Crise: Para Deutsche e UBS, risco de demissões prossegue
O Deustche Bank e o UBS, os maiores bancos da Alemanha e da Suíça, sinalizaram ontem que mais empregos estão ameaçados por causa da crise da dívida soberana da Europa e da desaceleração da economia mundial, que estão afetando as receitas de suas operações de banco de investimentos.
O diretor financeiro do Deutsche Bank, Stefan Krause, diz que o banco de Frankfurt continuará ajustando sua “plataforma” se o cenário persistir, depois que o banco anunciou 500 demissões este mês. Seu colega no UBS, Tom Naratil, diz que uma reorganização do banco de investimentos poderá levar a um número menor de funcionários na unidade.
Os maiores bancos de investimentos da Europa poderão ter pouca escolha a não ser acelerar a venda de ativos e a redução dos custos, em meio à piora das perspectivas de lucro e das demandas por mais capital. Em julho, o UBS abandonou sua meta de dobrar o lucro antes dos impostos até 2014 e o Deutsche Bank desistiu, no começo do mês, da meta de lucro para o ano como um todo, por causa dos problemas que os líderes europeus estão tendo para resolver a questão da dívida da Grécia, que ameaça jogar o mundo inteiro em uma recessão.
“As previsões estão muito cautelosas por que se a crise da dívida soberana não for resolvida, a zona do euro poderá mergulhar numa recessão e isso vai prejudicar os bancos de investimentos”, diz Michael Rohr, analista da Sylvia Quandt Research de Frankfurt. “Definitivamente resta alguma gordura para ser queimada, embora o UBS necessite reduzir mais dramaticamente os custos que o Deutsche Bank.”
O Deutsche Bank e o UBS anunciaram lucros um dia antes do encontro dos líderes da União Europeia em Bruxelas, para moldar um pacote de reforço do fundo de resgate da região, recapitalizar os bancos e convencer os investidores a reduzir o peso da dívida da Grécia para impedir o contágio da Itália e da Espanha.
“Os negócios bancários deverão continuar sendo influenciados nos próximos meses pela volatilidade dos mercados financeiros globais e pelos volumes de negócios menores”, reduzindo as receitas de banco de investimento e gerenciamento de ativos, disse ontem o Deutsche Bank. “A falta de uma resolução sustentada e de credibilidade para a crise da dívida soberana da Europa continuará afetando de maneira adversa a atividade dos clientes e a geração de receitas nas atividades de corporate banking e títulos.”
O Deutsche Bank anunciou um lucro líquido para o terceiro trimestre que superou as estimativas dos analistas, depois que os ganhos das áreas de banco de varejo e gerenciamento de ativos amorteceram uma queda da receita de negociação de títulos. O banco teve no período um lucro líquido de € 725 milhões (US$ 1 bilhão).
O UBS anunciou uma queda de 39% no lucro líquido do terceiro trimestre, depois de sofrer uma perda de US$ 2,3 bilhões com negócios não autorizados no mês passado. O lucro líquido caiu para 1,02 bilhão de francos suíços (US$ 1,16 bilhão), superando as estimativas dos analistas.
“As perspectivas de crescimento da economia mundial continuam bastante dependentes de uma resolução satisfatória do problema da dívida soberana da zona do euro e das preocupações com o setor bancário, além de questões acerca do crescimento econômico dos Estados Unidos, a taxa de emprego no país e seu déficit fiscal”, disse o UBS. “Na ausência dessas resoluções, as atuais condições de mercado e atividade de negociação de títulos não deverão melhorar materialmente, criando potencialmente obstáculos ao crescimento das receitas e à captação líquida de dinheiro novo.”
Enquanto os bancos europeus enfrentam as preocupações com a Grécia e os planejadores econômicos pedem um reforço ao capital dos bancos, as maiores instituições financeiras de Wall Street registraram o pior trimestre para as operações de banco de investimentos e negócios com títulos desde o auge do aperto de crédito.
Tom Naratil do UBS disse que a instituição estará vigilante quanto aos custos e que a redução do número de funcionários no banco de investimentos não estará necessariamente ligada a “demissões maciças”. Em agosto, o UBS anunciou planos para o corte de 3.500 empregos, incluindo 1.575 posições no banco de investimentos.
O UBS poderá anunciar mais 1.700 demissões no banco de investimentos em novembro, além de uma redução adicional nos ativos ponderados pelo risco de 70 bilhões de francos suíços, além dos cerca de 100 bilhões de francos que ele pretende cortar na preparação para as regras mais rígidas do Acordo da Basileia 3 (segundo estimativas do analista Kian Abouhossein do J.P. Morgan Chase).
Fonte: Aaron Kirchfeld e Elena Logutenkova | Bloomberg, Valor Economico