Para analistas, mudança em Basileia 3 terá pouco impacto nos bancos
Analistas se dividem sobre o real impacto da flexibilização sobre o nível mínimo de liquidez exigida dos bancos pelo acordo de Basileia 3, anunciada no domingo pelo Comitê de Basileia de Supervisão Bancária.
Para o Société Généralé, as mudanças permitirão mais empréstimos pelos bancos, estimulando a atividade econômica e assim melhorando o sentimento sobre a situação dos próprios bancos.
Já para a consultoria Capital Economics, de Londres, a flexibilização facilita para certos bancos satisfazer as exigências quando a ampla liquidez fornecida por bancos centrais por meio dos programas de ‘quantitative easing’ (afrouxamento monetário) for retirada. Mas considera que não deve resultar em nenhum grande impacto econômico ou no mercado.
O acordo de Basileia 3 introduziu a exigência de padrão global mínimo de liquidez (Liquidity Coverage Ratio, LCR), pelo qual os bancos devem ter um conjunto de ativos fáceis de vender para financiar suas atividades durante 30 dias, e operar sem assistência do Banco Central em situação de estresse, ou seja, quando as fontes de refinanciamento estiverem completamente fechadas.
As principais mudanças anunciadas no domingo incluem revisão na definição dos ativos de alta qualidade, ajuste no prazo para os bancos se adaptarem as exigências e clareza sobre como o LCR deve ser aplicado nos períodos de estresse de liquidez.
Primeiro, as novas regras expandem a definição de ativos líquidos de alta liquidez com um desconto em relação a seu valor nominal para o cálculo do nível mínimo de liquidez. O projeto aceitava basicamente a liquidez de títulos públicos.
Agora, são aceitas também obrigações e ações de empresas com grau de investimento entre “A+” e “BBB-“ com desconto de 50%. Também alguns tipos de empréstimos imobiliários com classificação de risco “AA” ou maior e 25% de desconto. Os outros títulos serão aceitos para contar no máximo por 15% do total dos ativos de alta liquidez. Os supervisores podem decidir se as reservas no BC contam também no cálculo.
Segundo, o prazo de implementação, inicialmente fixado para janeiro de 2015, agora pode ficar com apenas 60% executado até 2015, crescendo 10% por ano até chegar à exigência total em janeiro de 2019.
Terceiro, o Comitê de Basileia aceita que os bancos usem seu colchão de ativos de alta liquidez durante os períodos de estresse, podendo ficar abaixo do nível mínimo exigido por Basileia 3.
“O relaxamento nas regras reflete uma regulação mais pragmática”, diz Michael Symonds, analista de bancos no Daiwa Capital Markets Europe. Para ele, pode haver um pequeno impacto positivo nos ganhos dos bancos, mas insiste que a flexibilização sozinha dificilmente terá impacto significativo na disponibilidade de crédito.
Para o Société Généralé, vários grandes bancos já vão exceder os níveis de exigência de liquidez este ano, caso do Rabobank, ABN Amro, Intesa, Populare, Barclays, e alguns bancos nórdicos.
“De forma compreensível, os bancos recebem bem as novas regras, mas as implicações mais amplas deverão ser limitadas”, diz por sua vez Julian Jessop, economista chefe de Capital Economics.
Ele lembra que vários estudos, do próprio Banco Internacional de Compensações (BIS), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) concluíram que o impacto macroeconômico das propostas originais de Basileia 3 seria pequeno, diminuindo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em algo entre 0,1%-0,2% por ano. O maior impacto negativo seria a elevação do custo de financiamento dos bancos, que de toda maneira é o que deve acontecer.
A surpresa, para analistas, é que os bancos centrais mais uma vez não incluíram o ouro na definição de ativo líquido de alta liquidez.
Certo mesmo é que os bancos a partir de 2015 terão colchão de liquidez adicional para enfrentar importantes saídas de capital em caso de crise.
(Assis Moreira | Valor)
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