito do banco para que ele possa funcionar em condições competitivas. A Caixa se comprometeu sozinha a colocar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões no PanAmericano.
Fonte: Toni Sciarretta, Folha de S.Paulo