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PanAmericano afetou setor mais que Lehman, diz ABBC

BancosHá um ano, na esteira da crise financeira global de 2008 – detonada pela quebra do Lehman Brothers -, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) iniciou um processo de reestruturação que está sendo concluído na cola de outra crise: a do PanAmericano. A associação instituiu comitês de Negócios e Suporte Operacional mirando o estágio de desenvolvimento do país, melhor atendimento de quase uma centena de pequenos e médios bancos associados e direito de escolha de clientes bancários.

A crise global que semeou essas mudanças não chegou a surpreender as instituições, mas ensinou que não há festa permanente quando o assunto é crédito. Já a crise do PanAmericano, socorrido há um mês pelo Fundo Garantidor de Crédito com US$ 2,5 bilhões, foi uma surpresa absoluta que dividiu ao meio o segmento de bancos pequenos e médios. De um lado ficaram os compradores de cessão de carteiras. Do outro lado, os vendedores. Renato Martins Oliva, presidente da ABBC que acaba de ser reeleito para novo mandato até o final de 2012, lembra que em 2007 já havia sinais da crise externa que mostrou, aqui e lá fora, que não existe um ‘salvador da pátria’. A crise do PanAmericano, por sua vez, fez o sistema olhar para dentro e reforçar a mobilização para criar a Central de Ativos que trará mais segurança aos negócios.

“Em 2007 havia sinal da crise externa que muitos não queriam ver. Havia a esperança de que surgiria um salvador da pátria e ficou provado que isso não existe. No Brasil, o crédito, que cresceu 25% em 2007, caminhava para salto semelhante em 2008. Tudo parecia uma grande festa. O resultado foi a confirmação de que nada é seguro o bastante para que não possa se curvar quando o tempo piora. Já o PanAmericano levou os acionistas dos pequenos e médios bancos a dirigir outro olhar ao seus negócios e aos controles internos. Foram contratadas auditorias externas [além das rotineiras] de cessões de crédito firmadas nos últimos dois anos, por exemplo. Muito desse trabalho já foi concluído, dando maior segurança aos acionistas e aos clientes”, relata Oliva.

O presidente da ABBC explica que a crise do PanAmericano está dando mais trabalho que a crise de 2008. “Em 2008, a avaliação coletiva era que havia um problema temporal. De liquidez. Com o PanAmericano não. O mercado hoje ainda se pergunta se há outro PanAmericano no sistema. Eu não vejo outro PanAmericano. E a prova foi dada pelo próprio Banco Central com as medidas anunciadas na semana passada. Elas são pesadas e afetam o planejamento estratégico de todos os bancos. Se houvesse algum risco da existência de outro PanAmericano, as medidas não teriam saído.”

As medidas do BC – elevando compulsório e restringindo o crédito – têm foco no aspecto macroprudencial e de fazer gestão de expectativa de inflação, entende Oliva. “Um jeito de tirar o peso específico do juro primário é atuar na ponderação de risco das operações e recolhimentos compulsórios. O BC reduziu a capacidade de alavancagem dos bancos, o que afeta a demanda agregada. O impacto será aumento do juro em linhas específicas de pessoas físicas. E, nesta semana, as taxas já subiram em média 0,60 ponto percentual, devendo atingir exatamente o consumidor que reavaliará as iniciativas de consumo. O mercado vai se ajustar e isso ocorrerá em preços. As instituições precisarão ajustar seus preços [elevar juros] para recompor receitas, até porque precisaram mostrar liquidez por muito tempo com a crise de 2008. E isso custa caro.”

Oliva vê nas últimas medidas do BC uma mudança importante. “O BC está focado em gestão de risco e não é só de crédito, mas de liquidez, de mercado, operações e descasamentos de prazos. O foco é na gestão de ativos e passivos e essa é uma nova estratégia de abordagem do sistema financeiro daqui para frente”, avalia.

O presidente reeleito da ABBC explica que a reestruturação da entidade, com a criação de comitês e dez comissões temáticas, implica em orientar posicionamento quanto à livre concorrência, crédito consciente, capacitação profissional de correspondentes bancários, responsabilidade social e combate à concentração bancária. “Hoje não temos instrumentos que tratem da concentração bancária. E, aqui, não se trata de bancos comprando outros bancos, mas da constatação de que temos 200 bancos no sistema e que o esforço por busca de ‘market share’ pode levar à concentração bancária praticamente com a exclusão de algumas do sistema. Um exemplo de busca por ‘market share’ é o Banco do Brasil lutando para ter exclusividade no crédito consignado. A concentração precisa ser discutida, tendo em pauta o que deseja a sociedade. Quer seis bancos ou 200? O tema é importante porque levará a equações de custo e eficiência dos serviços.”

Oliva destaca a importância dos bancos pequenos e médios neste momento virtuoso do país que cresce baseado também no crédito. Ele pondera que o crédito responde por cerca de 90% das receitas dos pequenos e médios. Os que menos dependem dessas operações têm cerca de 75% das receitas provenientes daí. “Sabemos dar crédito rápido para não correntistas. Nos especializamos nessas operações que sempre deram muito trabalho e risco. E a eficiência dos pequenos e médias tem sido reconhecida. Tanto, que a partir do Plano Real os grandes bancos passaram a adquirir bancos menores exatamente para atuar em crédito ao consumo, financiamento de veículos e, mais recentemente, crédito consignado.”

Fonte: Angela Bittencourt, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.