TI entrega os pontos: traga o seu próprio dispositivo e trabalhe feliz
Nos Estados Unidos, a onda do BYOD (bring your own device – traga seu próprio dispositivo) está tomando conta das empresas. O termo foi criado para definir o atual momento da consumerização da TI, na qual os funcionários dominam a tecnologia atual e passeiam com seus aparelhos na empresa, em casa, no local de ensino, etc. Esse novo usuário quer conexão, acesso ao sistema corporativo e dados. Não importa a hora, não importa o lugar.
É praticamente uma invasão, e que foi detectada por uma pesquisa da Citrix com 700 gestores e profissionais de TI. A maioria (92%) disse que os funcionários já usam o próprio dispositivo no trabalho, com regras sobre isso ou não. Outros 94% declararam que irão implantar uma política de BYOD até 2013.O levantamento se concentrou na Europa e EUA. Outro estudo da Forrester, realizado a pedido da Dimension Data, com 546 empresas, mostra que dois terços das companhias estão interessadas no assunto por pressão dos usuários em busca de produtividade.
No Brasil não há pesquisa semelhante. Mas já existem pioneiros. A fabricante de aviões Embraer adotou o BYOD em setembro de 2011, após estudos dentro do programa interno de excelência empresarial. O funcionário pode levar qualquer dispositivo para o trabalho (tablet, smartphone, notebook), independentemente da versão ou sistema operacional. A única exigência é que a configuração seja capaz de aceitar o desktop virtual da companhia.
Com isso, os usuários acessam o sistema corporativo e os dados que precisam para trabalho quando quiserem. A área de TI está testando o modelo e acredita que a escolha foi acertada e pode trazer bons resultados. “É crível que haja alguma economia no futuro, mas no momento o objetivo é facilitar a vida do usuário e oferecer mais uma opção segura de acesso remoto dentro do contexto de mobilidade e colaboração”, explica o diretor de sistemas de informação, Alexandre Baulé.
A segurança e algumas questões culturais foram o maior problema. Na Embraer, a segurança é separada da TI e, como em quase toda empresa, tem um perfil mais conservador. “Foi mais difícil convencê-la, mas o uso de uma plataforma segura de virtualização isolando o acesso direto à rede corporativa superou esta dificuldade”, argumenta Baulé. Do lado da TI, a transformação foi de posicionamento estratégico. Ela deixou ser impositiva e virou colaborativa. “Busca-se mais adaptação à necessidade dos usuários mesmo em detrimento de padronização”, comenta o executivo.
A parte tecnológica para o BYOD tem sido facilitada pela oferta de fabricantes e prestadores de serviço que já dispõem de soluções por conta da demanda global. Pense numa marca tradicional do mundo de redes e telecomunicações e ela certamente terá algo pronto para o mundo BYOD. “É um caminho sem volta e deve ser tão forte e transformador quanto o downsizing, que levou os PCs para as mesas de todos os funcionários”, alerta o vice-presidente da Enterasys no Brasil, Reinaldo Opice.
E ainda há uma agravante. A mudança dos PCs demorou alguns anos, o BYOD já é mais rápida. “Veja os tablets, por exemplo, eles chegaram há cerca de um ano e o impacto nas empresas é evidente nesse curto período”, comenta Opice.
E tudo pode ainda ser mais complexo. Tendências como o Big Data, crowdsourcing (uso de mão-de-obra dispersa e momentânea), a chamada “internet das coisas” (sensores, conexão e softwares embarcados em praticamente tudo), colaboração, TI verde, virtualização e cloud circulam junto com o BYOD e podem ser apenas parte de outra grande quebra de paradigma da TI. Qual o nome que isso terá?
”Eu chamo de ‘enterprise megatrend’, uma transformação que irá durar alguns anos com mudanças radicais na TI”, diz o diretor de alianças e pré-vendas da Dimension Data, Alexandre Martinez. É um alerta para que as empresas não percam a onda do “traga seu próprio dispositivo”. Caso contrário, você se sentirá numa festa ao estilo “traga a sua cerveja” sem uma cerveja na mão.
Fonte: Gilberto Pavoni Junior | especial para InformationWeek Brasil