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‘Cai risco de quebra de banco europeu’

O risco de quebra de banco tipo Lehman Brothers na Europa diminuiu bastante desde dezembro, mas restam vulnerabilidades no setor bancário europeu e não “é bom banco privado depender exclusivamente do dinheiro do banco central”.

Foi o que afirmou ontem o presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), uma espécie de xerife das finanças globais, Mark Carney, que é também presidente do Banco Central do Canadá, em entrevista ao Valor.

Carney substituiu em novembro a Mario Draghi na presidência do FSB, quando o italiano assumiu o comando do Banco Central Europeu (BCE). Sua tarefa é trabalhar para evitar a repetição da crise financeira de 2008.

Educado nas universidades de Oxford e Harvard e ex-banqueiro do Goldman Sachs, Carey, de 46 anos, trabalhou em Londres, Tóquio e Nova York e também no ministério de finanças canadense. E está em posição particularmente confortável porque o Canadá se destacou na crise pelas duras reformas, que preservaram seus bancos, como também no Brasil.

Na entrevista, ele considerou que a evidência mesmo no momento é de que crise na zona do euro é um aspecto central da vulnerabilidade do sistema financeiro global. Mas que desde dezembro as autoridades europeias começaram a tomar medidas importantes. E para a estabilidade financeira no curto prazo, o fornecimento de liquidez bilionária pelo Banco Central Europeu (BCE) “tem sido uma iniciativa muito importante”.

O BCE emprestou em dezembro € 489 bilhões para mais de 500 bancos em operação, pela primeira vez, de três anos, com taxa de apenas 1% ao ano. “Essa ação afasta o risco de crise de liquidez de um banco europeu”, disse Carney. Além disso, notou que os bancos do velho continente têm ainda colateral (garantias) que se contam em trilhões de euros, e que podem usar para obter mais liquidez junto ao BCE.

No entanto, o xerife das finanças nota que a situação continua difícil na Europa. “Não é uma boa coisa que um banco privado dependa exclusivamente do banco central. Há ainda esse processo de desalavancagem de bancos europeus, que reduz a concessão de credito à economia real”.

Para Carney, os europeus precisam se concentrar na situação da Grécia. Considera que as negociações do país com bancos credores são muito delicadas e o resultado “poderia ser determinante para a estabilidade financeira mundial”. Se positivo ou negativo, dependerá do pacote final.

Ele insiste que um acordo de reestruturação da dívida grega precisa ter credibilidade para baixar a dívida a um nível sustentável, como os 120% em relação ao PIB, no mínimo, como as autoridades europeias tentam obter como compromisso.

Ele aponta duas maneiras de fazer o acordo ser sustentável para os gregos: com maior “haircut” ou corte acima de 50% da dívida em mãos dos bancos privados ou com participação do setor público – o que implica que o Banco Central Europeu também sofra prejuízo. “Eu não estou dizendo que o setor público deveria participar”, reitera Carney sorrindo, evitando apoiar a demanda do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesse sentido.

Sempre de olho na estabilidade financeira, o xerife das finanças considera também desejável que o fundo conjunto europeu de socorro amplie sua capacidade combinada (dos fundos atuais EFSF e ESM, nas siglas em inglês) para €1 trilhão, o dobro dos recursos previstos para evitar contágio da crise – mas é algo que a Alemanha, no comando da Europa, resiste no momento.

Carney deixou claro que o Acordo de Basileia 3, que exige capital adicional dos bancos, não será flexibilizado, como pedem bancos europeus e americanos em meio à deterioração econômica global.

“É equivocado falar que a regulação complica a situação”, disse. “Os bancos europeus estão subcapitalizados em qualquer padrão, com geração de liquidez insuficiente, daí porque dependem do BCE”, afirmou.

O que ocorre, a seu ver, é que desde a crise de 2008 os bancos europeus fizeram uma recapitalização “relativamente modesta”, com algumas exceções. E isso não é a situação de outros países, cujos bancos estão capitalizados e em melhor posição.

“As regras de regulação se aplicam em todo lugar. E para aquelas economias que não têm sofrido crise, como a canadense, brasileira e australiana, são três exemplos, você acha que tem problema de oferta de crédito? Tem problema de credito no Brasil? Não acredito. No Canadá também não. O problema na Europa começou com capitalização insuficiente”, acrescentou.

A posição firme de Carney levou banqueiros como o presidente do J.P. Morgan, Jamie Dimon, a atacá-lo duramente, insistindo no “atraso” de exigências adicionais de capital para os bancos.

As respostas de Carney têm sido de apontar “confusão deliberada das consequências de desalavancagem global com reforma financeira”.

Como em Davos todo mundo acaba se encontrando, ontem, horas depois da entrevista ao Valor Carney e Dimon conversavam em pé na entrada do Café Vip no Fórum Econômico Mundial. E pelo que o Valor pôde ouvir, o tema era a implementação da regulação bancária.

Fonte: Assis Moreira, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.