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Como parar de ter sono durante o dia

É um mistério que aflige os cientistas há muito tempo: como medir facilmente o estado de sonolência antes que a própria pessoa o note. Pesquisadores em laboratórios do mundo inteiro começaram a progredir nesse campo e preveem um futuro em que testar a sonolência será considerado parte crucial do acompanhamento da saúde.

A busca é pelos chamados biomarcadores, uma característica ou substância – ou, mais provavelmente, várias substâncias – no corpo que indicam se alguém está sonolento e, se estiver, o quão sonolento. Esses pesquisadores querem medir a sonolência aguda para poder identificar o risco de “falha de desempenho” antes de ela acontecer. Isso pode ser aplicado a um motorista matinal prestes a dormir ao volante a caminho do trabalho, um cirurgião que se prepara para um procedimento complicado ou um piloto chegando ao cockpit antes de um voo transatlântico.

Os cientistas também estão estudando a sonolência crônica, que as pessoas podem sentir após apenas alguns dias dormindo menos que o adequado. Cada vez mais estudos têm descoberto que não dormir o suficiente todas as noites aumenta o risco de problemas de saúde como obesidade, diabete e doença cardíaca. O biomarcador mudaria a maneira como as pessoas enxergam o papel do sono na saúde geral, diz Paul J. Shaw, professor de neurobiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Washington, em St. Louis, no Estado de Missouri. “Se as pessoas souberem que estão sonolentas, podem dizer ‘acho que vou desligar a TV agora a ir para a cama.'”

Essa área dos estudos sobre o sono ainda está na infância e deve demorar vários anos até surgirem os primeiros exames. Esse conhecimento promete ajudar as pessoas a tomar decisões potencialmente cruciais. Qual é o dano causado por trabalhar a noite toda antes de uma apresentação importante no trabalho? Dormir todos os dias menos de sete horas é um incômodo – ou um risco sério à saúde? Se as pessoas tiverem uma medida segura da quantidade de sono de que precisam, poderão adotar medidas para evitar a sonolência.

Os pesquisadores já identificaram alguns possíveis biomarcadores relacionados à sonolência. Cientistas da Universidade da Pensilvânia que estudaram gêmeos idênticos e fraternais encontraram seis proteínas no sangue que mudam quando há sonolência. Shaw, por sua vez, descobriu em moscas insones uma elevação do nível da enzima amilase, presente na saliva humana.

Os sonolentos reagem mais lentamente, têm menos atenção e enfrentam problemas no aprendizado e na assimilação de informações. O que torna a sonolência especialmente perigosa é que a maioria das pessoas geralmente não percebe o quão sonolentas – e prejudicadas por isso – elas realmente estão. Um motorista, por exemplo, pode não saber que está sonolento demais para dirigir enquanto não perder o controle e sair da estrada. “O cérebro não está totalmente acordado e alerta e também não está totalmente dormindo”, diz David F. Dinges, professor do departamento de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia e diretor de um laboratório do sono que está pesquisando os efeitos da insônia em pessoas saudáveis.

Um dos marcos na ciência do sono foi um estudo publicado em 1997 na revista “Nature” mostrando que ficar acordado 24 horas seguidas causa problemas cognitivos equivalentes a ter uma concentração de álcool de 0,1% no sangue. É ilegal dirigir nos EUA com mais de 0,08% de álcool no sangue. O limite para dirigir no Brasil foi diminuído recentemente para 0,02%.

A maioria dos adultos precisa de sete a nove horas de sono por noite. Mas cerca de um quarto das pessoas de 19 a 64 anos dizem que dormem menos de sete horas por noite durante a semana, segundo pesquisa realizada pela Fundação Nacional do Sono, uma ONG sediada em Arlington, no Estado americano de Virgínia.

Os cientistas comprovaram nos últimos anos algo que parece óbvio para qualquer um que já conheceu os sortudos que se sentem bem após trabalhar a noite toda ou pegar um voo noturno: as pessoas variam muito em relação a como enfrentam a falta de sono. O motivo provavelmente é a genética. O laboratório de Dinges, na Universidade da Pensilvânia, já identificou três genes que podem ser associados com vulnerabilidade a sintomas de falta de sono. A capacidade de identificar exatamente quem reage pior à privação de sono motiva questionamentos de ordem ética. Um exemplo disso: para cargos que envolvem muita viagem e longas horas, será que as empresas vão querer examinar os candidatos para identificar qual é a capacidade natural deles de suportar a falta de sono?

Em outro laboratório da Universidade da Pensilvânia, Nirinjini Naidoo analisa amostras de plasma de um subconjunto de 56 pares de gêmeos idênticos e 42 pares de gêmeos fraternos que foram mantidos sem dormir por 36 horas. O laboratório dividiu os participantes em dois grupos: os que parecem resistentes aos efeitos cognitivos da perda de sono e os que não aguentam e praticamente se desmancham. Ela identificou 110 proteínas que se alteram significativamente no grupo mais resistente e 53 proteínas no grupo mais sonolento. “Estamos procurando fatores que fazem a pessoa se sentir pior, e os que podem servir de proteção”, diz Naidoo, professora associada da Divisão de Medicina do Sono.

Shaw, de Saint Louis, descobriu que a amilase, uma enzima que decompõe o amido, aumenta nas moscas que foram privadas de sono. Tal como os seres humanos, as moscas sonolentas não aprendem bem, e dormem mais do que de costume quando têm oportunidade.

No experimento de Shaw, as moscas foram observadas num labirinto em forma de T: na esquerda havia um frasco cheio de luz (as moscas gostam da luz) que também continha quinino (as moscas não gostam do sabor amargo). Na direita havia um frasco escuro. No experimento, as moscas sonolentas nunca aprendiam a superar sua atração pela luz para evitar o quinino e ir para a direita em vez da esquerda.

O problema da amilase como biomarcador é que há múltiplos fatores que afetam seus níveis. “Se você comer um sanduíche, o nível sobe”, diz Shaw. “Vamos precisar de todo um painel de marcadores, cada um dos quais, sozinho, é impreciso.”

Em paralelo, os pesquisadores estão trabalhando em outras formas de identificar a sonolência antes que a pessoa fique tão prejudicada que possa entrar numa situação perigosa. Em alguns estudos pequenos, Edward Haeggstrom, professor de física aplicada da Universidade de Helsinki, na Finlândia, descobriu que as alterações no equilíbrio podem prever há quanto tempo a pessoa está acordada. “Quanto mais tempo a pessoa passa acordada, mais ela balança. E são oscilações maiores, com menos controle”, diz o dr. Haeggstrom. Ele diz que começou a se interessar pela relação entre a sonolência e o equilíbrio quando fez serviço militar na Finlândia, nos anos 1990. Ele notou que os soldados sonolentos balançavam quando estavam em formação.

Há mais evidências para a relação entre a sonolência e a velocidade com que piscamos os olhos. À medida que a pessoa vai ficando mais sonolenta, vai fechando as pálpebras mais devagar. Muitos estudos já concluíram que essas piscadas lentas podem prever com precisão quando alguém está sendo prejudicado pela sonolência.

Alguns empresários já estão usando essa ciência em produtos reais. A Optalert Ltd. de Melbourne, Austrália, desenvolveu óculos equipados com um sensor infravermelho que mede continuamente a posição e a velocidade das pálpebras. Com essas informações, o aparelho dá aos clientes, como empresas de mineração e de transporte por caminhão, uma pontuação para cada motorista, em tempo real.

Qualquer nota acima de 5 sobre 10 significa que “a pessoa não esta em condições de dirigir”, diz Murray Johns, fundador e diretor da Optalert e seu principal cientista. A empresa planeja lançar um modelo personalizado para os motoristas nos próximos dois anos.

Algumas fábricas de automóveis, como a Mercedes e o Lexus da Toyota, estão acrescentando recursos que, segundo elas, podem ajudar o motorista sonolento. A tecnologia “Attention Assist” (Assistente de Atenção) da Mercedes percebe os movimentos do volante e a posição do motorista, por meio de um sensor na coluna de direção.

Se a cabeça do motorista ficar muito tempo apoiada no encosto do banco, ou se houver movimentos irregulares de direção, por exemplo, soa um alarme e aparece no painel a mensagem “Hora de fazer uma pausa?”, com a imagem de uma xícara de café.

Fonte: Andrea Petersen, WSJ, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.