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BVA ampliou depósitos e capital com concessão de empréstimos

Especializado em conceder empréstimos a empresas de médio porte, o Banco BVA, que está sob intervenção do Banco Central desde o dia 19, tem essas mesmas companhias como credoras da instituição. O procedimento, usado pelo banco para garantir os financiamentos concedidos e aumentar a base de depósitos, pode dificultar o processo de cobrança dos empréstimos caso a instituição seja liquidada.

O BVA tinha como prática conceder empréstimos de longo prazo a empresas novatas ou com alto perfil de risco, segundo fontes que analisaram a carteira da instituição. O crédito era concedido na forma de Cédulas de Crédito Bancário (CCB) ou Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI), posteriormente vendidas a terceiros no mercado.

Em contrapartida, o banco exigia que parte do valor financiado permanecesse na instituição como garantia da operação em caso de calote. Assim, o BVA conseguia ampliar sua base de depósitos ao mesmo tempo em que abria espaço no balanço para conceder novos financiamentos.

Além de deter posições em certificados de depósito bancário (CDB) do BVA, algumas empresas aparecem como credoras de debêntures de companhias usadas para capitalizar o banco, segundo documentos obtidos pelo Valor.

Foi o que aconteceu com a Canabrava, destilaria de etanol com sede em Campos, no Rio. A empresa financiou a construção de usinas por meio de CCIs estruturadas pelo BVA, no valor de pouco mais de R$ 60 milhões.

Com os recursos da conta-garantida que a Canabrava tinha no BVA, foram adquiridos R$ 16,5 milhões em debêntures da BVA Empreendimentos – holding que, na época, controlava o banco e foi cindida no ano passado.

A cisão da BVA Empreendimentos foi um dos passos da reestruturação societária feita para capitalizar o Banco BVA. As debêntures emitidas pela holding fazem parte, hoje, do passivo da VilaFlor, controladora do banco.

Procurada pelo Valor, a Canabrava não comentou o assunto. Fonte próxima à empresa afirmou que os recursos foram usados para a compra das debêntures sem o conhecimento da empresa e só foram estornados depois que a companhia pediu.

No fim da tarde de ontem, um interlocutor da empresa que não quis ser identificado mudou a versão. Segundo essa fonte, as debêntures foram adquiridas com o consentimento da companhia, por meio de um “fundo de liquidez” que ela mantinha no BVA em contrapartida às CCIs. A operação com as debêntures foi liquidada.

Do total de CCIs da Canabrava, cerca de R$ 56 milhões ainda estão no mercado, nas mãos de fundos de pensão, e vencem entre 2018 e 2019. A usina tem negociado a conversão das cédulas em cotas de um fundo de investimentos que tem participação na empresa.

Analistas veem semelhança entre esse tipo de operação e a prática adotada pelo Banco Santos, que quebrou em 2005. Na época, várias empresas que tinham débitos no Santos questionaram a cobrança, sob o argumento de que também detinham créditos contra a instituição.

Caso o mesmo ocorra com o BVA, os investidores que hoje estão com os papéis originados pelo banco poderão sofrer perdas. Embora os financiamentos concedidos fossem direcionados a empresas com baixa qualidade de crédito, os títulos de crédito receberam boa classificação das agências de risco porque contavam com coobrigação da instituição, segundo o executivo de uma fundação que possui papéis originados pelo BVA. Até agosto passado, o banco tinha nota acima do patamar de grau de investimento das agências Austin e LF Rating.

Pelo menos duas outras empresas que emitiram CCBs por meio do BVA também aparecem entre os credores da VilaFlor.

A Air Conditioning Total Service, que instala sistemas de ar-condicionado, captou R$ 32 milhões em duas séries de CCBs emitidas em 2011 e com prazo de quatro anos. Paralelamente, a empresa figurava como detentora de R$ 3,1 milhões em debêntures. “As operações foram feitas dentro da normalidade e com o meu conhecimento” disse ao Valor dono da Air Conditioning, Ademir Barchetta.

Procurados pelo Valor, os ex-administradores do BVA afirmaram por meio da assessoria de imprensa que as operações são regulares e foram feitas com o conhecimento dessas empresas.

Outras companhias que têm debêntures da VilaFlor são a Venice Veículos e Peças, concessionária de veículos, a B Rio Locação de Equipamentos e Serviços. Nenhum porta-voz delas foi encontrado para comentar o assunto.

Por fim, consta entre os detentores da VilaFlor, com R$ 32,4 milhões em debêntures, a Cartagena Participações, veículo usado na capitalização do Banco BVA. As informações se encontram no laudo de avaliação dos ativos da BVA Empreendimentos, usado para balizar a cisão. O documento é de 23 de novembro do ano passado.

Fonte: Valor

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.