Bancos médios desaceleram crédito
A atividade econômica fragilizada tem feito os bancos médios recuarem em suas estratégias de concessão de crédito. Mesmo com as medidas anunciadas ontem pelo Banco Central, o modelo de atuação dessas instituições não deve mudar. Ao fim do segundo trimestre, os oito bancos desse porte listados em bolsa – ABC Brasil, Daycoval, Indusval & Partners, Paraná, Pine, Pan, BicBanco e Sofisa – somaram carteira de crédito de R$ 61 bilhões, apenas 0,9% maior que no trimestre anterior. Na comparação anual, a alta foi de 10,2%.
O cenário de menor crescimento econômico fez com que os dois bancos desse grupo que divulgam suas projeções para o ano, o ABC Brasil e o Pine, reduzissem a perspectiva de expansão de suas carteiras no ano. No ABC Brasil, a projeção passou de 11% a 16% para 10% a 15% e no Pine foi de 14% a 19% para 9% a 13%. “O crescimento dos créditos não aconteceu da maneira planejada. De uma certa forma, os bancos privilegiaram a liquidez e diminuíram o crédito”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Manoel Felix Cintra Neto.
Apesar de ainda não estar nas contas dos bancos no segundo trimestre, a nova rodada de medidas anunciadas na quarta-feira pelo Banco Central (BC) – incluindo ajustes nas regras de recolhimento compulsório e nas exigências de capital – não deve ser capaz de mudar as estratégias para o crédito no curto prazo.
No Daycoval, por exemplo, o diretor de relações com investidores, Ricardo Gelbaum, explica que, apesar de importantes para o setor, as decisões não mudam o direcionamento do banco, baseado em planejamento de médio a longo prazo. O mesmo ocorre no ABC Brasil. “A maioria das medidas apresentadas pelo BC são para o segmento do varejo, portanto, não há maiores impactos para o ABC Brasil”, diz Alexandre Sinzato, diretor de relações com investidores do banco, que tem foco em crédito a empresas. De uma forma geral, a meta dos bancos continua a ser a de privilegiar a liquidez e avaliar com cuidado os empréstimos.
Os bancos menores têm usado esse momento mais frágil do crédito para readequar o passivo. Tentam melhorar o funding, substituindo dívidas por novas emissões com prazo e custo mais atrativos. No segundo trimestre, a captação total dos bancos médios listados cresceu 31,6% e somou R$ 4,134 bilhões. “Vemos essa maior liquidez como saudável, principalmente neste momento de mudanças de regulação e entrada de regras de Basileia 3”, diz o analista do Banco do Brasil, Carlos Daltozo.
Apesar das iniciativas para se blindar de uma economia mais fraca, diferentemente dos grandes bancos, os médios têm menos flexibilidade para adequar estratégias, já que se concentram no segmento de crédito a empresas. “Os grandes bancos têm versatilidade maior para fazer mudança de mix de carteira e mitigar riscos”, afirma o analista da Moody’s, Alexandre Albuquerque.
Entre os bancos médios, a maioria continua com foco nas empresas, mas olhando com mais atenção o perfil dos tomadores. Alguns, no entanto, têm maior espaço para se apoiar em outras linhas de financiamento. É o caso do Daycoval, que direcionou parte de seus esforços para o consignado nos últimos trimestres, o que garantiu que essa fosse a carteira com maior expansão no segundo trimestre – alta de 48% em 12 meses, a R$ 4,009 bilhões. O banco, porém, já sinalizou que o objetivo é voltar a crescer com mais força em empresas, principal foco de atuação, e que também traz retorno maior.
Além da dificuldade para flexibilizar a estratégia em torno do crédito, os bancos médios também têm menos espaço para crescer a linha de receitas de serviços, estratégia que já vem sendo adotada pelos grandes há algum tempo para compensar a menor expansão no crédito. Nos cinco maiores bancos – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil e Caixa – essas receitas subiram 9,8% em um ano. Já no conjunto de bancos médios citados, a linha recuou 1,3% no mesmo intervalo.
O presidente da ABBC afirma que os bancos médios vêm tentando expandir essa receita. “Não era uma operação regular dos bancos [médios]. Hoje é uma tendência em todos eles tentar fidelizar os clientes de tal forma que sejam atendidos de forma mais ampla”, diz. No segundo trimestre, porém, só dois bancos conseguiram crescer essa fonte de receitas fortemente. No Indusval & Partners, elas mais do que dobraram, de R$ 7,1 milhões para R$ 15,7 milhões em um ano. No Paraná Banco, a expansão foi de 33,3%.
Mesmo com o momento mais difícil, no entanto, os bancos mantiveram a inadimplência e as despesas com provisão para devedores (PDD) sob controle no segundo trimestre. A expectativa é que esse cenário se prolongue até o fim do ano até por conta da ação mais conservadora das instituições.
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