FGC quer vender Bamerindus no futuro
Embora uma tentativa anterior tenha sido frustrada, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) tem a expectativa de conseguir vender a massa falida do Bamerindus no futuro. O atrativo do Bamerindus são cerca de R$ 10 bilhões em créditos tributários acumulados, que poderiam interessar aos maiores bancos do país, geradores de lucros bilionários, que usariam esses créditos para abater impostos a pagar. Cálculos indicam que o banco poderia ser avaliado entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão, dependendo da velocidade de aproveitamento dos créditos tributários pelo eventual comprador. O prazo máximo para venda do banco é de cinco anos.
O fundo já tentou vender o banco sem sucesso, conta Antonio Carlos Bueno, diretor executivo do FGC, que tem sido assessorado pelo Deutsche Bank, pelo escritório de advocacia Mattos Filho e pela KPMG. Os principais bancos do país visitaram a sala de dados montada para a venda, que ficou aberta por 60 dias, mas não apresentaram proposta. A razão, entende Bueno, é que os bancos temiam se tornar sucessores do grande passivo que o Bamerindus ainda carrega. “Mas agora estamos limpando esse passivo [com o acordo para pagamento das dívidas] e o cenário adiante pode mudar”, diz o executivo. Além do risco sucessório, dois dos maiores interessados potenciais, Itaú e Santander, saíram desse mercado porque acumularam grandes créditos fiscais por conta do ágio pago nas incorporações de Unibanco e Real.
Os termos do acordo de pagamento de acionistas e credores, divulgados ontem pelo FGC, revelam que o ex-banqueiro e ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira, ex-controlador do Bamerindus, vai receber do fundo R$ 6,853 milhões, o equivalente a 50% do valor das ações que possuía no banco e na empresa Bamerindus Participações. Pelo acordo, ele só terá direito a receber a outra metade se o banco for vendido. Vieira foi procurado pelo Valor, mas interlocutores responderam que ele não comenta o assunto. Também está previsto o pagamento de R$ 3,4 milhões a ex-administradores da instituição, que sofreu intervenção em 1997 e está em processo de liquidação. Outros R$ 4,2 milhões serão destinados a um grupo de administradores e acionistas representados pelo advogado João Antonio Vieira Filho.
No total, o FGC vai desembolsar R$ 95,6 milhões para ex-acionistas. Todos eles terão de abrir mão de ações judiciais que estavam em andamento e que inviabilizavam a operação. “Serão todas canceladas, exceto as que forem de interesse exclusivo da massa”, diz texto do FGC. O conjunto de minoritários – com exceção dos ex-administradores e membros da família Vieira – receberá R$ 81,1 milhões. Entre os credores que já tiveram os créditos provisionados nas contas do Bamerindus, o maior é o Banco Central, com R$ 2,48 bilhões.
O FGC explica que é credor do banco em R$ 5 bilhões. Diferentemente do que se esperava antes, o banco será mantido em liquidação extrajudicial até que todas as pendências sejam solucionadas e os créditos sejam recebidos ou renegociados, para que sejam eliminadas incertezas para uma possível compra no futuro. “Assim, nenhuma instituição financeira ou o próprio FGC assumirão qualquer risco futuro em relação ao Bamerindus”, informa o documento. O FGC vai pagar R$ 7,74 por ação do banco e R$ 5,52 por ação do Bamerindus Participações, que em 1997 valiam R$ 12,90 e R$ 9, respectivamente. “Este é o mesmo percentual [de 40%] estimado para a recuperação final do crédito do FGC nos próximos três a cinco anos.”
Fonte: Marli Lima e Vanessa Adachi, Valor Economico