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Quem é o empresário que cobiça o banco BVA

Carlos Alberto de Oliveira Andrade é um empresário polêmico, que não tem medo de brigas. Conhecido comerciante e industrial de veículos, ele está em uma nova disputa: quer comprar o BVA, banco sob intervenção do Banco Central e que lhe deve R$ 500 milhões.

Desde a estreia como empreendedor, há mais de três décadas, quando ficou com uma concessionária à beira da falência, Oliveira Andrade construiu seu império em meio a longas batalhas na Justiça e choques com a concorrência, mas também amparado por aliados encantados com sua habilidade na venda de veículos.

Por enquanto, Caoa, seu apelido e nome do grupo que comanda, fez uma pausa nas negociações para assumir o banco com o BC e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para tirar uma temporada de férias com a família no exterior. Esse período servirá também para amadurecer outro plano, que pode mudar completamente o rumo de seus negócios: a contratação de Antonio Maciel Neto, ex-presidente da Suzano Papel e Celulose.

Desde a fundação do grupo Caoa, Oliveira Andrade centraliza todas as decisões da companhia, desde descontos em veículos à contratação de funcionários e detalhes das vastas campanhas publicitárias que faz em jornais e revistas. Maciel o ajudaria principalmente com os negócios do setor automotivo, formado por 120 revendas das marcas Hyundai, Ford e Subaru e mais uma fábrica de modelos Hyundai em Anápolis (GO). O grupo Caoa era o maior revendedor Ford nos tempos em que Maciel Neto foi presidente da montadora no país, de 1999 a 2006. Recentemente Oliveira Andrade anunciou a intenção de investir US$ 300 milhões para produzir um novo modelo em Anápolis – o utilitário iX35.

As discussões para adquirir o BVA devem ser concluídas até o fim do mês, segundo informa a assessoria do grupo Caoa. O mesmo prazo está previsto para acertar a contratação de Maciel. “Estamos ainda na fase de conversas, que serão retomadas quando ambos voltarmos a São Paulo”, disse Maciel, também em férias, no interior paulista.

Mesmo que se transforme em banqueiro, o dono do grupo Caoa continuará com o foco no comércio de veículos. Ele pretende usar o BVA para financiar os carros de suas concessionárias.

Oliveira Andrade se candidata a adquirir o BVA por ter R$ 500 milhões investidos em depósitos a prazo na instituição. É um dinheiro que o empresário pode perder se o banco for liquidado. Por outro lado, se ficar com o banco, o empresário ainda terá de injetar mais dinheiro na instituição.

Até o fim desta semana, uma auditoria apontará o valor exato do rombo no banco. Estimativas iniciais dão conta de que ele teria de colocar pelo menos mais R$ 700 milhões no BVA. Só o Fundo Garantidor de Créditos tem uma exposição de R$ 1,2 bilhão em garantias prestadas a quem comprou papéis emitidos pelo BVA. Até agora, porém, Oliveira Andrade não fez uma proposta formal ao Banco Central e ao FGC, mas é dado como o único interessado firme no banco até o momento.

Em Brasília, o Banco Central informou que não comenta eventuais negociações envolvendo o Banco BVA, já que hoje esse é um assunto da alçada do liquidante e do FGC e demais interessados. Em casos como este, o BC diz só ser chamado a se pronunciar numa fase posterior, quando a operação, se concretizada, é submetida à sua aprovação. A Lei 4.595, principal dispositivo que regulamenta o sistema financeiro nacional, concede ao BC o poder de autorizar a transferências de controle de instituições financeiras, levando em conta aspectos como idoneidade dos sócios, capacidade de investir o capital exigido pelo negócio e conhecimento técnico para exercer a atividade.

Ficar com o banco seria uma maneira de Caoa reviver o início de sua história como empresário. Em 1979, quando era médico em Campina Grande (PB), sua cidade natal, Oliveira Andrade comprou um Ford Landau. Mas não o recebeu. O proprietário da concessionária alegou não ter como entregar o carro por estar à beira da falência. O cliente, então, propôs ficar com a loja em troca da venda não concluída. Os negócios evoluíram com a compra de outra revenda quebrada no Recife. Seis anos depois, o médico já era o maior revendedor Ford da América Latina.

O grupo Caoa abriu, mais tarde, uma empresa de consórcio, a Convef, que se tornou alvo de uma longa e pouco conhecida ação na Justiça. Em 1992, o Ministério Público Federal propôs uma ação contra Oliveira Andrade acusando-o de incorrer duas vezes em crime previsto no artigo 17 da Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/1986). Pela legislação, a administradora de consórcios não poderia conceder empréstimos para uma empresa do mesmo grupo.

O advogado de defesa de Oliveira Andrade nesse processo, José Roberto Batochio, disse ontem ao Valor que o empréstimo foi, de fato, feito de uma conta da empresa de consórcio para uma concessionária, a Paulinvel, ambas do mesmo grupo. “Mas tratava-se de uma conta patrimonial, totalmente separada da conta dos consorciados”, disse. “Em nenhum momento tocou-se na conta com o dinheiro referente às cotas dos consorciados.”

O processo durou 20 anos. Na primeira instância, a 4ª Vara Criminal Federal absolveu o empresário. O Ministério Público recorreu ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que o condenou por dois empréstimos ilegais, aplicando penas que totalizaram cinco anos e cinco meses, em regime semiaberto. Expedido mandado de prisão, em 2002, Oliveira Andrade ingressou com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça; posteriormente, entrou com recurso especial e, finalmente, agravo de instrumento, pois a defesa entendia que estavam pendentes de julgamentos recursos contra a condenação, e que, portanto, a prisão não teria cabimento.

Em 2009, o empresário pediu ao STJ a prescrição do caso. Dois anos mais tarde, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que acabou por reconhecer que o processo havia prescrito e determinou a extinção da punibilidade do empresário.

A trajetória empresarial de Oliveira Andrade também foi marcada por famoso embate judicial com a francesa Renault. O grupo Caoa era o importador da marca até 1995, quando a parceria foi desfeita. O empresário brasileiro decidiu, então, pedir indenização na Justiça. Além de importador, ele era proprietário de quase metade das concessionárias Renault, que, juntas, representavam 80% das vendas da marca no país à época. À imprensa, Oliveira Andrade dizia que a companhia francesa lhe devia US$ 600 milhões.

Em 2002, sentença do Tribunal Arbitral Internacional decidiu pelo pagamento de apenas R$ 5 milhões pela Renault à Caoa, referentes a prestações de serviços na época da parceria. O grupo brasileiro ajuizou, em 2006, uma ação no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para tentar anular a sentença arbitral, mas o TSJP entendeu que não era competente para analisar uma decisão arbitral estrangeira. Essa jurisdição, segundo o TSJP, caberia ao Superior Tribunal de Justiça, que não apreciou o pedido do empresário.

O episódio com a Renault marcou uma fase em que Oliveira Andrade falava mais frequentemente com jornalistas. A partir de então, ele se distanciou da imprensa – não atendeu a pedido de entrevista feito para esta reportagem. O empresário aparece vez ou outra em eventos como o salão do automóvel. Mas, segundo executivos do setor, nunca participou de organizações de classe.

Oliveira Andrade não gosta de badalação. Aos 68 anos de idade, prefere manter-se distante, na companhia da esposa e dos quatro filhos – dois deles são do primeiro casamento e uma filha já trabalha no grupo. Quando aparece em público, porém, faz questão de mostrar-se alinhado, sorri muito e é extremamente gentil.

Na comunicação publicitária, o grupo Caoa sempre foi agressivo. Os valores dedicados a campanhas ultrapassam o total gasto por montadoras bem maiores, como General Motors e Fiat, e grandes empresas de outros setores, como Vivo e Coca-Cola. Os mais recentes dados do Ibope-Monitor indicam que em 2011 o grupo Caoa investiu R$ 321 milhões em publicidade.

As campanhas publicitárias também já provocaram brigas com concorrentes. Por três vezes, em 2009, o grupo que representa a Kia no Brasil registrou queixas no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). A reclamação principal é que a Caoa divulgava, em anúncios, os volumes de vendas mundiais da Kia e da Hyundai, como se fossem exclusivamente dessa última. Na Coreia, Kia e Hyundai pertencem ao mesmo grupo, mas no Brasil sempre foram representados por importadores diferentes.

Oliveira Andrade é resoluto na maneira como usa a publicidade. Em junho de 1996, publicou um anúncio de mais de um quarto de página para se defender ao ter seu nome envolvido no assassinato do comerciante sueco Robert Oliver Hallqvist, namorado de Luciana Figueiredo Lobo. Assinado pela Caoa, o anúncio dizia que o presidente do grupo havia tido “por curto período, vínculo afetivo com a Srta Luciana”.

“Encerrado esse relacionamento, o presidente do grupo Caoa recompôs sua vida afetiva ao lado de outra pessoa, tendo a Srta Luciana Lobo tomado igualmente seu caminho, ligando-se ao Sr. Robert Oliver Hallqvist”, destacava o anúncio. “É lastimável que um amontoado de hipóteses descabidas tenha assumido as proporções escandalosas que este caso alcançou”, completava o texto ao apontar notícias que colocavam ex-namorados de Luciana sob suspeita pela morte do comerciante.

No mercado de veículos, os coreanos da Hyundai são, até aqui, os maiores aliados do empresário. Eles não têm do que se queixar, já que a marca conquistou significativo espaço no período de representação exclusiva pelo grupo Caoa. No ano passado, ficou com quase 3% de participação nas vendas de automóveis e comerciais leves, à frente de Nissan e Citroën, que há tempos produzem no país. A maior parte dessa fatia refere-se à venda de veículos pelo grupo Caoa, já que somente em novembro os coreanos inauguraram uma fábrica com investimento próprio, em Piracicaba (SP).

Com a Hyundai, Oliveira Andrade está protegido por contrato que lhe garante a representação da linha importada até 2027. A fórmula que a montadora coreana encontrou para investir US$ 700 milhões numa fábrica no Brasil sem romper acordo com o parceiro local foi separar as redes de concessionárias.

A rede da Caoa venderá importados e os veículos que saem da fábrica do grupo em Anápolis. Uma rede nova foi aberta sob comando da companhia coreana, com lojas exclusivas para a venda dos modelos produzidos em Piracicaba, que iniciou as operações com o compacto HB20. Mas Caoa também participa da nova rede – o empresário já obteve dos coreanos licença para abrir 30 das 180 concessionárias autorizadas. As lojas de Oliveira Andrade estão em funcionamento e já o transformaram no maior vendedor do HB20.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.