BC amplia em 120 dias prazo de inquérito do banco Cruzeiro do Sul
O BC (Banco Central) prorrogou em 120 dias o prazo da investigação sobre as contas do banco Cruzeiro do Sul, que foi liquidado em setembro com um rombo contábil de R$ 3,1 bilhões. A decisão vale a partir de 28 de outubro (domingo) e foi publicada no “Diário Oficial da União” desta segunda-feira (29).
Além da ampliação do prazo, o nomeou Paulo Cesar Fernandes da Silva, analista da instituição, como relator do processo.
Na semana passada, a PF (Polícia Federal) prendeu Luis Octavio Indio da Costa, ex-presidente do Cruzeiro do Sul, por suspeita de crimes contra o sistema financeiro, crimes contra o mercado de capitais e lavagem de dinheiro.
O pai de Luis Octavio, Luis Felippe Indio da Costa, também suspeito dos crimes, está em prisão domiciliar desde a semana passada, em sua residência no Rio de Janeiro.O banqueiro está preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) 3 de Pinheiros, na av. das Nações Unidas, 12.230, em São Paulo. Ele foi encaminhado para o “Cadeião de Pinheiros, como o local é conhecido, na terça-feira passada (23), um dia após sua prisão.
Caso sejam indiciados e condenados, os banqueiros podem pegar entre um e 12 anos de prisão.
R$ 1 BILHÃO NO EXTERIOR
Segundo técnicos que acompanham as investigações conduzidas pela PF, as fraudes que levaram o banco à liquidação podem ter alimentado em até R$ 1 bilhão contas no exterior em nome dos controladores da instituição.
As autoridades afirmam que eles têm contas em paraísos fiscais e suspeitam que elas foram alimentadas por desvios de recursos do Cruzeiro do Sul.
De acordo com a sentença do juiz Márcio Catapani, que decretou a prisão preventiva dos dois banqueiros, “há fatos concretos que demonstram terem os investigados agido com a intenção de subtrair bens à ação do Estado e pô-los a salvo de eventuais medidas determinadas”.
Os Indio da Costa respondem por um esquema de fraudes que levaram não somente a um rombo de R$ 2,2 bilhões, mas a um prejuízo ainda não contabilizado ao sistema financeiro.
Eles são acusados de um esquema de desvios de ativos iniciado em 2009 que abrangia as principais áreas do banco, principalmente a oferta de crédito consignado e fundos de investimento, e suspeitos de manipular as ações do banco para gerar lucros que não existiam –e foram embolsados.
INQUÉRITO POLICIAL
O inquérito foi instaurado em junho deste ano, após o Banco Central constatar fraudes contábeis e indícios de operações de crédito fictícias no Cruzeiro do Sul.
Segundo a PF, foram detectadas outras condutas criminosas em fundos de investimento, que deixaram como vítimas dezenas de investidores, ao longo da investigação.
Antes de liquidar o banco, o BC nomeou o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) como interventor, com a missão de encontrar um comprador para o Cruzeiro do Sul e de negociar com os credores.
O fundo chegou a propor um “perdão” de 49% da dívida para os credores, mas a operação não foi adiante pela falta de um comprador para o banco.
VENDA EMPERRADA
A venda foi inviabilizada por uma série de questões legais e comerciais. O negócio de crédito consignado já não atrai os grandes bancos, que podem fazer esses empréstimos com menor custo nas agências.
O comprador teria também de trazer pelo menos R$ 700 milhões ao Cruzeiro do Sul.
O que mais interessava era um crédito tributário, que poderia chegar a R$ 1 bilhão, mas esse crédito foi calculado com base em empréstimos que são contestados.
COBERTURA DO FGC
Segundo o BC, cerca de 35% dos depósitos do banco contavam com garantia do FGC. O fundo cobre CDBs em até R$ 70 mil por CPF e até R$ 20 milhões para as aplicações que contam com seguro especial (o DPGE).
Com a liquidação, o banco deixou de funcionar operacionalmente. As unidades do Cruzeiro do Sul foram fechadas, e a maioria dos funcionários, dispensada. As ações perderam todo o valor e deixaram de ser negociadas na Bolsa de Valores.
O trabalho em curso do liquidante é fazer um inventário de tudo o que pode ser vendido e convertido em dinheiro para pagar os credores. Os primeiros a receber são os funcionários.
FESTAS EM COTIA
Antes da crise do Cruzeiro do Sul, o banqueiro Luis Octavio ficou conhecido pelas festas dadas a até mil convidados em sua casa na Granja Viana, em Cotia (a 31 km de São Paulo).
Em 2009, ele patrocinou um show com cantor americano Tony Bennett em comemoração dos 15 anos do banco e um concerto com o britânico Elton John na Sala São Paulo.
Ex-namorado de Daniella Cicarelli, o banqueiro de 49 anos exibia estilo de vida milionário antes de sua prisão. Divorciado, vivia rodeado de belas mulheres.
Fonte: Folha de S.Paulo com Reuters