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Ivo Lodo, do banco BVA, vendeu 19 imóveis a Caoa dias antes da intervenção do BC

AuditoriaBenedito Ivo Lodo Filho, ex-presidente e sócio do banco BVA, vendeu 19 imóveis ao empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade às vésperas de o Banco Central (BC) decretar a intervenção na instituição financeira. A informação faz parte do relatório elaborado pela comissão de inquérito do BC, ao qual o Valor teve acesso.

O levantamento mostra que as vendas foram efetuadas no dia 15 de outubro de 2012 e registradas em cartório quatro dias depois, data da intervenção extrajudicial. Para a autoridade, o registro se deu quando os bens já estavam indisponíveis, o que seria crime.

Oliveira Andrade, dono do grupo Caoa, é um dos maiores credores do BVA. Na tentativa de recuperar o dinheiro aplicado no banco, o empresário chegou a fazer uma proposta de compra da instituição. Sem chegar a um acordo com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), principal credor do BVA, o negócio não foi fechado.

Por meio da assessoria de imprensa, o grupo Caoa afirmou que “não comprou nenhum bem do sr. Ivo Lodo”. Em nota ao Valor, a empresa disse que os imóveis foram oferecidos em garantia a um aporte de R$ 300 milhões que o grupo faria no BVA, mas o negócio não se realizou. Procurado pela reportagem, Lodo não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Lodo entregou ao BC uma lista de bens que soma R$ 88,8 milhões, incluindo 36 imóveis (R$ 36,5 milhões), ações, carros e empresas. A relação tem como data-base o dia da intervenção do BC. Não é possível saber se inclui os imóveis supostamente vendidos a Oliveira Andrade.

O relatório aponta irregularidades que teriam sido cometidas pelo ex-diretores e controladores do BVA. Entre elas, está um empréstimo de R$ 500 mil ao ex-banqueiro Alberto Davi Matone, fundador do banco Matone, em operação que, para o BC, constituiu fraude.

O BC afirma que o BVA contratou a empresa Blackwood como prestadora de serviços, mas que, no fim, a operação se configurou como um empréstimo a Alberto Davi Matone, então um dos sócios da Blackwood. O empréstimo foi fechado em novembro de 2011.

“A ilicitude do negócio evidencia-se ainda mais quando se constata que a suposta intermediária Blackwood tem como um de seus sócios o próprio beneficiário dos empréstimos. Não foram encontradas evidências de que qualquer serviço tenha sido executado”, diz o relatório. Para o BC, a operação chama a atenção porque Matone era “um ex-banqueiro que apenas cerca de seis meses antes viu-se forçado a alienar seu antigo banco […] por dificuldades financeiras”.

Poucos meses antes de o empréstimo com o BVA ser fechado, a J&F, controladora do frigorífico JBS, aportou R$ 1,85 bilhão para assumir o controle do Matone, em transação financiada pelo FGC. O objetivo do negócio foi resolver problemas que o Matone tinha.

Para o BC, o BVA não analisou a capacidade de pagar do devedor.

O banco Matone não honrou o empréstimo. Procurado, Alberto Davi Matone disse desconhecer o conteúdo do relatório. Segundo ele, a operação foi um empréstimo normal, feito em seu nome. Questionado sobre não ter quitado a operação, Matone afirmou que discute os juros cobrados no empréstimo na Justiça, por isso não pagou. Matone disse também não ser mais sócio da Blackwood. O ex-banqueiro é sócio do Banrisul na promotora Bem-Vindo.

Para o BC, há indícios de crimes de gestão temerária e fraudulenta, apropriação indébita e desvio de dinheiro.

O relatório do BC também diz que a KPMG, auditora do BVA desde 2007, “omitiu fatos relevantes” sobre a situação do banco. Além de questionar o fato de a auditoria não ter alertado, em parecer, para problemas no caixa e nas provisões, o BC afirma que o BVA contratou Edison Gandolfi como superintendente de contabilidade menos de um ano após sua saída da KPMG. Para a autoridade, o fato configurou “relação promíscua”.

O BC já havia apontado falhas da KPMG na auditoria do banco Cruzeiro do Sul, cuja liquidação foi decretada em 2012. Os problemas deram origem a ação civil pública do Ministério Público de São Paulo que pede a responsabilização da auditoria. A questão é se o mesmo acontecerá no caso do BVA.

Procurada, a KPMG disse que não teve acesso ao relatório do BC, por isso não se manifestaria. Também afirmou que fez “os trabalhos de auditoria necessários à emissão de pareceres e relatórios”. (Colaborou Talita Moreira)

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

One thought on “Ivo Lodo, do banco BVA, vendeu 19 imóveis a Caoa dias antes da intervenção do BC

  • Cassio Karib

    Obrigado a vc que publica estas noticias sobre o BVA. Nao consigo entender o porque esses auditores nunca sao punidos. Porque o BC, CVM e Justiza brasileira nao controla os bens e patrimônios destes auditores para entender se a riqueza deles corresponde de fato aquilo que ganham ou tem outras fontes obscuras de renda…provavelmente explicaríamos muitas das fraudes encontradas nos últimos anos.

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