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Compliance Legal: Pacotes de tarifas desafiam clientes

A não ser que você seja maníaco por saques, colecionador de extratos ou tenha obsessão por transferências bancárias, existe uma chance razoável de que esteja pagando mais do que efetivamente usa do seu pacote de serviços bancários. Especialmente se utiliza bastante o banco pela internet.

Quase sempre que são questionados sobre o tema “tarifas”, os bancos costumam dizer que muitos clientes são isentos dos pacotes mensais, a depender do nível de relacionamento com a instituição. Também lembram que acordos fechados com empresas costumam trazer economia aos empregados.

Mas o fato é que Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, as principais instituições financeiras com ações em bolsa, arrecadaram cerca de R$ 8 bilhões de janeiro a setembro deste ano apenas com cobranças ligadas à conta corrente. A expansão em relação a 2011 varia de 20% a 30%, mas não é possível ter certeza porque os próprios bancos mudam constantemente a maneira de apresentar esse dado – assim como fazem com os próprios pacotes.

Para efeito de comparação, os R$ 8 bilhões equivalem a 25% do lucro líquido acumulado pelos bancos no mesmo período. Ou seja, ainda que haja clientes isentos, existe alguém arcando com essa conta bilionária.

Ao se comparar os pacotes disponíveis para todos os clientes entre os quatro bancos, o combo mais caro sai por R$ 65, no Santander, e o mais barato custa R$ 5,5, no BB. Isso sem falar nos serviços gratuitos que os bancos são obrigados a prestar por determinação do Banco Central (ver quadro acima) e nas contas eletrônicas – e sem tarifas – oferecidas, sem alarde.

Mas se há planos mais baratos e até isentos de cobrança, quem fica com o mais caro? Os bancos têm a prática de trabalhar com iscas para tornar atrativos os pacotes mais salgados.

Uma estratégia antiga é a inclusão de um serviço desejado e bastante usado, mas que não costuma entrar na maior parte dos planos mais baratos, como a transferência de dinheiro de um banco para outro, via DOC/TED.

Entre os quatro bancos pesquisados, o combo mais barato que inclui esses serviços é o “Especial”, do BB. Custa R$ 19,7 por mês, mas só dá direito a um DOC mensal. Por outro lado, oferece quantidades excessivas – pelo menos para a maioria das pessoas – de outros serviços: 22 transferências entre contas do próprio BB e 17 saques.

No Itaú, o preço do pacote “Total” é R$ 27,5 por mês, quase o dobro do preço do “Econômico”, de R$ 14,10. Quem paga R$ 160 a mais por ano, totalizando R$ 330, pode fazer 24 saques por mês em caixas eletrônicos, ante 8 do plano mais barato, e realizar 34 transferências entre contas do mesmo banco, mais que uma por dia, em comparação com 12 do “Econômico”. Nenhum dos dois tem DOC ou TED incluídos. Esses serviços só fazem parte do pacote de quem paga a partir de R$ 30,40 por mês.

Em alguns desses combos mais sofisticados, que incluem DOC e outros serviços, os bancos ampliam ainda mais o volume de serviços como saques, o que serve de argumento para o preço mais caro. O total de saques e transferências sobe para 20, 30 eventos por mês ou se torna até mesmo ilimitado. É algo recorrente nas quatro instituições analisadas pelo Valor.

Não é só isso. Serviços que são pouco usados pelos correntistas também são incluídos em grandes quantidades nos pacotes. Alguém se lembra da última vez que pediu a cópia da imagem de um cheque que emitiu? Pode ser bastante útil no caso de suspeita de fraude, mas o pacote “Exclusive Plus”, do Bradesco, dá ao cliente o direito de ver até nove fotografias a cada mês. O combo sai por R$ 33 mensais. Contrário à tendência da troca do talão pelos pagamentos com cartão, esse pacote também permite que se dê até um cheque por dia do mês.

Com a engenharia dos bancos para a montagem dos pacotes, consegue-se duas coisas. Fica mais difícil a comparação direta entre pacotes e há uma aparente justificativa para um plano ser mais caro que outro.

Não é uma estratégia diferente daquela usada por empresas de TV por assinatura. Canais mais populares entre os usuários costumam ser oferecidos nos combos mais caros, que dão direito a muitas dezenas de canais nem tão atraentes assim.

Mais recentemente, os bancos criaram novas iscas para pacotes. Uma delas é a conversão da tarifa em bônus de celular (ler reportagem na página C3) e a possibilidade de acessar linhas de crédito com taxas mais reduzidas. Esses novos planos custam de 30% a 50% mais que os similares sem os atrativos.

Logo que o governo começou em abril a pressionar os bancos pela redução dos juros, muitos bancos vincularam os cortes à adesão a pacotes de serviços. O movimento chamou a atenção das autoridades, que rapidamente fizeram o BB deixar de exigir a mudança de pacote de tarifas e também a reduzir o preço cobrado pelos serviços. Foi um claro recado aos bancos: redução de spread não pode ser compensada por aumento de tarifas.

Em nota, o BB disse que, na agência, o cliente pode ter acesso a todos os serviços que utilizou do seu pacote. O BB disse ainda que revisa constantemente sua estratégia de tarifas.

O Itaú informou que os clientes podem consultar, via internet ou caixa eletrônico, a quantidade de serviços que usaram. “Assim, podem optar pelo pacote que melhor se enquadre em seu perfil e necessidades.”

O Bradesco disse que “de forma recorrente avalia o perfil de movimentação de seus clientes e procura oferecer opções de serviços que atendem a cada uma das necessidades”.

O Santander afirmou que a escolha do pacote “sempre é uma decisão exclusiva do cliente”. A renda serve como uma referência inicial do pacote mais adequado ao perfil do cliente. “O cliente pode, a qualquer momento, trocar seu pacote de serviços.”

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.