Crédit Agricole fará baixa contábil de 2,5 bilhões de Euros
O Crédit Agricole anunciou ontem que vai registrar prejuízo em 2011, dar baixa contábil em € 2,5 bilhões em seus ativos e cortar 2,35 mil empregos para encolher suas operações de banco de investimento, em seu segundo alerta sobre os resultados neste ano.
O alerta reflete a pressão cada vez maior sobre as instituições de crédito para restringir atividades de risco e atender os padrões mais rigorosos de capital, mesmo enquanto estão às voltas com o declínio dos mercados e a piora das economias. O aprofundamento da crise das dívidas da região do euro abalou os bancos franceses em particular, uma vez que as fontes tradicionais de financiamento em dólar evaporaram-se.
“Tudo isso são coisas que já esperávamos que acontecessem em algum momento, mas colocar tudo isso em um mesmo trimestre, com o mercado do jeito que está, não ajuda em nada”, disse um analista que trabalha em Londres e não quis ser identificado.
O banco segue os passos de seus rivais domésticos de maior porte, BNP Paribas e Société Générale, que também anunciaram cortes de postos de trabalho, principalmente na área de banco de investimento, em meio aos esforços para reduzir o endividamento.
A pressão sobre o capital e liquidez dos bancos levou à especulação recorrente de que acabarão precisando recorrer a pacotes de resgate governamental, embora o executivo-chefe do Crédit Agricole, Jean-Paul Chifflet, tenha negado que a instituição precise de qualquer tipo de auxílio para cumprir a nova regulamentação mais rigorosa, do acordo da Basileia 3.
“Alcançaremos o Basileia 3 com nossos próprios recursos”, disse o executivo-chefe em teleconferência.
Isso exigirá que o banco tome alguns remédios amargos. O Crédit Agricole, que nos últimos anos abandonou suas humildes origens agrícolas em favor do crescimento internacional, sairá de 21 dos 55 países nos quais opera e fechará setores inteiros, como o de commodities e derivativos de ações.
A baixa contábil inclui € 1,3 bilhão para refletir o encolhimento de sua divisão de banco de investimento e € 1,23 bilhão referente à perda de valor de participações minoritárias, como as que o banco possui no Bankinter, da Espanha, e Banco Espírito Santo, de Portugal.
Em entrevista ao jornal “Les Echos”, Chifflet disse que o Crédit Agricole estuda a venda das participações nas duas instituições, mas descartou a possibilidade de se desfazer de sua parte no Newedge, empreendimento conjunto com o Société Générale.
O banco também desistiu das metas financeiras para 2014 e eliminou a distribuição de dividendos relativos a 2011, para preservar capital.
A previsão de analistas até este alerta era de que o terceiro maior banco francês tivesse lucro anual de € 2,4 bilhões, depois de ter sido rentável em todos os trimestres anteriores.
Em julho, o banco já havia alertado que o aprofundamento dos problemas no Emporiki Bank, sua unidade na Grécia, cortaria quase € 1 bilhão dos resultados do primeiro semestre.
Os cortes incluem 1,75 mil postos de trabalho nas áreas de banco de investimento e atendimento a empresas, que empregam 13 mil pessoas, e outros 600 nos braços de financiamento aos consumidores e “factoring”. A maioria dos cortes será fora do país. Na França, serão cortados 550 postos de trabalho no segmento de banco de investimento e 300 na divisão de financiamento ao consumo.
As ações do Crédit Agricole despencaram na sessão de ontem e fecharam em baixa de 6,7%, cotadas a € 4,23, como parte de uma derrocada generalizada dos papéis de bancos franceses, que incluiu declínios de 8% no Société Générale e de 7,4% no BNP Paribas.
Os mais de seis meses de intensa agitação nos mercados decorrente da crise das dívidas da região do euro atingiram os bancos de investimento de todo o mundo, ao afetar suas receitas com a negociação de bônus e ações, e desencadearam uma onda de demissões na Ásia, Estados Unidos e Europa.
Na semana passada, o Citigroup foi um dos últimos a anunciar cortes, enquanto bancos em alguns dos pontos centrais da crise – como os italianos UniCredit e Intesa Sanpaolo – também estão demitindo milhares de pessoas.
Foram anunciados mais de 120 mil cortes de emprego neste ano e muitos no setor temem que a conta possa superar a observada no auge da crise financeira em 2008, já que as reduções deverão prosseguir em 2012.
Fonte: Lionel Laurent e Matthieu Protard | Reuters, Valor Economico