Redução de juros da Caixa e BB beneficia ‘poucos’, diz ProTeste
A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (ProTeste) encaminha ao governo na segunda-feira documento em que mostra que a redução de juros anunciada pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil beneficia “poucos” e não está disponível para a maioria dos consumidores.
Em visita a agências dos dois bancos em São Paulo e no Rio, pesquisadores constataram que as taxas menores só podem ser conseguidas se os consumidores forem correntistas, além de estarem sujeitos à análise de crédito.
“O fato é que consumidor não consegue se beneficiar do corte de taxas das principais linhas de crédito nos patamares anunciados, como mostram propagandas. É preciso ter cautela antes de sair trocando de banco”, afirma a advogada Maria Inês Dolci, coordenadora da ProTeste e colunista da Folha.
O documento será entregue ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça, à Casa Civil e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Para verificar se os juros anunciados estavam em prática, os pesquisadores simularam algumas situações.
Na visita às agências, pediram informação, por exemplo, sobre o financiamento de um carro (valor de R$ 29.990), com entrada de 40% e pagamento em 24 meses. Na Caixa, o juro oferecido em São Paulo foi de 1,92% ao mês. No Rio, de 1,7%.
Segundo gerentes consultados pelos pesquisadores, a taxa mínima de 0,98% somente seria concedida se o cliente desse metade do valor do carro de entrada e financiasse em 12 meses.
NEM TÃO BAIXAS
“Nem todos podem pagar em um ano nem têm a entrada exigida”, diz Dolci. “Antes do anúncio do corte de juros, a Caixa já oferecia juros de 1,19% a 2,25%. Ou seja, bem próximas às que estão oferecendo agora.”
No BB, a constatação foi a mesma. No Rio, a taxa para o financiamento em 24 vezes é de 1,46% ao mês. Em São Paulo, 1,02% ao mês.
O financiamento do carro com a taxa mínima anunciada pelo BB (0,99%) só seria possível após três meses da abertura da conta, além de ampla análise de crédito e do relacionamento do cliente com o banco, diz Tâmara Isaac, economista da ProTeste.
EMPRÉSTIMO PESSOAL
No empréstimo pessoal, os pesquisadores foram informados que o juro de 2,39% ao mês é oferecido somente para quem recebe salário na Caixa, como mostra a propaganda do banco.
No Banco do Brasil, a taxa fornecida no Rio para clientes regulares foi de 5,10% a 6,79% ao mês. Segundo a ProTeste, os gerentes não souberam informar qual a taxa para os que tinham conta-salário e disseram que o percentual dependeria da análise de crédito do cliente.
“Ficou claro que a estratégia do governo de usar os bancos públicos para forçar a queda nos ‘spreads’ (diferença entre o custo da captação e o valor cobrado do tomador final) e assim impulsionar o crescimento do país não é para todos”, diz Dolci.
O QUE VERIFICAR
Antes de trocar de banco, a especialista recomenda verificar o custo total de serviços e tarifas da nova conta.
Também aconselha a negociar com o gerente da agência em que o consumidor já tem conta. “Os bancos não querem perder clientes. Por isso é hora de barganhar e conseguir juros ainda menores do que os oferecidos.”
Fonte: Claudia Rolli, Folha de S.Paulo