Banco chegou à bolsa com irregularidades
A suspeita do Banco Central (BC) de que os problemas no PanAmericano começaram há mais de três anos significa que o banco abriu o capital já com irregularidades em seus balanços. A oferta inicial de ações, em novembro de 2007, levantou R$ 700,4 milhões, com participação de pequenos investidores com 10% desse total.
Para ir ao mercado, o banco passou não só pelo crivo da Deloitte, sua auditoria independente desde então, como também da BM&FBovespa, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e dos demais intermediários da operação.
A companhia chegou à bolsa pelas mãos do UBS Pactual, BBI (Bradesco) e Itaú BBA.
Um especialista de uma grande auditoria consultado pelo Valor diz que as “inconsistências contábeis” anunciadas pelo PanAmericano não podem ser encontradas no balanço publicado. “Quem pode saber de mais alguma coisa é o Banco Central.”
Anteontem , o BC deu sinais que poderia responsabilizar o auditor independente do banco, a Deloitte, uma das quatro grandes firmas do setor mundial de contabilidade. Em nota divulgada ontem, a Deloitte diz estar “colaborando com as autoridades constituídas para a devida apuração e esclarecimento dos fatos” e que “dada a relevância das alegações e suas implicações, consideramos prematuro e inconsequente nos manifestar antes que se possa chegar a conclusões que sejam baseadas em fatos.”
Especialistas da área de contabilidade acreditam que outros bancos de médio porte podem ter registros inconsistentes no que diz respeito à cessão da carteira de crédito – em razão da falta de transparência existente por conta da divergência entre as práticas contábeis exigidas pelo BC e pela CVM. Mas não são esperados problemas do porte do verificado no PanAmericano.
Representantes do Instituto Brasileiro de Auditores Independentes (Ibracon) e do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) não foram encontrados para comentar a questão.
Em junho deste ano, a carteira total de crédito do PanAmericano somava R$ 10,9 bilhões. O crescimento foi exponencial desde a abertura de capital, pois a carteira total era de R$ 4,5 bilhões em 2006. Os recursos da oferta de ações foram usados para expandir sua carteira de crédito, conforme declarou no prospecto da operação.
A diretoria do banco afirmou ao mercado, sobre o balanço anual de 2009, acreditar que “o grau de eficiência dos controles internos adotados para assegurar a elaboração das demonstrações financeiras era confiável e plenamente satisfatório”. A informação consta do Formulário de Referência, documento entregue à CVM sobre o qual o presidente e o diretor de relações com investidores do banco têm responsabilidade.
As informações prestadas pelo PanAmericano ao mercado devem ser alvo de investigação conjunta entre o Banco Central e a CVM, que recentemente fecharam um convênio para apurar irregularidades. Desde 2009, o BC é responsável pelos balanços individuais e consolidados dos bancos.
Fonte: Graziella Valenti e Nelson Niero, Valor economico