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Criticada, Deloitte pede mais ceticismo

A Deloitte está treinando seus auditores para serem mais céticos ao verificar a contabilidade de empresas americanas, depois que a firma de auditoria foi criticada por falta de objetividade, disse seu principal executivo à Reuters.

Recentemente criticada pela principal agência fiscalizadora de auditorias nos EUA, a Deloitte disse que o ceticismo de seus profissionais deve ser o foco primordial durante a próxima temporada de auditoria das demonstrações financeiras anuais, disse Joe Echevarria.

“Sei que há uma consciência mais intensa sobre a necessidade de ceticismo profissional em nossa firma”, disse ele, em seu escritório no centro de Manhattan “Vai demorar um pouco para que a conscientização se manifeste em ações e documentação, pois há seres humanos envolvidos nisso.”

Para ele, a adoção das normas internacionais de contabilidade pelos EUA seria um desafio, no ambiente econômico atual.

Já uma proposta exigindo a rotatividade de auditorias criaria um caos, porque apenas um punhado de firmas tem a capacidade de auditar grandes companhias mundiais.

Echevarria, responsável por cerca de 50 mil profissionais da Deloitte, já se descreveu como alguém que cresceu como um “malandro do Bronx”, uma experiência que, segundo ele, ensinou-o humildade e a arte de “ler” as pessoas. Na Deloitte desde 1978, tornou-se sócio em 1988 e ainda atende alguns dos maiores clientes da empresa.

A Deloitte, braço americano da firma mundial de auditoria Deloitte Touche Tohmatsu, foi criticada, no mês passado, pela Conselho de Supervisão Contábil de Companhias de Capital Aberto (PCAOB, em inglês) em recém-divulgados trechos de um relatório de inspeção de 2008.

O PCAOB, agência fiscalizadora do governo para o setor de auditoria, disse que alguns auditores da Deloitte não reuniram evidências suficientes para sustentar suas opiniões ou não contestaram adequadamente estimativas de gestores de empresas.

A Deloitte treina seus auditores para que adotem posturas céticas e instila neles a percepção de que, em última instância, seus clientes são os investidores, e não os executivos das empresas auditadas, disse Echevarria, à frente da empresa de auditoria americana desde junho.

Mas é natural, para os auditores, focar a “a pessoa com quem estão falando, com a pessoa que, de alguma maneira, está avaliando e decidindo se você continuará a ser o auditor e remunerando-o”, disse ele.

Não é de hoje que defensores dos investidores acusam auditores de se abster de uma postura de ceticismo porque seu modelo de negócios embute um conflito de interesses, pois os auditores são pagos pelas empresas que auditam.

O PCAOB está considerando a possibilidade de impor limites de tempo às empresas de auditoria, como uma forma de tornar os auditores mais independentes. Mas Echevarria disse que isso resultaria em enorme perda de conhecimento institucional.

“Eu concordaria com a rotatividade obrigatória se alguém pudesse me comprovar que isso melhoraria a qualidade da auditoria”, disse ele.

A Deloitte e as demais Quatro Grandes firmas mundiais de auditoria têm sido criticadas por não alertar para riscos em empresas que sofreram colapsos durante a crise financeira de 2008 e por não detectar fraudes contábeis.

Há um “déficit de expectativas” entre o que os auditores fazem e que o público deles espera, mas os auditores têm a obrigação de detectar e informar fraudes concretas, disse Echevarria.

A qualidade das auditorias melhorou desde a entrada em vigor das reformas Sarbanes-Oxley, em 2002, mas “a qualidade da auditoria para a maioria das empresas atendidas é invisível para elas”, disse ele.

A própria Deloitte foi acusada em um dos escândalos contábeis da era Enron dos quais resultou a reformas Sarbanes-Oxley. Em 2005, a firma aceitou pagar US$ 50 milhões para o arquivamento de acusações formuladas pela comissão de valores mobiliários americana (SEC), segundo as quais a Deloitte falhou ao não detectar fraudes contábeis na Adelphia Communications, uma empresa no setor de cabo.

A Deloitte não admitiu nem negou impropriedades, mas concordou em intensificar o treinamento de profissionais de auditoria para detecção de fraudes.

As agências fiscalizadoras americanas ainda estão trabalhando na implementação das reformas Dodd-Frank para o setor de auditoria e não parecem ver a adoção das normas internacionais de contabilidade no topo da suas prioridades, disse.

A SEC informou que decidirá antes de fim de ano se deve adotar as Normas Internacionais para Demonstrações Financeiras (IFRS), definida pela Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês), com sede em Londres, e já utilizada em mais de 100 países.

Um conjunto de normas mundiais melhoraria o intercâmbio de informações, mas os executivos empresariais americanos não estão “clamando” por mudanças, disse Echevarria. “Não há uma percepção de que o IFRS teria produzido um impacto significativo, em termos de desdobramentos concretos, na crise financeira, porque as empresas que adotavam essas normas tinham os mesmos problemas”, disse ele.

Fonte: Dena Aubin | Reuters, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.