FGC vai financiar venda de ativos de Silvio Santos
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) poderá financiar os interessados em adquirir qualquer uma das empresas do grupo Silvio Santos dadas em garantia no empréstimo de R$ 2,5 bilhões concedido em novembro pela instituição ao empresário – operação que evitou a liquidação do banco PanAmericano. “Nosso objetivo é criar facilidades para a venda desses ativos”, afirmou Gabriel Jorge Ferreira, presidente do conselho de administração do FGC.
O procedimento para salvar o PanAmericano envolveu a emissão de debêntures pela holding do empresário Silvio Santos, compradas pelo FGC. Os títulos têm vencimento em dez anos e carência de três. O pagamento semestral será corrigido pelo IGP-M. A ideia é repassar essa dívida aos futuros compradores, se necessário, mas as condições não serão exatamente as mesmas.
Antonio Carlos Bueno de Camargo Silva, diretor executivo do FGC, explica que os encargos até podem permanecer iguais. Mas, nesse caso, o valor da empresa a ser vendida seria elevado, para comportar uma remuneração maior para o fundo. Tanto Silva como Ferreira contestam a avaliação de que o empréstimo de R$ 2,5 bilhões concedido pelo FGC ao grupo Silvio Santos foi feito sem a cobrança de juro. “O IGP-M tem superado a casa dos 10% ao ano. Isso por acaso não é juro?”, questiona Ferreira.
Ainda assim, o FGC está disposto, ao que parece, a melhorar as condições da transação. As cinco empresas ligadas diretamente à holding Silvio Santos Participações(SSP) – a fabricante de cosméticos Jequiti, a rede de televisão SBT, a Liderança Capitalização, a BF Utilidadese o próprio PanAmericano – foram avaliadas em R$ 2,7 bilhões, tendo por base o valor patrimonial. Os executivos do FGC acreditam que o valor econômico das empresas possa superar essa cifra.
Ao concordar em repassar parte da dívida contraída pelo grupo Silvio Santos a um comprador, o FGC pretende facilitar a venda. Os executivos do FGC destacam ainda que a venda de apenas uma das empresas do grupo pode garantir o pagamento de quatro prestações do empréstimo, por exemplo, dando prazo adicional de dois anos para que o empresário venda o próximo ativo, já que o pagamento das debêntures é semestral.
Com um prazo maior, o grupo Silvio Santos pode conseguir ainda “vender melhor” suas empresas. O banco PanAmericano, considerado o ativo mais líquido, é, nesse sentido, um caso emblemático. Se o empresário Silvio Santos tivesse se desfeito da instituição financeira assim que o rombo veio à tona – e havia interessados, segundo os executivos do FGC -, provavelmente teria vendido o banco a preço de banana.
As apostas do mercado sobre qual seria a primeira empresa do grupo a ser vendida se concentram, agora, na fabricante de cosméticos Jequiti. Na lista de prioridades, o SBT está em último lugar, já que Silvio Santos tentará se desfazer primeiro daquelas empresas com as quais tem menos afinidade pessoal.
O empréstimo concedido pelo FGC ao grupo Silvio Santos foi interessante não só para o empresário. Se tivesse sido decretada intervenção no PanAmericano, o FGC seria obrigado a comparecer com as garantias as quais os depositantes têm direito – nesse caso, um montante avaliado em R$ 2,2 bilhões. Prejuízo, portanto, na veia.
Fonte: Aline Lima, Valor Economico