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FGC faz tentativa de ressuscitar BVA

Em geral, quando o Banco Central decreta a intervenção em um banco, é o fim da linha. Depois disso, segue-se a sua liquidação e acabou. Uma intensa movimentação de bastidores nas últimas semanas, entretanto, busca escrever um fim diferente para a breve história do pequeno Banco BVA, sob intervenção desde 19 de outubro.

O próprio controlador do BVA, José Augusto Ferreira dos Santos, bateu à porta de bancos de pequeno porte ainda em outubro para tentar costurar uma operação de salvamento do banco e, assim, evitar a liquidação.

Mas, agora, quem se articula no mesmo sentido é o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), entidade financiada pelos bancos e responsável por garantir o dinheiro de depositantes de bancos liquidados até determinado limite.

Valor apurou que o FGC contatou alguns bancos de investimento e acabou contratando o BR Partners para o mandato de encontrar um comprador para o BVA. Procurados, FGC e BR Partners não confirmaram a contratação e não quiseram comentar.

Toda a movimentação é surpreendente porque não houve caso no Brasil até hoje de um banco que conseguisse sair da intervenção. E nada garante que este será o primeiro caso.

Pessoas que analisaram os números do BVA consideram bastante difícil que se encontre uma saída. Bancos aos quais a instituição foi oferecida até o momento não demonstraram apetite.

Segundo duas pessoas que tiveram acesso aos números do banco, a única possibilidade que se mostrou até o momento passa pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo CAOA de revendoras de carros.

De acordo com três executivos, o grupo e pessoas ligadas a ele tinham, em conjunto, depósitos totais superiores a R$ 500 milhões no BVA. A cifra é capaz de gerar grande desconforto financeiro mesmo para uma empresa capitalizada como o CAOA. Além disso, Andrade já havia colocado outros R$ 50 milhões como capital no BVA.

Antes de o BVA sofrer a intervenção, o FGC já costurava uma capitalização do banco com a participação de Andrade. O executivo faria um empréstimo de R$ 300 milhões para o controlador do banco capitalizar o BVA.

Segundo a assessoria de imprensa do CAOA, o empresário estava em viagem e não pôde ser localizado para comentar.

Segundo um experiente banqueiro, entretanto, não faria sentido, agora, um grupo colocar mais dinheiro para tentar salvar o que foi perdido com a intervenção. A equação não é simples.

No momento, o banco passa por uma auditoria da PwC, contratada pelo FGC. Uma empresa de análise de créditos também foi contratada. Por ser o maior credor do BVA, com uma exposição de R$ 1,2 bilhão, uma solução para o banco deve necessariamente passar pelo fundo, que pode financiar o comprador para recuperar pelo menos parte do dinheiro devolvido a detentores de depósitos garantidos do banco. Só quando a auditoria estiver concluída é que se terá certeza da viabilidade da venda.

Além de evitar perdas para o FGC, ao voltar a operar, o BVA também evitaria prejuízos em diversos fundos de pensão, como Petros, Serpros, Infraprev, Fipecq e Refer. Essas fundações participaram – direta ou indiretamente – da capitalização do banco.

Problemas no setor imobiliário também podem ser evitados com a venda do BVA, segundo o Valor apurou. Dentro da carteira do banco, há uma série de empréstimos feitos para construção de imóveis. Ao liberar um financiamento, o banco exigia que parcela dos recursos dados ficassem aplicados em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) até o momento do desembolso. Agora, sem conseguir resgatar esses títulos, muitos empreendedores ficaram sem recursos para concluir as obras e ainda mantêm-se como grandes devedores do banco.

Se, na condição de credor, viesse a assumir o BVA, o dono da CAOA estaria revivendo uma história que no passado deu origem a sua vida de empresário, há 33 anos.

Oliveira Andrade, ou o Dr. CAOA, como é conhecido em suas empresas, era um médico cirurgião especializado em doenças do aparelho digestivo quando decidiu, em 1979, comprar um Ford Landau – modelo luxuoso da época – numa concessionária em Campina Grande (PB), onde vivia.

Mas o carro não foi entregue. O proprietário da revenda lhe confessou que estava à beira da falência. Oliveira Andrade, então, propôs ao empresário falido que lhe entregasse a loja para compensar o que ele havia perdido com a compra do Landau.

Logo depois, o concessionário de Campina Grande comprou outra concessionária à beira da falência no Recife. Seis anos depois, o grupo que o ex-médico batizou com as iniciais de seu nome, transformou-se no maior revendedor Ford da América Latina.

Em 1992, quando o então presidente Fernando Collor de Mello abriu as importações, Oliveira Andrade negociou com a Renault um contrato para ser o importador oficial da marca francesa no Brasil. Mas quando, em 1998 a montadora inaugurou uma fábrica no país Oliveira Andrade ficou fora da atividade e iniciou, então, uma longa batalha judicial contra o grupo francês.

Em 1999, o grupo CAOA tornou-se, também importador da Hyundai e investiu na construção de sua própria fábrica de veículos em Anápolis (GO), com licença da marca coreana. Há poucas semanas a Hyundai concluiu a construção da sua própria fábrica, em Piracicaba (SP). Mas manteve relações com o grupo CAOA.

A rede de lojas CAOA venderá todos os importados mais os veículos que o grupo brasileiro produz na fábrica de Anápolis. Já uma nova rede criada pelos coreanos comercializará os carros fabricados em Piracicaba.

A tentativa de salvar o BVA pode até soar estranha para o mercado financeiro. Mas quem conhece o Dr. CAOA sabe que até agora ele sempre deu um jeito para não perder dinheiro, nem que para isso tivesse de recorrer a soluções inusitadas.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

2 thoughts on “FGC faz tentativa de ressuscitar BVA

  • eduardo rodrigues

    Caro consultor
    Eu tenho um empréstimo consignado com o BVA,quitei minha dívida no dia 21 de nov 2012, não consigo a liberação da minha margem consignável e nem ressarcimento do desconto de mês de novembro, lhe pergunto se levara muito tempo para resolver esse problema ou se terei que entrar na junstiça.

  • Prezado Eduardo,

    acredito que teremos informações somente em Janeiro de 2013, pelo prazo que o Bacen estabeleceu em outubro deste ano.

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