Com Concórdia, Furlan estreia no mercado
O ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, herdeiro de uma das famílias que fundaram a Sadia, está estreando no mercado financeiro com sua própria corretora de valores. Em sociedade com o filho mais novo, Luiz Gotardo Furlan, e o genro Caio Weil Villares, Furlan comprou da própria família o controle da corretora Concórdia.
A mudança de titularidade foi aprovada pelo Banco Central em 5 de outubro. A corretora Concórdia, junto com o Banco Concórdia, eram controlados por uma holding que, por sua vez, era controlada pela Sadia.
Na fusão com a Perdigão, que criou a BRF Brasil Foods, as instituições financeiras ficaram fora da transação. No início do ano, o banco foi vendido para o Rendimento, do empresário Abramo Douek, pouco depois de obter licença do BC para operar.
Em entrevista ao Valor, o ex-ministro disse que entrou apenas como “sócio capitalista” no negócio e que a operação estará a cargo do genro e do filho.
Furlan deixou o Ministério do Desenvolvimento em março de 2007, depois de cinco anos à frente da pasta. Em outubro de 2008, ele foi chamado pelos acionistas da Sadia para ajudar a encontrar uma solução para a empresa que havia perdido R$ 2,6 bilhões com operações de derivativos devido à crise financeira internacional.
Equacionado o problema, após a fusão com a Perdigão, Furlan continuou como copresidente do conselho da BRF e diz que pretende seguir com suas outras várias atividades: ele é presidente da Fundação Amazonas, faz parte do conselho de administração da Telefónica na Espanha, do “global board” da Panasonic e da Agco, nos EUA controladora da fabricante de máquinas agrícolas Massey Ferguson, na Georgia. No Brasil ele é integrante do conselho da Amil e da Redecard. “Meu dia a dia é bastante sortido”, brincou.
Caio Weil Villares explicou que o objetivo da compra da Concórdia foi aproveitar “o bom momento” da economia brasileira e expandir os negócios. “A Concórdia sempre teve tradição em fundos tradicionais, renda fixa, inclusive recebeu vários prêmios, por isso e nós temos o objetivo de ampliar a oferta de produtos para nossos clientes”, afirmou Villares, também herdeiro de uma família famosa, a que controlava a siderúrgica Aços Villares.
Com essa estratégia em vista, a Concórdia acaba de fazer uma parceria com a corretora Local Invest, do administrador Luiz Fernando Pessoa, executivo com passagem por várias instituições financeiras, entre elas o Banco Arbi que ele ajudou a reestruturar no início da década. “É uma parceria que vínhamos analisando há seis meses, com limites bem definidos”, diz Pessoa. “Nós vamos ser gestores e a Concórdia vai administrar e distribuir.”
A ideia é lançar fundos de investimentos focados na economia real, principalmente os setores de educação, entretenimento e a cadeia produtiva do óleo e gás, explicou o sócio fundador da Local Invest.
Segundo Caio Villares, a Concórdia também tem uma estratégia para o varejo, aproveitando o expressivo crescimento do home broker, pelo interesse das pessoas físicas no mercado de ações. Para isso, a operação de home broker está sendo modernizada com “novas ferramentas para aumentar a eficiência”, explicou Villares. “A Concórdia tem uma diversificação grande de clientes institucionais e pessoas físicas, a ideia é focar em pessoas físicas que vão ser o grande crescimento daqui por diante”, afirmou o executivo.
Dentro da parceria com a Local, três fundos de investimentos estão sendo estruturados: um Funcine, um Fundo de Investimentos em Participações (FIP) no setor de ensino e um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC), modalidade na qual a Concórdia foi pioneira cerca de seis anos atrás, ao montar carteiras de recebíveis para financiar os fornecedores da Sadia. Hoje ela administra cerca de R$ 3,5 bilhões em recursos sendo R$ 2,4 bilhões em FIDCs. “Temos uma asset bem representativa, queremos aproveitar para avançar em fundos de crédito um pouco mais agressivos, fundos de participação, e avançar na gestão de FIDC, e a Local vai nos ajudar a fazer isso”, disse Villares.
Fonte: Janes Rocha, Valor Economico