CVM pede informações à empresa (Mundial Produtos de Consumo)
Usaram os ativos da empresa para fazer um cassino, do qual a companhia não faz parte nem tem culpa, diz o diretor-superintendente e presidente do conselho de administração da Mundial Produtos de Consumo, Michael Ceitlin, sobre o movimento recente dos papéis na bolsa. Segundo ele, a Mundial está sendo “vítima” de quem “entrou no efeito manada, perdeu dinheiro e agora quer se vingar da companhia por uma bobagem que fez”.
Na semana passada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou a empresa sobre quem tomou conhecimento prévio dos fatos relevantes sobre a adesão ao Novo Mercado e sobre a capitalização de US$ 50 milhões, negociada com o fundo de investimentos americano YA Global Investments BR, este último divulgado dia 18.
Segundo o executivo, a empresa já informou à CVM que os advogados que assessoraram a montagem da proposta para acesso ao Novo Mercado tiveram acesso ao documento e nesta semana serão encaminhadas as mesmas explicações referentes à operação com o fundo americano.
Ele reagiu com indignação às informações que circularam sexta-feira no mercado, de que teria participado de uma manobra com um agente autônomo de investimentos para manipular os preços das ações da empresa. O executivo afirmou que deu “mais de três” telefonemas à BM&FBovespa no mês passado em busca de orientações sobre como proceder diante da forte oscilação das cotações das ações e dos boatos sobre a venda da empresa. “Lembro-me nitidamente de ter perguntado se havia algo a fazer porque eu estava surpreso com o volume das negociações e me disseram: ‘Não te preocupa, isso é ‘day-trade’, é assim mesmo’.”
Ceitlin confirmou que o agente autônomo citado como um dos responsáveis pela alta dos papéis é um “acionista importante” da Mundial e representante de outros acionistas, mas afirmou que não deu a ele qualquer informação privilegiada a respeito dos planos da empresa. Também negou ser amigo do investidor.
Ele afirmou que o acionista fez “diversas tentativas” de ser recebido na empresa, o que só aconteceu no início deste ano, e que sempre teve “muito cuidado” para que ninguém tivesse acesso a informações “assimétricas”. Além disso, ao contrário do que afirma a carta anônima, o agente autônomo não participou da reunião do conselho de administração de maio, mas apenas da assembleia de acionistas que aprovou no mesmo dia o ingresso no Nível 1 de governança corporativa e o desdobramento de ações, acrescentou o executivo.
Segundo Ceitlin, o interesse do mercado pela Mundial intensificou-se a partir de abril, quando a empresa voltou a procurar os analistas para apresentar os resultados. Em maio, anunciou a emissão de um eurobônus de US$ 100 milhões para alongamento de dívida e as propostas de adesão ao Nível 1 de governança e de desdobramento de ações. No fim de junho, a empresa optou pelo ingresso diretamente no Novo Mercado, proposta que será examinada em assembleia de acionistas quarta-feira.
Com tudo isso, o volume de negociação das ações cresceu e a partir de 15 de junho, quando a agência Bloomberg noticiou que o controle da empresa poderia ser negociado, as cotações dispararam, disse Ceitlin. Os boatos foram desmentidos, mas as especulações continuaram.
Fonte: Sérgio Ruck Bueno, Valor Economico