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Bancos calculam prejuízos em caso de “default” da Grécia

imagesCAJ0U9O6Os mercados financeiros estão calculando um fator até aqui impensável. Preocupados com a possibilidade de que a Grécia possa renegociar sua dívida, os investidores estão avaliando o provável impacto dessa medida sobre os bancos europeus que detêm os bônus do país. Alguns deles, como ficou patente, podem estar expostos a bilhões de euros em prejuízos.

A questão de quem se daria mal na possibilidade de os detentores de bônus da Grécia terem de dar seus investimentos como perdidos adquiriu uma premência adicional num momento em que os analistas consideram diferentes cenários para o caso de a Grécia não conseguir voltar aos mercados de bônus no ano que vem. Entre esses cenários estão uma renegociação voluntária, ou suave, da dívida grega, e uma reestruturação dura, que forçaria os detentores de títulos a assumir prejuízos, dando como perdido o valor dos bônus do governo grego.

“O foco do mercado se deslocou para a questão da renegociação da dívida, para a forma que ela poderá tomar e para como os prejuízos poderão ser contabilizados”, disse Philip Finch, analista do setor bancário do UBS. Estimativas de analistas, baseadas nos relatórios corporativos trimestrais e em dados dos testes de estresse do sistema bancário pan-europeu, realizados de junho a setembro de 2010, mostram – talvez sem causar estranhamento – que os bancos gregos são os mais expostos aos títulos de seu país. Eles detêm € 72 bilhões, ou 22% do total de€ 330 bilhões em papéis em circulação, diz o UBS. Fora da Grécia, no entanto, grandes bancos de França, Alemanha e Bélgica também apresentam uma exposição considerável.

Huw van Steenis, do Morgan Stanley, estima que o BNP Paribas da França é, individualmente, o banco de maior exposição à dívida grega entre as instituições financeiras estrangeiras, com cerca de € 5 bilhões em bônus em seus livros contábeis.

Uma baixa contábil de 50%, ou “haircut”, como é conhecido em inglês o presumível abatimento incorrido pelo valor de mercado de um ativo, sobre o valor dos bônus da Grécia – percentual tido como possível por alguns comentaristas -, custaria ao BNP € 1,7 bilhão, segundo cálculos do Morgan Stanley.

No caso do banco franco-belga Dexia, sua exposição de € 4,9 bilhões representa consideráveis 54% do valor patrimonial líquido tangível do banco, estima o Morgan Stanley. Um “haircut” de 50% levaria o grupo a arcar com um prejuízo de € 1,3 bilhão.

O Commerzbank, da Alemanha, e o Société Générale, da França, também estão expostos. Cada um detém cerca de € 3 bilhões de títulos soberanos da Grécia. No total, os bancos não gregos mantêm 11% dos papéis gregos em circulação, diz o UBS. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os países europeus que participaram da operação de socorro financeiro do ano passado à Grécia têm exposição semelhante, segundo o banco suíço. Em vista disso, por que os mercados não estão mais alarmados com relação ao impacto de uma renegociação da Grécia sobre os grupos financeiros europeus? Em poucas palavras, os investidores estão esperançosos de que o impacto sobre os bancos, embora doloroso, será administrável.

Baudoin Prot, principal executivo do BNP, disse ao “Financial Times” que o impacto de uma renegociação por parte da Grécia sobre o seu banco será “restrito”.

“Não estou dizendo que será pequeno, apenas que poderemos enfrentá-lo”, declarou Prot.

Os altos executivos dos bancos dizem que o que preocupa as autoridades da área econômica não é tanto a própria renegociação, mas o risco mais amplo de contágio e o precedente que um calote da Grécia fixaria. “Uma inadimplência da Grécia será dolorosa e, sem dúvida, sacudirá a zona do euro, mas será administrável”, diz Bill Blain do grupo financeiro NewEdge. “O perigo é assistirmos à disseminação da crise.”

Para atenuar essas preocupações, os investidores e estrategistas dizem que uma renegociação suave, que poderia ser voluntária e envolver a prorrogação dos vencimentos dos títulos, seria uma maneira relativamente indolor de administrar os problemas da dívida da Grécia. Ela teria pequeno impacto sobre os bancos expostos, que detêm a maior parte de seus títulos gregos nos chamados “livros de custódia até o vencimento” e que não têm de reajustá-los pelo valor de mercado.

Além disso, depois da operação de ajuda financeira à Grécia, no ano passado, a exposição aos papéis do país migrou dos bancos para as instituições públicas. Os governos europeus e o FMI detêm atualmente 11% da dívida da Grécia, diz o UBS.

Estima-se que o Banco Central Europeu (BCE) deva manter 20% dela por meio de compras diretas de bônus da Grécia, o que o torna o segundo maior investidor no país. Ampliar a exposição do banco central de modo a considerar suas operações de liquidez financeira resulta num quadro mais problemático.

Analistas do J.P. Morgan estimam que a inclusão dos empréstimos do BCE aos bancos gregos eleva sua exposição nominal para cerca de€ 200 bilhões. Usando esse dado, eles calculam que o BCE poderá suportar um “haircut” de até 30% antes de registrar prejuízos. “Uma hipotética renegociação da dívida pela Grécia que ultrapasse esse ‘haircut’ seria prejudicial, principalmente se a Irlanda seguir o exemplo do país”, disse o J. P. Morgan. Os bancos helênicos vêm reforçando sua carteira de bônus do governo grego e de ativos avalizados pelo governo para usá-los como garantia das operações de renegociação do BCE. Eles tomaram cerca de 91 bilhões de euros no final de fevereiro. Segundo o J. P. Morgan, aproximadamente 77% das garantias registradas no BCE pelos bancos gregos são do governo ou avalizadas pelo governo, e serão comprometidas por uma renegociação.

Para os bancos gregos, um “haircut” de 50% numa renegociação dura levará a um prejuízo de cerca de € 25 bilhões, diz o J.P. Morgan, o que deixaria um patrimônio de apenas 4 bilhões para respaldar o sistema bancário grego. As finanças da Grécia sofrerão metade desse prejuízo se a reestruturação ocorrer em meados de 2013, quando o novo mecanismo de estabilidade europeu entrar em vigor. O momento pode ser importante. (Colaborou Stanley Pignal)

Fonte: Tracy Alloway, Megan Murphy e David Oakley, Financial Times, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.