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Credito rotativo perigoso – a maior fonte de endividamento do brasileiro

Todo começo de ano é igual: novas resoluções e metas, que vão desde iniciar uma dieta até colocar, de vez, o orçamento em dia. Organizar a vida financeira sempre encabeça a lista de promessas, muitas vezes não cumpridas devido a alguns ‘inimigos’, entre eles, o cartão de crédito. Além de ser a maior fonte de endividamento do brasileiro, é a linha mais cara. Segundo pesquisa da Proteste – Associação de Consumidores, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), divulgada com exclusividade ao Valor, o consumidor está submetido a uma taxa média anual de 280,82% ao entrar no crédito rotativo, ou seja, deixar de pagar a fatura total devida.

O levantamento considerou o Custo Efetivo Total (CET), que inclui a taxa de juros e os encargos financeiros, de 60 cartões de crédito de 11 instituições. A situação é ainda pior em grandes bancos do varejo. O cartão Santander Platinum lidera o ranking de custos, ultrapassando os 700% ao ano. O banco tem seis cartões entre os dez mais caros. Na outra ponta, está o cartão Ourocard Platinum, do Banco do Brasil, com o menor custo anual do levantamento, de 52,34%.

Na ponta do lápis, dá pra ver até onde pode chegar o buraco. Uma dívida de R$ 5 mil no rotativo do Santander Platinum, por exemplo, demoraria nove meses para ser quitada, levando em conta nenhum gasto adicional e o pagamento do mínimo exigido de 20% do valor da fatura. Ao fim desse período, o desembolso terá sido de R$ 9.212,46, sendo mais de R$ 4 mil somente com juros.

Buscar modalidades de crédito mais baratas é o primeiro passo para fugir dessa armadilha. No empréstimo pessoal, que geralmente conta com crédito pré-aprovado nas instituições, essa mesma dívida poderia ser quitada três meses antes, com um desembolso final de R$ 5.617,56. No crédito consignado, a vantagem é ainda maior, ou seja, R$ 5.192,94.

Outro exemplo reforça como o rotativo realmente não é um bom negócio, mesmo considerando a taxa média cobrada no crédito rotativo do cartão (280,82%), segundo a pesquisa. A compra de uma TV Led no valor de R$ 3 mil no cartão levaria sete meses para ser paga, considerando uma parcela de R$ 600, se o indivíduo pagar o mínimo da fatura inicial. Para quem tem paciência e disciplina, com o mesmo aporte mensal de R$ 600 na mais tradicional das aplicações, a caderneta de poupança – que paga juros mensais de 0,5% mais TR -, cinco meses seriam suficientes para a compra da TV.

“O brasileiro é imediatista e não faz planejamento. Quando você tem um limite de crédito pré-aprovado, você nem pensa duas vezes antes de comprar”, diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A falta de informação é um sintoma diretamente ligado à ausência de educação financeira. Para o consultor financeiro Mauro Calil, da Calil&Calil Centro de Estudos e Formação de Patrimônio, o brasileiro ainda não enxerga o cartão de crédito como meio de pagamento. “As pessoas multiplicam o poder”, diz. Isso significa ter mais de dois cartões na carteira, atitude que o consultor não aprova.

Na visão de Renata Pedro, economista da Proteste, o consumidor usa o cartão de crédito como extensão de renda. Esse comportamento, comum no também caro cheque especial, reflete outro dado preocupante. Segundo o último levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), divulgado no início de janeiro, 75,2% dos 18 mil brasileiros ouvidos apontam como principal dívida o dinheiro de plástico. Para Oliveira, da Anefac, não é mais necessário ter muitos cartões como antigamente. “Quando a inflação era alta, até meados de 1994, fazia sentido ter mais cartões, até porque determinadas lojas não aceitavam alguns cartões. Só que de lá pra cá, esse cenário mudou”, diz.

Essa é uma das características que ajuda a engrossar o saldo de transações com cartão de crédito no país, que atingiu o recorde histórico de R$ 135,2 bilhões em novembro passado, segundo o Banco Central. O volume do rotativo somou R$ 26,4 bilhões naquele mês.

Mais um problema é o famoso ‘cabe no bolso’, que faz com que o consumidor não olhe os juros que estão embutidos no financiamento. “A pessoa prefere parcelar a negociar, o que acaba sendo um grande negócio para a instituição financeira”, afirma Calil.

Saber o que está sendo efetivamente cobrado na conta do cartão também parece distante da realidade dos clientes. “A gente arrecadou faturas de consumidores e vimos efetivamente o que é cobrado. Não foi uma informação fácil de ser obtida, a falta de transparência das instituições é um problema”, destaca Renata Pedro, economista da Proteste. De acordo com o professor da FGV, Samy Dana, também autor do levantamento, esses custos embutidos ficam invisíveis. “Os encargos não são abertos. Em alguns casos, como no financiamento de automóveis, esses valores são informados. Mas de qualquer forma, os encargos existem para todos os bancos”, enfatiza.

Diante das altas taxas no rotativo, as grandes instituições tentam, a todo custo, driblar a situação, desenvolvendo condições especiais para contratação de crédito e programas de orientação financeira. O Valor procurou os seis principais bancos de varejo para saber o que é oferecido como alternativa ao rotativo.

De olho nas despesas de início de ano, como IPVA, IPTU, gastos com material escolar, entre outros, o Santander diminuiu as taxas do crédito pessoal contratado até o último dia de janeiro. O prazo pode chegar a 48 meses, com taxas a partir de 1,29% ao mês e descontos que variam conforme o perfil do correntista. “Existe também a opção de usar o cheque especial, uma das modalidades com taxa de juros mais altas, por 10 dias sem pagar taxa”, diz Paulo Duailibi, superintendente executivo de produtos de varejo do Santander. Segundo ele, os gerentes costumam sugerir essa operação para quem precisa de crédito por curtíssimo prazo, porém, a alternativa não é recente. Para ter acesso ao crédito, no entanto, é preciso ser correntista da conta Santander Master.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.