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Marcação “faz de conta” distorce empréstimos dos bancos

IASB e FASBNo exato momento em que parecia que os bancos dos Estados Unidos estavam começando a revelar os verdadeiros valores dos seus empréstimos, percebe-se que há uma brecha contábil que eles podem explorar para manter as más notícias soterradas.

Desde que as novas regras entraram em vigor no ano passado, exige-se que os credores divulguem o “valor justo” dos seus empréstimos a cada trimestre. Os resultados, de certa forma, têm se revelado um mistério, porém. Alguns bancos demonstram enormes disparidades entre esses números e os valores dos empréstimos nos seus balanços patrimoniais. Outros não.

Um motivo de peso: graças à brecha, nem todos precisam seguir a mesma definição de valor justo. Meu palpite é que a maioria dos investidores não sabe isso. Muitas vezes as divulgações das instituições financeiras não explicam claramente qual abordagem estão usando, ou que as companhias têm uma escolha. Leitores desatentos as suas demonstrações financeiras podem ser facilmente enganados.

Tomemos os eventos recentes no Wilmington Trust. O banco de Delaware disse em 1º de novembro que se venderia ao M&T Bank por US$ 351 milhões, o que representava 46% menos do que o seu valor de mercado à época. Em agosto, o Wilmington havia dito que o valor justo dos seus empréstimos era apenas US$ 40 milhões menor que o valor de US$ 8 bilhões do seu balanço patrimonial encerrado em 30 de junho.

Esse termo, valor justo, deveria ter recebido uma definição uniforme pelos critérios de um padrão do Fasb (Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira) emitido em 2006, chamado “Statement 157”. Para ativos financeiros, incluindo empréstimos, o Fasb o definiu como o valor de venda que teria sido recebido numa transação regular, sem conflitos de interesses. Isso é conhecido como um “preço de saída”.

O Wilmington não usou essa definição para a sua divulgação de empréstimo. A brecha, em vez disso, levou o Wilmington a mostrar uma estimativa de “preço de entrada”, de quanto custaria originar empréstimos semelhantes, em vez de quanto os seus empréstimos valeriam numa venda. Isso comprovou ser mais como marcar ao sabor da imaginação do que marcação ao valor de mercado. Consequentemente, os investidores de Wilmington foram pegos de surpresa.

O Wilmington divulgou os seus planos de venda no mesmo dia em que informou que seu prejuízo para o terceiro trimestre cresceu de US$ 5,9 milhões no ano anterior para US$ 365,3 milhões. Ele informou também que o M&T havia identificado US$ 506 milhões em perdas de crédito adicionais. É inconcebível supor que nenhum desses prejuízos tenha começado a acontecer até o trimestre passado. Uma abordagem de preço de saída teria fornecido um alerta precoce. O porta-voz do Wilmington, Bill Benintende, não quis comentar o assunto.

Credores geralmente não são obrigados a mostrar os seus empréstimos em valor justo nos seus balanços patrimoniais. Os empréstimos geralmente são contabilizados pelo custo amortizado, o que inclui ajustes para quitações de principal e baixas contábeis, enquanto os números de valor justo só aparecem nas notas explicativas.

A parte espinhosa para os investidores é decifrar os jargões técnicos, muitas vezes impenetráveis, que as companhias usam para descrever seus métodos de avaliação. Para esta coluna, analisei as notas explicativas do terceiro trimestre para todas as companhias registradas no KBW Bank Index. A maioria não informou explicitamente se estava mostrando preços de saída para os seus valores de empréstimos. Certamente, mesmo quando os bancos usam o método da brecha, isso não significa necessariamente que eles tenham algo a esconder.

A brecha para divulgações de valor de empréstimo aconteceu por acidente. Antes de 2006, as diferentes definições de valor justo existiam por todas as regras contábeis. O Fasb havia prometido que o “Statement 157” traria uma “uma única definição” do termo e maior uniformidade nas mensurações das companhias.

O conselho deixou passar alguns pontos, porém, incluindo um no seu padrão de divulgações de valor justo para instrumentos financeiros. Aquelas regras mostram duas abordagens para empréstimos, uma das quais ainda usa uma definição anterior a 2006 para valor justo. A exceção continua em vigor hoje – antes do ano passado, essas divulgações de notas explicativas eram exigidas apenas anualmente, não trimestralmente.

Especificamente, a brecha permite que companhias estimem valores de empréstimos “descontando os fluxos de caixa futuros, usando as taxas atuais pelas quais empréstimos semelhantes seriam concedidos a tomadores com classificações de crédito similares e para os mesmos vencimentos remanescentes”. Essa é a abordagem que o Wilmington usou, conforme demonstram as divulgações do banco. Ao contrário dos preços de saída, essa abordagem não inclui certos fatores, como risco de liquidez.

Comparemos isso com as divulgações do Regions Financial. O Regions informou que sua carteira de empréstimos valia US$ 69,1 bilhões até 30 de setembro, 12,8% menos que o valor inicial no seu balanço patrimonial. O Regions disse que seu método “pressupõe venda dos empréstimos a um investidor financeiro terceiro”.

Em outras palavras, o Regions mostra um preço de saída. O SunTrust Banks e o Bank of America também. O SunTrust disse que a sua carteira de empréstimos valia 4,8% menos do que seu valor original de US$ 112 bilhões. O Bank of America disse que os seus empréstimos valiam ligeiramente menos do que mostrava o seu balanço patrimonial. O J.P. Morgan Chase disse que o valor justo dos seus empréstimos era alguns bilhões de dólares maior. O número do J.P. Morgan pareceu ser um preço de saída. O porta-voz da companhia, Joe Evangelisti, não quis comentar.

O Commerce Bancshares e o People’s United Financial mostraram os chamados valores justos que excediam os valores iniciais dos seus empréstimos. Os dois também revelaram abertamente que eles não mostram mensurações de preço de saída. Não se sabe quanto os empréstimos valeriam numa venda. Ao menos eles são francos a esse respeito.

O Citigroup disse que seus empréstimos valiam 2,5% menos que os seus valores iniciais de US$ 608,2 bilhões até 30 de setembro. Eu não saberia distinguir a partir da sua divulgação se aquilo seria um preço de saída. Uma porta-voz da companhia, Shannon Bell, não quis comentar.

As divulgações dos empréstimos do Wells Fargo não mostram um preço de saída, disse Mary Eshet, uma porta-voz da companhia. O Wells disse que o valor justo dos seus empréstimos era US$ 10,3 bilhões menos que seu valor inicial de US$ 716,6 bilhões. Eshet não quis informar se um preço de saída teria mostrado um valor mais alto ou mais baixo.

O Fasb deveria fechar essa brecha imediatamente.

Fonte: Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News. As opiniões expressas neste artigo são pessoais

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.