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A batalha pelo CDI

De um universo com cerca de 300 fundos multimercados com histórico superior a um ano, apenas 96 conseguiram superar o CDI – o juro interbancário, que serve de referência para a aplicação – nos últimos 12 meses terminados em junho. Entre os gestores que entregaram retorno acima do referencial, prevaleceram estratégias de arbitragem com ações, apostas em crédito privado e títulos indexados à inflação. É o que aponta levantamento realizado pela Economática a pedido do Valor, que considerou ainda como critérios de seleção as carteiras com taxa de administração acima de zero e uma média diária de cotistas superior a cem em 12 meses. Fundos restritos e exclusivos também não entraram na amostra.

Desde o estouro da crise financeira mundial na segunda metade de 2008, que interrompeu um ciclo de pelo menos cinco anos de bonança, os multimercados nunca foram os mesmos. É uma questão conjuntural, avalia o estrategista da gestora de fundos do BTG Pactual, João Scandiuzzi. “O mundo ficou mais complicado depois da crise, que deixou legados importantes como o problema do endividamento na Europa e a desaceleração econômica americana”, afirma.

Isso tem prejudicado o desempenho dos mercados globais, que foram surpreendidos ainda com inúmeros choques ao longo do ano como a catástrofe natural no Japão e os conflitos no Oriente Médio, acrescenta o executivo. Do lado interno, a crise mudou a forma de se fazer política monetária. O governo brasileiro recorreu a medidas complementares à alta do juro para conter a pressão inflacionária, o que lhe custou a perda de confiança dos investidores. E resultados aparentemente não tão eficientes, já que os preços seguem em alta e podem levar a um ciclo de aperto monetário maior do que se esperava.

Sem tendências claras, fica difícil para o multimercado ganhar dinheiro, afirma o diretor-executivo e sócio da JGP, Arlindo Vergaças. Ele destaca ainda que os mercados de juros, bolsa e câmbio têm oscilado em uma faixa muito estreita de preços, reduzindo o espaço para ganhos. O juro alto do país é outro problema apontado por Vergaças. Com o referencial de rentabilidade dos fundos em nível elevado, o gestor, em geral, acaba assumindo uma postura extremamente cautelosa para não perder, o que pode significar deixar passar boas oportunidades. Esse ambiente também prejudica o desempenho das ações em bolsa, acrescenta.

A JGP tem o multimercado mais rentável do levantamento, e é justamente uma carteira agressiva voltada para o mercado de ações, combinando investimentos de longo prazo com apostas táticas e operações de long/short. Nos últimos meses, conta Vergaças, a JGP optou por apostas de curto prazo e mais oportunistas nos segmentos de juros e bolsa, incluindo long/short. Mais recentemente, o executivo conta que a parcela de caixa foi elevada para níveis recordes, dada a perspectiva de piora do cenário nos países desenvolvidos do G-7 e nos emergentes, em função dos desafios para conter a inflação.

Outro fundo que se destaca na lista é um long/short da GAP Asset Management. Com histórico de quase sete anos, o gestor Ivan Guetta conta que o único ano em que a carteira ficou abaixo do CDI foi na crise de 2008. Ainda assim, rendeu metade do indicador de referência. “A principal característica do fundo é a consistência na entrega de resultados, associada ao fato de não fazer apostas direcionais”, diz.

A gestão, explica o executivo, não depende dos humores de mercado e, sim, da identificação de oportunidades de valor relativo, em geral entre ações do mesmo setor ou entre uma cesta de papéis potencialmente de maior valor e o índice futuro. Todas as apostas, contudo, são baseadas nos fundamentos das empresas, afirma Guetta. Em junho, por exemplo, a carteira ganhou com a diferença entre compra de Vale e venda de CSN. Outro par que rendeu bons ganhos foi montado com Vivo na ponta comprada, apostando na alta, e Telemar, na venda, com a queda do papel.

No BTG Pactual, nos multimercados mais conservadores, o crédito privado tem sido a principal fonte de retorno, conta Scandiuzzi. Segundo ele, a concentração grande de vencimentos de emissões privadas levou a um aumento da demanda por títulos além das ofertas e consequente redução das taxas oferecidas. Para os fundos que já tinham papéis privados, afirma o executivo, isso significou ganho com a alta de preços.

As carteiras têm como foco títulos privados com alta liquidez e de primeira linha, tais como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), debêntures e Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs). Diversificação também é importante, acrescenta o executivo do BTG.

Ainda nos multimercados mais conservadores da casa, outra estratégia bem-sucedida, segundo Scandiuzzi, foi a de títulos públicos indexados à inflação. “Carregamos essas posições até o início de ano, diminuímos a exposição nesses últimos dois meses, mas devemos voltar a investir em agosto”, diz. Segundo ele, novas oportunidades vão surgir, depois da queda sazonal de preços esperada para julho e agosto. “Os juros reais estão interessantes e a inflação, acelerando.”

O segundo semestre ainda é uma incógnita, segundo os especialistas. Scandiuzzi espera uma redução das incertezas no campo doméstico, com a proximidade do fim do ciclo de aperto monetário. A bolsa pode surgir com oportunidades em algumas ações, mas o investidor deve ser seletivo, alerta o executivo. Guetta, da GAP, ressalta que os mercados são cíclicos. “Há períodos mais favoráveis que outros, o importante é o investidor confiar no gestor”, diz. Ele acredita, no entanto, que os multimercados têm capacidade para se adaptar a novos cenários, dada a flexibilidade maior.

Fonte: Alessandra Bellotto, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.