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Porto Forte deu crédito a pai de controlador

FraudesA Porto Forte Fomento Mercantil, pivô de um suposto esquema de pirâmide que vinha captando recursos de executivos do mercado financeiro, usou boa parte do dinheiro levantado para fazer um empréstimo a uma fazenda do pai do principal sócio da factoring. Documentos obtidos pelo Valor atestam que a fazenda Santa Marina Agropecuária Comercial, de propriedade dos pais de Guilherme Affonso Ferreira de Camargo, o presidente da Porto Forte, está inadimplente com a Porto Forte. O valor dessa dívida, segundo pessoas a par do assunto, estaria entre R$ 6 milhões e R$ 9 milhões. Não está claro se esses créditos foram colocados dentro do fundo Porto Forte Multissetorial, um FIDC da factoring com patrimônio de R$ 50 milhões.

A Porto Forte adquiriu recebíveis de clientes da Santa Marina, que assumiu a obrigação de garantir esses créditos. Os recebíveis viraram pó e a Santa Marina ainda não fechou acordo para pagar a dívida.

A empresa será alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Nesse primeiro momento, a autarquia não quis se pronunciar sobre o episódio, mas no radar da apuração deve estar não só o FIDC Porto Forte Multissetorial, que comprava recebíveis de pequenas e médias empresas, que já está no escopo natural da fiscalização, como também a oferta de valores mobiliários pela tesouraria da empresa. Conforme revelou o Valor ontem, com uma política de dividendo fixo obrigatório, a Porto Forte vendia e recomprava ações preferenciais, tendo angariado para a sociedade mais de 450 investidores, entre eles José Roberto Ermírio de Moraes Filho, do clã do grupo Votorantim. O esquema se revelou um esquema semelhante a de pirâmide e, pela quantidade de aplicadores que conseguiu atrair, isso poderia ser interpretado como oferta pública e, portanto, passível de registro na CVM.

A Porto Forte é uma sociedade anônima de capital fechado e em agosto do ano passado fez uma emissão privada de R$ 4,5 milhões em debêntures com prazo de um ano, garantindo remuneração de 170% do CDI.

O presidente da empresa – que teria sido afastado pelos outros sócios -, Guilherme Affonso Ferreira de Camargo, foi autorizado em outubro pelo colegiado da CVM para atuar como administrador de carteira de valores mobiliários. Na apreciação do pedido de autorização, a presidente da autarquia, Maria Helena Santana, foi voto vencido. Ela considerou que a atividade desempenhada por Camargo com a securitização de créditos e a estruturação de fundos de recebíveis em direitos creditórios não representava uma experiência válida para evidenciar sua aptidão para a gestão de recursos de terceiros.

Os recursos captados pela tesouraria da Porto Forte com a venda de ações costumavam ser direcionados à compra de cotas subordinadas do fundo de recebíveis por meio da própria holding, que patrocina o fundo. Essas cotas representam um colchão de liquidez e suportam a inadimplência da carteira, garantindo, portanto, um rendimento maior a esses investidores – no ano passado proporcionaram retorno de 46%.

Há dúvidas, porém, se ao usar a holding como veículo de investimento no fundo, a Porto Forte não estaria driblando a regulamentação da CVM que disciplina os fundos de recebíveis, restringindo esse tipo de carteira a investidores qualificados, com aplicação mínima de R$ 300 mil. A Porto Forte aceitava aportes a partir de R$ 25 mil e foi dessa forma que conseguiu ter uma base pulverizada.

O fundo de recebíveis é administrado pela Socopa, que informou que, até 25 de fevereiro, o fundo encontrava-se em “regular funcionamento”, embora tivesse recebido “diferentes pedidos de resgate de cotas seniores” e não descartasse a possibilidade de novos. Em relação às cotas subordinadas, que até o dia 22 correspondiam a 31,12% do patrimônio líquido do fundo, a administradora informou que não recebeu pedido de saques.

A Socopa destacou, contudo, que “conflitos societários e dificuldades financeiras de cotistas ou prestadores de serviços do fundo são e continuarão sendo avaliados” por ela, na medida em que possam afetar o funcionamento do fundo.

Ontem, segundo o Valor apurou, teria havido pedidos de resgate de cotistas seniores de R$ 2 milhões aproximadamente.

A Perfin informou aos clientes que não possui nenhum investimento, direta ou indiretamente, na Porto Forte e que seus fundos abertos não aplicam em crédito privado. A gestora esclareceu ainda que José Roberto Emírio de Moraes Filho faz parte do quadro de sócios capitalistas da Perfin, com participação minoritária, tendo o investimento na Porto Forte como parte do seu portfólio pessoal.

Fonte: Vanessa Adachi, Adriana Cotias, Alessandra Bellotto e Carolina Mandl, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

2 thoughts on “Porto Forte deu crédito a pai de controlador

  • Affonso Junqueira

    Lamentavel!
    Fatos como este acontecem porque de um lado ha pessoas mal intencionadas, procurando brechas para dar um golpe e de outro lado pesoas gananciosas que sao atraidas por promessas de ganhos mirabolantes em curto espaço de tempo.
    No final acontece o que todos sabemos: alguns com dinheiro no bolso e nada a responder para a justiça e outros com o prejuízo na mão!!

  • walter nobre

    Sou do Ramo e fico assustado como a CVM conduz tudo isso, pois temos “espertos” e oportunistas demais neste mercado e que desvirtuam a verdadeira função do FIDIC.
    Cabe aos Auditores independentes e bancos envolvidos, sairem da “Letargia” e fazerem a Gestão de fato da Carteira e pelo menos inibindo atentados.
    Ja houve o caso do UNION que não sabemos o desfecho a favor dos investidores e sabe-se por rumores, que os mesmos ja estão organizando um novo Fundo, pode?
    Se for fato, com a palavra a CVM, que tem obrigações equivalentes ao BancoCentral, será que estarão investigando e preparando um Pacote de Medidas contra este Tipo de Absurdo?
    Espero com Sinceridade e para o bem de todo o Mercado de Capitais, que estes “indivíduos” sejam enquadrados na Lei do Colarinho Branco e que sejam proibidos de Fato de exercerem qualquer atividade no âmbito Financeiro, evidentemente se forem condenados.

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