Cruzeiro do Sul tinha 300 mil empréstimos fictícios para esconder rombo bilionário
A contabilidade do banco Cruzeiro do Sul está contaminada com pelo menos 300 mil empréstimos falsos, inventados para esconder prejuízos acumulados pela instituição, segundo apurou o ‘Estado’. Por isso, o rombo no banco pode ser maior do que o R$ 1,3 bilhão estimado inicialmente pelo Banco Central (BC).
Segundo fontes ligadas à operação, esse receio foi apresentado pelo BTG Pactual, de André Esteves, como motivo para desistir de comprar a instituição, que ontem sofreu intervenção do BC. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC), nomeado pelo BC para administrar o Cruzeiro do Sul, contratou a PriceWaterhouseCoopers para apurar o tamanho real do rombo.
Ontem à noite, a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro anunciou ter instaurado inquérito para apurar o caso e investigar se os executivos do Cruzeiro do Sul cometeram crime de gestão fraudulenta.
Apesar da intervenção, o objetivo do BC e do FGC é encontrar uma solução de mercado para o Cruzeiro do Sul e, se o tamanho do buraco permitir, vendê-lo para outro banco. A alternativa é a liquidação pelo Banco Central.
O BC descobriu irregularidades no Cruzeiro do Sul em abril. Entre elas, empréstimos consignados fictícios, que teriam sido lançados para esconder prejuízos. Há cerca de 15 dias, o BC pediu que os controladores do banco cobrissem o rombo. Deu prazo de uma semana. Inicialmente, eles procuraram o FGC, que descartou uma ajuda por causa dos altos valores.
O banco, então, foi oferecido ao BTG Pactual. As negociações começaram terça-feira passada e foram até domingo. Esteves iria pagar simbolicamente R$ 1 pelo banco, mas queria garantias contra eventuais “surpresas” – como as que envolveram o Panamericano, cujo rombo inicial de R$ 2,5 bilhões acabou pulando para R$ 4,3 bilhões. O FGC, uma entidade privada controlada pelos grandes bancos, não aceitou.
Como não houve acordo, o BC determinou, ontem de manhã, que o Cruzeiro do Sul entraria no Regime de Administração Especial Temporária (Raet). Para executar a tarefa, escolheu o FGC, que já tinha feito uma operação com o banco em 2011.
O Raet seria decretado de qualquer maneira e os controladores do Cruzeiro do Sul, afastados em razão do tamanho e da natureza das irregularidades encontradas. A diferença para o que aconteceu é que, idealmente, o BC e o FGC queriam que o Cruzeiro do Sul abrisse as portas ontem administrado pelo BTG.
Os novos administradores têm 180 dias para apurar o tamanho do rombo. “Mas não acreditamos que será necessário tudo isso”, disse o diretor executivo do FGC, Antônio Carlos Bueno. Ele acha que a Price deve apresentar resultados em 60 dias. Esteves disse a interlocutores que continua interessado no banco e pretende reavaliar o negócio depois do trabalho do FGC.
Fonte: DAVID FRIEDLANDER, LEANDRO MODÉ – O Estado de S.Paulo