Escândalo no câmbio mobiliza Citi e Deutsche Bank
Os ânimos se intensificaram ontem nos dois bancos mais poderosos do mundo na área de câmbio com a notícia de que autoridades reguladoras dos Estados Unidos estavam visitando o escritório do Citigroup Inc. em Londres, numa incursão para coletar dados, e que o Deutsche Bank AG havia suspendido vários funcionários como parte de uma ampla investigação sobre as práticas de operadores de câmbio.
Autoridades da regional de Nova York do Fed, o banco central americano, e da área de controladoria de câmbio do Departamento do Tesouro estariam há alguns dias no escritório do Citigroup, segundo uma pessoa a par do assunto, e o banco estaria cooperando com a investigação.
Não estava claro quanto tempo elas pretendiam ficar no banco ou se estavam também visitando outras instituições, embora pessoas a par do tema digam que as autoridades não estavam no momento visitando o UBS AG ou o Royal Bank of Scotland Group PLC – dois outros bancos que suspenderam operadores como parte dessa investigação. O Fed de Nova York e o Tesouro se recusaram a comentar.
Na semana passada, o Citigroup demitiu Rohan Ramchandani, chefe de operações do mercado spot (à vista) europeu, depois de tê-lo afastado no ano passado. Ramchandani era um dos integrantes de um bate-papo eletrônico – em certo momento o grupo chegou a se autodenominar “O Cartel” – que está no centro de uma investigação envolvendo autoridades do Reino Unido, EUA, Ásia e Europa, dizem pessoas a par do assunto. Ramchandani não pôde ser encontrado para comentar e o Citigroup não quis comentar a demissão.
Também ontem, foi divulgado que o Deutsche Bank, o maior operador de câmbio do mundo, suspendeu vários operadores nas Américas e que pelo menos um deles negociava pesos argentinos. Essa é a primeira vez que se tem notícia de que a investigação se estendeu a moedas de emergentes.
Entre os suspensos, disse ontem uma pessoa a par do assunto, está Robert Wallden, um operador que foi interrogado em novembro por agentes do Federal Bureau of Investigation, o FBI, em Nova York. O FBI fez perguntas sobre as comunicações eletrônicas dele com outros operadores, segundo essas pessoas.
Na época, fontes próximas ao Deutsche Bank disseram que o incidente resultou de um mal-entendido baseado, pelo menos em parte, numa brincadeira escrita pelo operador sobre sua capacidade de manipular mercados. O operador inicialmente permaneceu no cargo, mas depois foi suspenso devido a preocupações do banco por ele ter demonstrando falta de bom senso, de acordo com uma pessoa a par do caso. Wallden não foi encontrado para comentar o assunto. O banco se recusou a comentar em seu nome.
Antes dos acontecimentos mais recentes no Deutsche Bank, a instituição alemã havia se destacado entre os grandes negociadores de câmbio. Ao contrário da maioria de seus principais concorrentes, que há meses suspenderam mais de uma dezena de operadores ligados à investigação, o Deutsche havia mantido toda a sua equipe.
“O banco está cooperando com essas investigações e vai tomar medidas disciplinares contra indivíduos, se cabíveis”, informou o Deutsche Bank, recusando comentar casos individuais.
A investigação global começou em abril, quando a Financial Conduct Authority, órgão regulador britânico que monitora condutas no mercado financeiro, começou a analisar operações de câmbio. No mês passado, o “The Wall Street Journal” divulgou que os bancos haviam descoberto evidências em transcrições de bate-papo de salas on-line entre operadores de diferentes instituições atuando em conjunto para manipular mercados a seu favor, combinando, por exemplo, a sequência de transações que fariam.
O Deutsche Bank detém uma participação de 15,18% no mercado de operações de câmbio, de acordo com a mais recente pesquisa anual da Euromoney. O Citigroup detém 14,9%.
(Colaborou Chiara Albanese)
© 2000 – 2014. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A.
Leia mais em:
