Basileia 3 afetará oferta de crédito a comércio exterior, afirma pesquisa
As cartas de crédito e outras formas de financiamento do comércio exterior estão bem mais baratos e mais disponíveis, com o mercado financeiro mostrando boa recuperação do choque da pior crise dos últimos tempos. No entanto, o novo acordo de Basileia 3 sobre exigência de capital próprio dos bancos continua a inquietar o setor financeiro global.
É o que mostra uma pesquisa anual da Câmara de Comércio Internacional (CCI) com 210 bancos de 94 países, divulgada ontem em Zurique. Uma grande maioria, 83%, indicou que teve aumento da demanda por financiamento comercial, comparado a 50% em 2009, e 73% disseram que puderam atender aos pedidos.
A pesquisa mostrou que a média de custo para carta de crédito nos grandes emergentes, como o Brasil, caiu de 150 a 250 pontos em 2009 para 70 a 150 pontos em 2010 (100 pontos-base é igual a 1%). A recuperação continua a ser, porém, desequilibrada, com os países mais pobres em persistente dificuldade para financiar importações a custos acessíveis O “trade finance” é considerado “graxa” para facilitar o comércio internacional. Mais de 90% das transações comerciais envolvem alguma forma de crédito, seguro ou garantias.
A União de Berna, como é chamada a associação internacional de seguradoras de crédito, fez seguros de US$ 1,2 trilhão de exportações. Registrou em 2010 calote de US$ 375 milhões na Itália, Grã-Bretanha, Espanha e Alemanha. Um grupo de emergentes – Rússia, Ucrânia, Brasil, Turquia e México – também apareceram com calotes de US$ 280 milhões, ou 20% do total, apesar da exposição nesses países ser de apenas 7% do total dos membros da União de Berna.
O problema para o trade finance continua a ser a adequação as novas regras de Basileia 3. Esse tipo de operação é classificado como fora do balanço e sujeito a novo limite de alavancagem que reduz a capacidade dos bancos a operações ditas mais arriscadas. Ou seja, trade finance é classificado como similar a derivativos.
O ICC reclama que Basileia 3 ignora o de fato de que os contratos no comércio internacional são garantidos pela própria mercadoria, e não se trata de especulação. Na forma atual, os bancos vão ter de preservar 100% do valor do empréstimo ao comércio internacional como hedge contra calote, comparado a 20% atualmente nas cartas de crédito para exportação ou importação.
Boa parte dos bancos diz que Basileia 3 vai, assim, ter impacto “negativo ou muito negativo” no financiamento do comércio mundial.
Fonte: Assis Moreira, Valor Economico