Com novo dono, Concórdia será banco de investimento
Pouco mais de um ano após a compra do controle do banco Concórdia, que pertencia à Sadia, o banco Rendimento acaba de receber o sinal verde do Banco Central para a transação e faz planos para colocar para rodar uma máquina que nunca chegou a estar azeitada.
Criado em 2008 para ser o braço financeiro da Sadia, o Concórdia mal chegou a estrear e precisou ser vendido, em novembro de 2009, por conta da perda bilionária apurada pela empresa de alimentos com operações de derivativos cambiais. O banco Rendimento, comandado por Abramo Douek, levou 65% do capital do Concórdia, por R$ 23,062 milhões. Outros 25% permaneceram com a família Furlan, antiga controladora da Sadia e dona da tradicional corretora Concórdia. Os 10% restantes do capital do banco ficaram nas mãos de José Roldão de Almeida Sousa, sócio do extinto Banco Comercial de São Paulo, e de seu filho Alan Rigoni de Almeida Sousa.
Os novos sócios querem rebatizar a instituição e seu objetivo é transformá-la em um banco de investimento especializado na oferta de operações estruturadas para empresas de médio porte, com faturamento anual entre R$ 150 milhões e R$ 300 milhões. “O sonho de todo empresário, hoje, é alongar o endividamento”, diz Douek.
O Concórdia, segundo a autorização dada pelo BC, pode ter participação estrangeira de até 40% de seu capital total, possibilidade que parece agradar aos novos donos do banco. “Se alguém estiver interessado, por que não?”, retruca Douek. Instituições financeiras são parceiras bem-vindas. “Não queremos fundo de private equity, que entra para alavancar a operação e depois sai”, explica. “Queremos um sócio que nos traga produtos, tecnologia, algo que agregue ao nosso negócio.”
O mercado de operações estruturadas é bastante disputado. O diferencial do Concórdia pode ser a base de clientes herdada: a cadeia de fornecedoras da antiga Sadia (hoje Brasil Foods), composta por cerca de 50 empresas. O banco nasceu para explorar essa cadeia produtiva e, agora, resta saber se a instituição conseguirá mantê-la. Agora com a Brasil Foods, não há um acordo formal. Paralelamente, os donos do banco buscam costurar a acordos em outros nichos, com empresas do ramo de transportes, de embalagens e têxtil.
Ao longo de 2010, foi com os fornecedores da Brasil Foods que o banco trabalhou, ainda em marcha lenta, para equilibrar as contas. Agora com o aval do regulador, o banco quer expandir a atuação.
A ideia é trabalhar com o conceito de “confirme”, que consiste em atender a fornecedores de grandes empresas, conhecidas por “âncoras”.
A carteira de aproximadamente 1 mil clientes corporativos do Rendimento também será explorada. Mas os negócios dos dois bancos serão mantidos em separado – com exceção das áreas de suporte, como a jurídica, de recursos humanos e tecnologia da informação, que servirão a ambos. Enquanto o Concórdia vai prover crédito de longo prazo por meio de operações estruturadas, ao banco Rendimento caberá a oferta de empréstimo de curto prazo, transações mais corriqueiras como desconto de duplicatas, além das operações de câmbio, carro-chefe da instituição.
O Rendimento foi criado em 1992 para ser o braço financeiro da fabricante de aparelhos eletrônicos CCE, que deixou o negócio em 2001. Entraram então na sociedade os irmãos Abramo e Edwin Duek, que têm 30% de participação, a convite do amigo e também sócio César Ades (70%).
O principal desafio do Concórdia será atrair talentos e montar uma equipe afiada de gerentes comerciais e analistas de investimento para trabalhar nesse mercado. “Está difícil encontrar profissionais”, reconhece Douek. Uma das alternativas cogitada é formar “cabeças”, realocando funcionários do Rendimento para o Concórdia e contratando trainees. Mas isso não será, provavelmente, suficiente. O Concórdia terá de oferecer vantagens a candidatos, como participação acionária, se quiser montar um bom quadro, opina o presidente de um banco de médio porte que preferiu não ser identificado. Até o fim do primeiro trimestre, Douek espera estar com toda a equipe do banco de investimentos montada.
As metas estabelecidas para o primeiro ano de atividade do Concórdia sob a nova direção contemplam a estruturação de 10 a 15 operações de crédito, entre lançamentos de debêntures, Cédulas de Crédito Imobiliário (CCIs) e Certificados de Cédula de Crédito Bancário (CCCBs), num volume financeiro esperado de R$ 200 milhões a R$ 500 milhões.
Já pode ser colocada nessa conta uma emissão de CCI lastreada em debêntures de R$ 52 milhões, que acaba de ser feita para a construtora Mudar. “Estamos sendo agressivos nas metas porque há muita demanda, tanto das empresas por crédito como de investidores institucionais pelos títulos produzidos a partir dessas operações”, diz Alan Rigoni, sócio responsável pela área comercial do Concórdia. Segundo ele, será criada também no banco uma estrutura de distribuição, com fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e multimercados.
Falta, agora, arranjar um novo nome para o Concórdia. O sócios têm até o fim do ano para cumprir essa tarefa.
Fonte: Aline Lima, Valor Economico