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Virada da Japan Airlines pode ‘iluminar’ outras empresas

A lavanderia da Japan Airlines Co. ainda passa os uniformes da tripulação, mas as camisas brancas ficam por conta dos tripulantes. E os mecânicos da JAL no aeroporto de Haneda reutilizam suas sacolas de lanche para carregar peças pequenas, economizando entre 7 a 11 ienes, cerca de R$ 0,30, por sacola.

“Nós conseguimos reduzir os custos em 60 milhões de ienes [cerca de US$ 750.000] neste hangar ano passado”, diz o mecânico Shinichi Shimotori, que está há 26 anos na JAL.

A mudança para uma cultura de economia na orgulhosa e outrora pródiga empresa aérea japonesa — parte de um programa formal chamado “Filosofia JAL” — está contribuindo para uma das viradas mais drásticas na história da aviação.

Menos de três anos atrás, a JAL pediu concordata sob uma dívida de US$ 30 bilhões, no maior caso de fracasso empresarial do Japão. Em setembro, a JAL planeja relançar suas ações na bolsa, numa ambiciosa oferta pública de US$ 6 bilhões. E ela já está abrindo novos voos de longa distância.

O ressurgimento da JAL poderia servir de modelo para algumas empresas japonesas em dificuldade, em parte por ter conseguido superar o tradicional estigma japonês em torno das concordatas. A recuperação deve também transformar o mercado de viagens, à medida que a JAL fortalece sua parceria com a American Airlines, da AMR Corp. “Algumas tarifas transpacíficas foram incrivelmente baixas na última década”, diz Will Horton, da Capa Centre for Aviation, uma firma de análise do setor. “Isso agora pertence ao passado.”

A AA e a JAL aprofundaram sua relação, com aprovação das autoridades de defesa da concorrência, e agora estabelecem conjuntamente horários de voos e preços de passagens e dividem a receita dos voos entre os EUA e o Japão.

A recuperação da JAL não deixa de ser polêmica. A empresa recebeu um perdão especial de dívida de US$ 6 bilhões apoiado pelo governo, um empréstimo de US$ 4 bilhões de um fundo financiado com dinheiro público e isenções de impostos que ainda se prolongarão por anos e que irritaram tanto as concorrentes quanto os críticos das políticas do governo. Os aposentados e empregados também aceitaram cortes nas suas pensões que chegaram a 30% para aposentados e 50% para os funcionários atuais.

Outrora um símbolo da recuperação econômica do Japão pós-guerra, a JAL declinou junto com o próprio país nos últimos 20 anos. Agora, porém, a empresa está ditando o ritmo da indústria mundial de aviação com uma margem de lucro operacional de 17%, duas ou três vezes maior que as das suas concorrentes no resto do mundo.

Este ano, a JAL inaugurou sua primeira rota de longa distância desde a concordata usando os recém-adquiridos jatos 787 da Boeing Corp., que são mais baratos de operar, para voos diretos entre Tóquio e Boston. Outra rota, para San Diego, deve entrar em operação em dezembro.

O mercado americano é crítico para o futuro da JAL, que só tem um voo diário para o Brasil, conectando Tóquio a São Paulo via Nova York.

Os críticos da JAL, notavelmente o líder da concorrente All Nippon Airways Co., dizem que a recuperação tem menos a ver com competência gerencial do que com a interferência do governo em favor da JAL. Reforma real, dizem eles, seria ter deixado a JAL afundar ou nadar por conta própria. “Será que nós podemos realmente nos tornar competitivos mundialmente se nós tivermos duas aéreas idênticas no mercado japonês?”, diz Shinzo Shimizu, vice-presidente sênior da ANA.

Kazuo Inamori, o executivo de 80 anos que comandou a virada da JAL, diz que a recuperação não só é real, mas possivelmente oferece um modelo para outras empresas grandes e ineficientes. “Eu espero poder iluminar o caminho para outros”, disse Inamori ao The Wall Street Journal, na sede da JAL em Tóquio.

Inamori, um dos últimos remanescentes de uma geração de empreendedores japoneses reverenciados como o fundador da Sony, Akio Morita, e o lendário Soichiro Honda, foi convencido por amigos do partido governante do Japão a assumir o leme da empresa em 2010. Ele também se tornou um monge budista e escreveu vários livros de liderança corporativa.

Na JAL, os ensinamentos de Inamori tomaram a forma de um livreto de 125 páginas chamado “Filosofia JAL”, distribuído para todos os 32.000 empregados que ficaram na empresa.

Um dos principais eventos na sede da JAL consiste numa reunião entre Inamuri e cerca de 80 altos executivos. Eles examinam por três dias cada linha do orçamento. Muitos dizem ter sentido na pele as críticas de Inamori, seja por não atingir as metas ou porque traçaram objetivos que ele considerou fáceis demais.

Ainda há alguns céticos na companhia. Apesar de o principal sindicato, que representa 70% dos funcionários sindicalizados, apoiar amplamente a direção da empresa, uma coalizão de outros cinco afirma que a aérea foi injusta com seus membros nas relativamente poucas, 165, demissões que efetuou.

A JAL afirma que, mesmo depois de tentar cortar custos através do congelamento de pensões, não pôde evitar demitir funcionários.

Durante sua restruturação, a JAL eliminou cerca de um terço da sua força de trabalho e cortou seus custos operacionais pela metade. Ela cortou 16.000 vagas, mas a maior parte disso não foi com demissões, mas com a venda de unidades da empresa e aposentadorias voluntárias.

A JAL não divulgou um demonstrativo detalhado dos seus cortes de custo. Funcionários da empresa dizem que apenas pouco mais de 20% do 1 trilhão de ienes economizados entre os anos fiscais terminados em março de 2009 e março passado podem ser atribuídos a cortes de vagas. Cerca de 27% vêm de economias de combustível, ajudadas pela aposentadoria de jatos antigos. A maior parte do resto é devida a custos menores de depreciação, também consequência da eliminação de aeronaves mais velhas.

No trimestre entre abril e junho de 2011, a JAL já estava no azul, com sua margem operacional em 6,7% e subindo. Foi uma notável reviravolta em menos de dois anos: no último trimestre em que a empresa divulgou resultados antes de entrar em concordata, de outubro a dezembro de 2009, ela registrou um prejuízo de 25 bilhões de ienes.

Uma questão que paira sobre o futuro da JAL é a da aposentadoria de Inamori, que ele prometeu para o início do ano que vem. Em janeiro passado, ele nomeou seu sucessor, Yoshiharu Ueki, de 59 anos, um carismático ex-piloto que terá o desafio de controlar custos nos próximos anos enquanto a JAL se prepara para investir em aviões novos.

Com tanto a aprender num tempo tão curto, Ueke brinca: “Francamente, no momento eu não estou gostando muito da posição”. Mesmo assim, diz ele: “Começo a ver uma luz.” (Colaborou Susan Carey, de Chicago.)

Fonte: KENNETH MAXWELL e YOSHIO TAKAHASHI, WSJ, Valor

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.