Ponta da cobrança é fundamental

Na compra e recuperação do crédito de varejo inadimplente, trabalhar em parceria com empresas de recuperação e cobrança é fundamental, diz Renato Mazzucchelli, presidente da RCB. Ele atua no mercado de crédito inadimplente desde 2007 e tem mais de R$ 5 bilhões em valor de face de créditos em atraso de 6 milhões de devedores sob gestão em fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). São créditos de pessoas físicas e de pequenas e médias empresas.

“Na ponta de cobrança, temos a Paschoalotto Serviços Financeiros como parceira”, afirma. São essas empresas que ligam para os clientes e tentam renegociar e recuperar os valores. A Credigy, do National Bank of Canada, é uma das grandes empresas de cobrança ativa nesse mercado, que compra carteiras para depois cobrá-las.

Segundo Renato Mazzucchelli, o mercado é complexo e exige muita infraestrutura. “A carteira de crédito em atraso é como um organismo vivo: tem movimento o tempo todo, de alguém pagando, alguém renegociando, e é preciso acompanhar “, diz.

“O mercado é tão incipiente no país, o judiciário é tão lento, a insegurança jurídica é tão grande, as transações são tão difíceis de entender que esse mercado não é para qualquer um”, afirma Rodrigo Moratelli, diretor de corporate finance da Orey Capital.

Moratelli já trabalhava com reestruturação de dívida de empresas quando o grupo português Orey adquiriu sua empresa, a MCA, em 2006. “Eu sabia tudo sobre dívida em atraso, mas foram os portugueses que nos mostraram o valor de comprar massas falidas e empresas em recuperação judicial, além do crédito inadimplente embutido”, afirma.

No ano passado, a Orey criou um fundo de investimento em participações (FIP) para adquirir massas falidas e empresas em recuperação judicial. O fundo, que já fez duas aquisições que ele prefere não revelar, pode até ficar com os créditos podres que encontra dentro da falência. Ou acaba vendendo esses créditos. A ideia é obter um retorno de quatro vezes o capital investido, mas sem compromisso de prazo.

Agora, a Orey já avalia criar um outro fundo, dessa vez de investimento em direitos creditórios, para comprar somente o crédito inadimplente propriamente dito. “Estamos avaliando comprar crédito em atraso com garantia em ativos, como automóveis, imóveis ou terrenos.”

Moratelli também aposta que o mercado tem muito o que crescer. “Diferentemente do que acontece no exterior, as gestoras de recursos das famílias de empresários no país (chamados de family offices) ainda não investem em crédito inadimplente, mas um dia isso vai mudar”, afirma. Ele acredita que o investidor externo também pode crescer sua participação.

Outra empresa que acaba de chegar no país é a espanhola Hipoges, especialista na prestação de serviços para a compra e venda de créditos podres. O grupo se associou a André Oliveira, ex-RCB e ex-Lehman Brothers, que era um grande comprador de créditos em atraso.

“Fazemos todo o serviço de due diligence da carteira, ajudamos na avaliação de preços e fazemos a gestão de ativos”, afirma Oliveira. O grupo ajuda ainda na negociação com devedores e na gestão de garantias. “Prestamos serviços para os investidores, mas também para os vendedores, inclusive empresas de varejo, incorporadoras e imobiliárias.”

Fonte: Cristiane Perini Lucchesi, Valor Economico