Liquidação do Cruzeiro do Sul renova tensão entre os bancos de menor porte
A liquidação do Cruzeiro do Sul e do Prosper traz dúvidas sobre a saúde de outros bancos menores, avaliam analistas ouvidos pela Agência Estado. Há dúvidas sobre a eventual existência de mais problemas e sobre o modelo de negócio seguido por algumas instituições financeiras.
O consenso no mercado é de que o processo de reestruturação dos bancos de menor porte não terminou e novas associações, aquisições e parceiras devem ocorrer nos próximos meses. Dados do Banco Central do primeiro trimestre mostram que ao menos quatro bancos de menor porte ainda precisam ser capitalizados.
Ainda segundo o BC, duas instituições ainda não apresentaram os balanços auditados do primeiro e do segundo trimestre de 2012 – BVA e Rural. Os bancos não são obrigados a publicar balanços a cada trimestre, mas precisam fazê-lo no site do BC.
Na avaliação de analistas, o atraso na entrega desses resultados é um dos fatores que ajudam a alimentar rumores sobre a saúde de instituições financeiras. O presidente do banco BVA, Ivo Lodo, disse ao Estado que o balanço dos dois trimestres será divulgado nos próximos 10 dias.
“Fizemos vários ajustes em provisões e em relação a exercícios anteriores que acabaram atrasando o trabalho da auditoria”, explicou. Ele frisou que os números do BVA referentes aos dois primeiros trimestre de 2012 estão disponíveis no site do BC. Mas são dados sem o carimbo da auditoria externa. Lodo também reafirmou que o banco terá uma capitalização de R$ 300 milhões até o fim de setembro.
O Banco Rural informou, por meio da assessoria de imprensa, que “a publicação do balanço está prevista para ser realizada entre os dias 20 e 30 deste mês”. “O atraso se deveu ao fato de o banco estar aguardando a conclusão de um aumento de capital que acaba de ser homologado pelo Banco Central.”
Depuração
Apesar do susto inicial, a avaliação dos analistas é que a liquidação do Cruzeiro do Sul e a reestruturação pela qual os bancos médios vêm passando desde o final de 2010, quando foi anunciado o rombo do Panamericano, ajudará a depurar o setor.
Na bolsa, as ações de alguns bancos médios sobem e as taxas médias do Certificado de Depósito Bancário (CDB) seguem praticamente estáveis, segundo levantamento do AE Taxas.
Em cerca de dois anos, sete bancos tiveram problemas e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) precisou colocar R$ 7,5 bilhões para evitar a liquidação de alguns deles e viabilizar a aquisições por outras instituições. Outros bancos, como o Morada e a financeira Oboé, não tiveram socorro e foram liquidados.
“Como um banco com R$ 10 bilhões em ativos tem um rombo de R$ 5 bilhões e ninguém viu antes?”, indaga o diretor de um banco médio.
Inicialmente, o FGC estimou que a fraude do Cruzeiro do Sul seria da ordem de R$ 1,2 bilhão. Mas a conta cresceu para R$ 3,1 bilhões por causa de vários fatores, entre eles provisões abaixo do determinado pelo BC.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva, o pior do efeito da descoberta de fraude e intervenção no Cruzeiro do Sul ocorreu em junho, quando foi anunciada, mas o executivo disse que o caso deixou a mensagem ao setor de que há fiscalização e de que há punição.
Oliva vê com bons olhos o movimento de consolidação entre os bancos médios, que tem sido mais forte entre as instituições que operam com crédito consignado. Hoje, essa operação praticamente deixou de ser feita por bancos menores e se concentrou nos grandes, como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, que se associou com o BMG.
Como as margens caíram muito por causa da concorrência, o crédito consignado passou a depender de escala para ser rentável, tornando a operação difícil para os bancos menores.
No exterior, a reação à liquidação foi de mal-estar. A impressão causada em muitos investidores foi de má supervisão do BC nos bancos brasileiros, segundo uma fonte nos Estados Unidos.
Na semana que vem, vencem bônus que o Cruzeiro do Sul emitiu no exterior. Os detentores terão de aguardar todo o processo de liquidação para tentar reaver seu dinheiro.
Fonte: Altamiro Silva Júnior, Cynthia Decloedt, Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo