Governo pode reduzir compulsórios
A presidente Dilma Rousseff apreciou as declarações dos presidentes dos dois maiores bancos privados do país em favor da queda da taxa de juros e interpretou a entrevista concedida por eles como uma mensagem clara do Bradesco e do Itaú de que “a Febraban não fala por nós”, sintetizou um assessor muito próximo da presidente, que acompanhou de perto o novo round da polêmica entre bancos privados e governo federal em torno dos juros. O governo está disposto a atender a algumas reivindicações dos bancos, como reduzir o IOF sobre o crédito e mesmo o compulsório de forma muito seletiva.
Roberto Setubal, do Itaú, e Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada ontem, procuraram contornar o mal estar causado com trechos do informativo semanal da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), divulgado na segunda feira; se comprometeram a fazer cortes de juros nos empréstimos dos dois bancos à medida que a taxa Selic cair; e mostraram convergência com a estratégia de Dilma de reduzir o custo do dinheiro no país.
Na manhã de terça feira, Trabuco telefonou para o Palácio do Planalto para conversar com a presidente Dilma e desfazer o desconforto criado pelo episódio do dia anterior. Na segunda feira havia sido divulgado o informativo semanal bancário, assinado por economistas da Febraban. No texto, eles diziam que “é possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tanto dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas”. Em outro trecho, escreveram: “Alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. Dilma não gostou.
Trabuco foi atendido pelo chefe de gabinete da presidente, Giles Azevedo. Giles explicou que Dilma não falaria com ele e sugeriu que o executivo ligasse para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. No telefone, o ministro sugeriu ao presidente do Bradesco que respondesse, em nota oficial e pública, ao que estava escrito no informativo, que é um documento oficial e público. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o banqueiro foi além do que Mantega sugeriu. A Febraban soltou uma nota, mas Trabuco ligou para Roberto Setubal e ambos decidiram falar com o jornal paulista, conforme as informações que chegaram à presidente Dilma.
“Para nós, ficou claro que a federação dos bancos não fala pelos dois maiores bancos privados do país”, comentou o assessor da presidente. “É importante entender que a posição da presidente não é contra o setor bancário. É contra os juros altos. A presidenta Dilma não é Cristina Kirchner (presidente da Argentina)”, disse, em referência a eventuais comparações de estilo.
Outra questão importante que o governo ressalta é a taxa de lucro do sistema bancário. “Não é possível um banco produzir R$ 1 bilhão de lucro ao mês, como o Banco do Brasil no ano passado”, comentou.
Dilma já mostrou ter a redução dos juros em geral, e da taxa Selic para 2% em termos reais até o fim do seu mandato, em 2012, como um objetivo de governo. A presidente sabe que isso não ocorrerá da noite para o dia. Será um processo.
O governo pretende atender a algumas demandas do setor, elencadas em documento recente preparado pela Febraban e entregue ao Ministério da Fazenda.
O Banco Central poderia reduzir o compulsório muito seletivamente, assim como a Fazenda poderia baixar o IOF. ” Há muito o que negociar”, disse uma fontes. O episódio da segunda feira foi o segundo atrito entre o governo e a Febraban na discussão da taxa de juros.
No início de abril o presidente da federação dos bancos, Murilo Portugal, numa infeliz declaração após reunião no Ministério da Fazenda para tratar da redução do spread bancário, disse que ” a bola agora está com o governo”. Portugal havia deixado com o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, uma lista com 23 propostas de medidas que ajudariam os bancos a reduzir o spread – diferença entre a taxa de captação e a taxa de aplicação dos bancos.
Mantega, sob orientação da presidente Dilma Rousseff, foi duro na resposta a Portugal. Os bancos públicos – BB e Caixa – haviam reduzido os juros de algumas linhas de financiamento e os maiores bancos privados também fizeram um pequeno no movimento após esse entrevero.
Esta semana, a controvérsia foi novamente realçada com o informativo da Febraban. O governo está ciente, porém, que esse é um assunto que não está encerrado. Aliás, está apenas no começo. A presidente quer ter bons resultados na briga contra os juros altos às vésperas das eleições presidenciais de 2014. “Para nós, o importante será ter o que apresentar em agosto de 2014”, assinalou fonte próxima a Dilma.
Fonte: Valor Economico