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Repórter passa 24 h em Cumbica e testemunha filas e improviso

No saguão de check-in do aeroporto de Guarulhos, lotado, a dona de casa Maria da Conceição Pereira, 57, aguarda o momento de embarcar. Está em uma cadeira de rodas porque não consegue andar. Ela também não ouve, não fala e perdeu a coordenação motora, sequelas de um câncer alojado no cérebro.

“A senhora poderia levantar? Ei! A senhora poderia levantar?”, pergunta-lhe apressado o balanceiro Luis Rodrigues, da companhia Webjet, que deve levar Maria até Brasília. Ela não pode.

“O avião não vai parar no ‘finger’?”, pergunta o marido de Maria, o professor João Alves, 59, referindo-se às “pontes” que ligam o avião diretamente ao terminal.

Não, o avião da Webjet com destino a Brasília não terá acesso a uma das 25 pontes em funcionamento no aeroporto de Guarulhos (no pátio de manobras há 61 posições de estacionamento de aeronaves, mas apenas 25 têm pontes de embarque).

“Então, precisamos do ‘ambulift'”, pede o marido. Trata-se de um veículo dotado de elevador, para transporte de passageiros com deficiência de locomoção.

O balanceiro sai e retorna em poucos minutos, informando que a empresa não possui o equipamento e que a Infraero (responsável pela administração do aeroporto) também não tem um à disposição para emprestar. “O jeito será içá-la no braço.”

Por falta de equipamento especial, passageira cadeirante é carregada em escadaria para embarcar em avião
Por falta de equipamento especial, passageira cadeirante é carregada em escadaria para embarcar em avião

Às 17h15, sob o olhar alarmado do filho de Maria, dois funcionários da companhia subiram a escada do avião arrastando a cadeira de rodas. Sobre ela, sem cinto ou qualquer equipamento de segurança, estava a mulher doente. “É difícil acreditar que esse aeroporto fique pronto para acolher com dignidade os torcedores que virão para a Copa de 2014”, protestou o marido de Maria.

A reportagem da Folha passou 24 horas no maior aeroporto do país em área construída (183 mil metros quadrados) e número de passageiros transportados por ano (26,8 milhões), entre outros números maiúsculos. É ainda o recordista mundial em apreensão de drogas, com a marca de 1.800 kg de cocaína em 2011.

Inaugurado em 1985, e ampliado com a construção do terminal 2 (1993), o aeroporto enfrenta o desafio de acomodar o boom aéreo.

Enquanto não fica pronto o novo terminal de passageiros (com inauguração parcial prevista para a Copa de 2014), o jeito é improvisar.

Carros estacionados em canteiro por falta de vagas
Carros estacionados em canteiro por falta de vagas

É o que acontece no estacionamento. A Infraero disponibiliza hoje 4.768 vagas. Em uma quinta-feira, a Folha flagrou 132 carros que, por falta de vagas, escalaram as ilhas, invadiram áreas exclusivas de pedestres e até se arriscaram a parar no acostamento da estrada de acesso.

PARA TURISTA VER

A fiscalização fingia que não via. A 20 metros das guaritas da saída do estacionamento, um automóvel Citroën C4 empoleirado em um barranco atraía a atenção de turistas, equilibrando-se apenas em duas rodas.

O estudante húngaro Antal Kazinczy, 19, fotografava o carro e mandava em SMS para Budapeste, onde vive. A legenda: “Funny” (divertido). Mas o médico Carlos Alberto Lopes Vicente, 51, que estacionou sobre um canteiro, não via graça. “Paguei R$ 12 por isso?”, perguntava.

Tem coisas que são onipresentes em Cumbica, como o cheiro de pão de queijo, para o qual a maioria dos estrangeiros torce o nariz ao baixar nos saguões. Nas 24 horas do dia, tem sempre uma lanchonete assando uma fornada.

Mas o guichê de achados e perdidos –fazer o quê?– fica fechado em 38% do dia. Se você perder um pacote e tiver de embarcar daí a pouco, torça para que seja entre as 8h e as 23h45. Ah, o guichê também fecha entre o meio-dia e as 13h, “para o almoço”, explica um segurança. A Lotérica Tô Rico, ciente do movimento logo cedo, abre às 7h –e não fecha no almoço.

O delegado-chefe da Polícia Federal no aeroporto, Antonio Wagner Gonçalves de Morais Castilho, sabe que a reportagem perguntará sobre as imensas filas que se formam no embarque e desembarque internacional. Ele já se adianta: “Não é o tempo de espera que é longo, são as acomodações que são impróprias”. Ah, bom.

O aeroporto no limite conta com um só oásis de tranquilidade: a sala ecumênica. Pelo menos, depois de tantas provas, dá para rezar em paz.

Fonte: Laura Capriglione, Folha de S.Paulo

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.