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Responsabilidade Socioambiental: Instituições já se preocupam mais com risco ambiental

Ao fazer a análise de um ativo, fundos de pensão já vetam ameaças ambientais e clientes potenciais de crédito são classificados de acordo com a situação de suas reservas legais de floresta ou o descarte de produtos tóxicos. O dano ao capital natural e social de um empreendimento subiu na agenda de bancos e fundos de pensão brasileiros como componentes importantes da gestão de risco.

Recentemente, analistas do fundo de pensão Real Grandeza ­ que tem entre os patrocinadores Furnas e a Eletronuclear, e quase R$ 13 bilhões de patrimônio ­ rejeitaram a debênture de uma empresa que tinha risco de imagem pelo envolvimento em um processo ambiental. “Não tem jeito, temos que levar em consideração aspectos de sustentabilidade para minimizar o risco dos investimentos e ter mais desempenho”, diz Márcia De Luca Micheli, analista de investimentos da Real Grandeza.

“Sustentabilidade não é mais tema de nicho. As reuniões internacionais de clima colocaram o tema na agenda dos negócios”, diz Luiz Fernando Amaral, gerente de responsabilidade socioambiental corporativa no Rabobank.

O Real Grandeza e o Rabobank têm metodologias de como avaliar o risco ao capital natural e problemas de sustentabilidade dos clientes. Em cada uma das agências do Rabobank há um agrônomo especialista em questões socioambientais com dupla função ­ informar os produtores das regras socioambientais e avaliar o que está vendo nas fazendas em termos de cobertura florestal, segurança dos trabalhadores, práticas agrícolas e assim por diante. “Monitoramos o portfólio”, diz Amaral.

Segundo ele, o principal benefício da sustentabilidade nos negócios, que começa como análise de risco, evolui para uma melhoria de gestão. Ele ilustra, por exemplo, com a queda de multas ambientais entre seus clientes e o aumento da prática de plantio direto.

A Real Grandeza tem um modelo objetivo para medir o grau de comprometimento dos clientes com práticas socioambientais. Há setores vedados ­ armas, fumo, bebidas alcoólicas e pornografia. Depois do filtro da “vedação”, os analistas aplicam um questionário para classificar o grau de risco socioambiental do ativo. “Queremos investir em empresas que se preocupam com o descarte de resíduos na produção, mais eficiência no uso da água e da energia, que reciclam, que retém talentos porque se preocupam com o bem­estar do funcionário”, diz. “Têm gestão otimizada e dão mais retorno.”

A Trucost, empresa de consultoria baseada no Reino Unido, analisou o impacto sobre o ambiente de 45 setores econômicos no Brasil e aplicou estas variáveis a financiamentos feitos a empresas por bancos e fundos de pensão brasileiros. O custo do capital natural destas atividades, em um ano, é superior a R$ 1,6 bilhão, estima o relatório “Exposição do Setor Financeiro ao Risco do Capital Natural”, encomendado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela GIZ, a agência alemã para a cooperação internacional.

O estudo coloca foco em um conceito novo, o capital natural. “Uma árvore absorve CO2 e estoca carbono e contribui para que a floresta produza água, duas coisas importantes para a economia, mas que não entram no valor da madeira”, disse Richard Mattison, CEO da Trucost, em seminário na semana passada na Febraban. “Se isso for considerado, uma árvore vale 20 vezes seu valor em madeira.”

Os setores com os maiores custos de capital natural são, de acordo com o relatório, a pecuária, o cultivo de soja e a extração de petróleo e gás. Para cada R$ 1 milhão de receitas, a pecuária brasileira gera R$ 22 milhões de impactos ambientais, principalmente desmatamento e emissões de gases­estufa, estima o relatório. No caso da soja, para cada R$ 1 milhão de receita, os impactos ambientais somariam quase R$ 3 milhões.

Mattison lembra que a escassez de recursos naturais traz cada vez mais impactos à economia. Cidades com crise hídrica significam, por exemplo, menor receita para fabricantes de detergentes porque os clientes não podem usar água como antes, ilustra ele.

“Há que se ter uma visão sistêmica que incorpore o capital natural e o capital social aos negócios se os bancos quiserem ser indutores de novos comportamentos”, diz Marina Grossi, presidente do CEBDS. “Esta é uma nova fronteira para que os agentes financeiros se diferenciem na nova economia.” Ela lembra a importância do assunto nas negociações do acordo climático global, em dezembro, em Paris. “Na COP 21, finanças estão no centro do debate”, disse.

“Hoje a economia tradicional não incorpora as questões ambientais, quanto vale ou não o capital natural e quanto isso impacta as receitas das empresas”, diz Mario Sergio Vasconcelos, diretor de relações institucionais da Febraban. Segundo ele, este tipo de abordagem ajuda a encaminhar outro ponto: como se faz com que produtos ambientalmente corretos sejam valorizados pelos consumidores e se desestimule a compra dos demais. “Porque a decisão racional no mercado é em cima do preço. Se se conseguir incorporar externalidades ambientais positivas e negativas, talvez o mercado tenha uma direção diferente da que tem hoje.”

Fonte: Valor Economico, Daniela Chiaretti

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.